Angola é um país com grande diversidade linguística e cultural, possui mais de 30 línguas nacionais, desde o kimbundu, o umbundu, o cokwe, o kikongo, o ngoia, o oshiwambu, o fiote, o luvale, o luchazi, o mbunda, o nyaneka, o sama, o soma, o yombe, o songo, entre outras.
As estimativas variam de 20 a 39 línguas nacionais mais veiculares. Em contrapartida, o número de falantes dessas línguas está cada vez mais reduzindo devido à fraca Política Linguística do Governo Angolano enquanto o principal órgão responsável para promover, reservar, preservar e difundir com mais expansão as línguas da terra.
A política linguística angolana privilegia o português, língua herdada pela colonização em detrimento às línguas regionais, a esse fenômeno, do ponto de vista sociolinguístico, chamamos de língua privilegiada ou variedade privilegiada, enquanto as línguas locais são chamadas de línguas de menor prestígio.
A Constituição de Angola reconhece o direito de os cidadãos usar (em) as suas línguas locais, porém este reconhecimento não basta, pois essa utilização se confina mais às comunidades rurais, às famílias, às igrejas, aos óbitos, sobretudo, é mais usada por pessoas que nasceram fora de Luanda ou estiveram em ambientes cujas línguas nacionais se faziam sentir com eficiência.
Então, quais sugestões para implementação das línguas nacionais?
Bem, muitas pessoas académicas e não só, apresentam inúmeras sugestões, hipóteses e propostas, umas eficientes, outras menos eficientes; uns sugerem que implementando nos subsistemas de ensino escolar o problema estaria resolvido, outros sugerem que excluindo o português, para, exclusivamente ficarmos com as línguas da terra, estaríamos em bons passos, e assim por diante.
A minha sugestão para aplicação das línguas nacionais vai mais além de uma perspetiva individual, mas colectiva, pois incorpora o Governo, o Cidadão, a Escola, as Instituições Gerais, etc.
Para implementação eficiente das línguas nacionais temos como sugestão:
1– O governo deve apresentar vontade política em relação às línguas nacionais, só assim teremos uma Política Linguística forte como a da África do Sul, Nigéria, RDC e companhias.
2– Elevar as línguas nacionais ao estatuto de línguas oficiais a par do português, isto é, todas as línguas nacionais mais veiculares devem ter este prestígio sociolinguístico.
3– A par do segundo ponto, as línguas nacionais devem ser “obrigatórias”. Assim como o cartão de vacina da covid-19 era obrigatório na fase da pandemia de 2020, as línguas nacionais devem ter também esta condição estatutária.
Dito de modo simples, para tratar qualquer documento seria necessário o indivíduo falar uma língua nacional em relação ao grupo bantu a que pertence.
4– As escolas devem implementar, desde o ensino primário ao superior, as línguas nacionais como disciplinas do seu currículo, porém com estatuto de cadeiras nucleares como o português e a matemática, e não como as auxiliares como laboral e desenho artístico.
5– O governo deverá trabalhar com as famílias implantando “programas bilingues ou multilingues” de modo que as crianças e jovens convivam com mais de uma língua no seu seio familiar ou comunidade, assim como acontece com a vizinha República Democrática do Congo.
6– As línguas nacionais-veiculares devem chegar à categoria de internacionalização, sendo parte da vida económica, social e política do país, por exemplo, para os outros estados de comunicar (em) com Angola teriam a necessidade de aprender um pouco de kimbundu, de umbundu, de ngoia ou outra língua nativa.
7– Com uma política linguística forte, a nossa cultura será mais enraizada e estruturada, assim, os nossos hábitos e costumes terão mais expressão, teríamos falantes das línguas da terra em todos os lados, na rua, em casa, na escola, na igreja, nos serviços e todas as actividades da vida social.
8– As mídias sociais, jornais, rádios, televisões, podcasts, etc. deverão usar as línguas nacionais, o que resultará de forma imediata na sua difusão de forma massiva.
9– Iniciativa individual: cada indivíduo deverá apresentar interesse em aprender uma língua nacional que caracteriza o seu grupo etnolinguístico. Dessarte, deve haver uma expansão macérrima das línguas nacionais através de livros, jornais, revistas, artigos, etc., * No entanto, só desta forma teríamos a problemática das línguas angolanas resolvido, e quando jogarmos no olhar, elas já terão feito parte da nossa vida social, cultural, política e econômica angolana.