O Ballet Tradicional Kilandukilu, em Luanda, está a trabalhar na estruturação do seu grémio, de modo a alargar as suas acções e projectos no domínio das artes, informou ao OPAÍS Maneco Vieira Dias, presidente da Companhia
Aintenção, segundo o responsável, é auxiliar os artistas no exercício das suas actividades e promover o ensino da arte, nas suas mais disciplinas artísticas.
No quadro desta estruturação, a Companhia criou a Associação Kilandukilu Arte e Cultura, o ente para a realização das actividades das acções do grémio, que de uma maneira geral não se restringirá apenas ao Kilandukilu Dança, mas também a toda uma série de componentes que estão a ser produzidos.
O responsável referiu que, neste caso particular, a preocupação da direcção, vai além daquilo que são os conhecidos gastos, uma vez que trazem ainda outras componentes que possam ajudar outros artistas.
“Já criamos a Associação Kilandukilu Arte e Cultura e vai ser o nosso ente para a realização daquilo que serão as acções da Companhia, que de uma forma geral não passará apenas pela dança”, disse Maneco.
Ainda no quadro desta estruturação, Maneco Vieira Dias ressaltou o surgimento em breve da Academia Kilandukilu, que também dedicar-se-á ao ensino da arte angolana.
O responsável sublinhou que a referida academia contará com um elenco um pouco mais alargado para responder à demanda nas secções que comportará nos domínios da música, do ensino, da Galeria Kilandukilu, entre outros.
Referiu que o grémio está a trabalhar arduamente para que se consiga, a médio prazo, publicar um livro que não só retratará a História do Ballet Tradicional Kilandukilu, mas também trará outras componentes que poderão servir de estudo e de ajuda para quem queira fazer parte.
Questionado quanto à data do lançamento da obra, Meneco afirmou que a Companhia está a tratar de alguns detalhes complementares para poderem fazer chegar a informação na data precisa e o local a apresentar.
“Estamos a dar tratamento a todo o processo e, tão logo tenhamos algumas situações ultrapassadas, anunciaremos os passos sequentes e, naturalmente, a realização de um grande sonho que é a criação da Academia Kilandukilu”, salientou o responsável.
Ainda no que ao lançamento desta academia se refere, Maneco Vieira Dias ressaltou que o processo está muito bem encaminhado e, quando chegar a altura da sua apresentação pública, terá uma percepção quanto à dimensão do que se propuseram.
O dirigente realçou que a Companhia continuará a envidar esforços até onde puder para deixar o seu legado às novas e às futuras gerações, com testemunhos escritos, vídeos e áudios, uma vez que o Ballet Tradicional Kilandukilu, além da dança que toda gente conhece, também tem músicas originais e já está a trabalhar para a produção do seu disco.
Cultura angolana além-fronteiras
Indagado quanto à forma como é divulgada a Cultura Angolana no exterior, Maneco Vieira Dias afirmou que é representada pela Dança Folclórica, o Semba, a Kizomba e por outras actividades a ela associadas, pela representação do Ballet Tradicional Kilandukilu, na Europa e América, sob coordenação do Mestre Petchú.
Recordou que, no quadro da sua estrutura funcional, o Ballet Tradicional Kilandukilu tem estado, a partir das suas representações em Portugal, no Brasil e noutros quadrantes internacionais, a divulgar muito bem a nossa diversidade cultural, e destacou o surgimento de diversas escolas de danças angolanas nesses países como um feito a registar.
Não obstante a sede situar-se em Luanda, as representações na Europa e América, Maneco realçou que todas elas, são coordenadas por Mestre Petchú, sob sua orientação do presidente do grémio a partir da capital do país. Trata-se de um feito que, segundo o nosso interlocutor, ganhou notoriedade nos referidos territórios.
Escassez de recursos apoios inibem acções da companhia
Maneco realçou que, apesar de todas as situações e dificuldades pelas quais têm passado, a Companhia não faz regredir e continua a trabalhar para inverter o actual quadro.
Referiu que muitas vezes, a ideia que as pessoas têm sobre o Kilandukilu é que, por ser um dos mais antigos e mais representativos na arte da Dança Tradicional em Luanda, tem melhores condições que os outros e um tratamento especial, enquanto este não se difere dos outros colectivos.
“Gostaríamos de poder estar melhor, mas ainda assim, são as condições possíveis que nós temos. Temos que andar atrás das coisas, no sentido de vermos resolvidas algumas situações a que nos propusemos e, estas, já deveriam ter acontecido, realçou Maneco, admitindo que o estado do Ballet Tradicional Kilandukilu não se difere do de outros grupos.
O dirigente recordou que, pelos feitos do Ballet Tradicional Kilandukilu, nestes mais de 40 anos de existência, experiência, empenho, dedicação e divulgação da Cultura Angola, por via da Dança, já teria a possibilidade de ser transformada numa instituição de utilidade pública, o que não acontece até ao momento.
Indagado quanto à continuidade desta formação artística, a volta da crise financeira que o país enfrenta, associada à falta de apoios, Maneco Vieira Dias realçou que a Dança Tradicional por si só não sobrevive sem o apoio de várias instituições, onde o estado também tem uma palavra.
“Gostaríamos muito que nos fosse dada a possibilidade de nos transformarmos numa instituição de utilidade pública para materializarmos todos os projectos que o Ballet Tradicional Kilandukilu tem previstos”, desabafou.
O responsável salientou que, apesar do Ballet Kilandukilu ser conhecido apenas pela dança, como referência, tem também outras acções que vão muito além do que muitos possam não imaginar, e impactar de forma bastante positiva, como já o têm feito ao nível social.
Salientou que, neste quesito, o Ballet Tradicional Kilandukilu já recuperou muita gente de situações difíceis e de práticas menos boas e inseriu-as na arte de vibrar, tornando-se hoje pessoas respeitadas e de renome ao nível da dança em Angola.
“O Ballet Tradicional Kilandukilu já retirou muita gente de situações difíceis e de práticas menos boas, e inseriu-as. Hoje estas pessoas são consideradas, respeitadas e de renome ao nível daquilo que é a dança neste país”, realçou.
Sobreviver com poucos espectáculos
Já no que a actividades de palco se refere, Maneco sublinhou que o Ballet Tradicional Kilandukilu continua a aderir a espectáculos e a ser resiliente no que a fontes diz respeito, de modo a sobreviver.
O responsável admitiu que vezes há em que aparece um outro elemento que os vai dando algum apoio, mas não tem sido fácil, levando-os a envidar esforços para se manterem a este seguimento.
Maneco realçou igualmente que a agremiação está a preparar uma série de acções que deverão culminar com grandes espetáculos, não só em Luanda, mas também nas outras partes do mundo, Portugal, Brasil, onde estão representados.
“É verdade que às vezes aparece um outro elemento que nos vai dando algum apoio, mas não tem sido fácil. Temos feito um grande esforço para nos mantermos neste segmento e vamos fazendo algumas actividades, graças a Deus, e isso, de alguma forma, vai fazendo com que consigamos sobreviver”, admitiu Maneco.
Não obstante os factores já referenciados, o responsável admitiu haver enormes responsabilidades ao nível da agremiação e pelo seu percurso, mas ainda assim, não têm uma sede própria. “Nós temos mais de 40 anos de existência e uma actividade ininterrupta.
São longos de estrada e os nossos encargos são altos. Por incrível que possa parecer, até agora, não conseguimos ter uma sede própria e estamos num espaço que infelizmente não é nosso. Temos encargos com os mesmos e temos que pagar mensalmente”, lamentou.
O responsável referiu ainda que a agremiação há muito tem empreendido esforços para a criação de um espaço próprio e nunca conseguiu.
“Há muito vimos lutando para a criação de um espaço próprio, e até hoje, por incrível que pareça, ainda não conseguimos obter”, desabafou, Maneco, acrescentando que já tiveram várias promessas e nenhuma delas foi cumprida. Porém, disse acreditar que tudo pode vir acontecer nos 50 anos de Independência a assinalar-se em breve.
Composição e gerações
Maneco Vieira Dias adiantou que o Ballet Tradicional Kilandukilu é constituído atualmente por 100 elementos, entre colaboradores e efectivos, em todos os sítios onde estão representados, quer em Portugal, quer no Brasil e Angola.
O responsável realçou que este número poderá multiplicar a qualquer momento, devido à criação do núcleo de crianças ao nível da referida arte.
Já no que diz respeito à adesão à dança por parte dos jovens, salientou que é maior e, a título de exemplo, referiu-se ao mais novo dançarino, de apenas 18 anos.
“Só para ter uma ideia, o nosso bailarino mais jovem fez 18 anos agora e entrou com 14. Nós, nesse aspecto, ainda continuamos a ter jovens que se interessam por aquilo que querem e gostam de fazer, mas também há uns que depois acabam por sair, porque as suas expectativas não são satisfatórias”, frisou.
Com um percurso de mais de 40 anos, já passaram pelo Ballet Tradicional Kilandukilu mais de 5 gerações, e ainda mantêmse no ativo dois fundadores, um dos quais o Mestre Petchu. “Já vamos em várias gerações e nós estamos agora a fazer o levantamento de tudo, e concluímos que passaram mais de cinco.
Mas é preciso dizer que, de todas essas gerações, ainda no activo, dois fundadores, um deles é o Mestre Petchu”.
Maneco referiu igualmente que, ao contrário daqueles que aparecem para aprender a arte de vibrar ou se enquadrarem, existem também os que chegam com a intenção de ganhar rios de dinheiro, mas, ao aperceberem-se de que não é o que imaginavam, acabam por abandonar mais tarde.
Já os que sentem um certo fascínio pela dança e admiram-na, acabam por ficar, pautando assim pela renovação, que por sinal, é uma componente importante para a Companhia e em alguns casos até determinante. “A renovação para nós é uma componente importante e em alguns casos até determinante”, disse Maneco.
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