Ainda vive na memória dos angolanos as primeiras informações que surgiram por parte do governador do Zaire,Adriano Mendes de Carvalho, quando, numa visita do Presidente da República, João Lourenço, à referida província, solicitou ajuda deste para se travar o contrabando de combustíveis na circunscrição.
Num gesto comovente, que deixou boquiabertos alguns presentes e os que assistiram a partir dos ecrãs das televisões nacionais, as informações avançadas indicavam para um esquema complexo, envolvendo várias entidades, mas não impossível de serem desmembrados.
Desde então, apesar de ter existido sempre, o contrabando de combustível entrou no léxico dos angolanos com uma intensidade tal, não havendo dias em que não houvesse detenções de indivíduos envolvidos e a apreensão de milhares de litros de gasolina e gasóleo.
Os números nos dias de hoje apontam para cifras assustadoras que resultariam em vários milhões de dólares norte-americanos que acabariam por escapar dos cofres do estado.
Mais do que estes valores e algumas raias miúdas detidas, a sociedade foi se preparando ao longo dos últimos meses para conhecer os tubarões que lideram o referido processo que, ao longo dos anos, contou com uma rede devidamente organizada que fazia com que o combustível rasgasse as principais estradas nacionais em direcção à república Democrática do Congo, Zâmbia e até à vizinha Namíbia.
Aliás, quando o ministro de estado e chefe da Casa militar, general Francisco Pereira furtado, se deslocou ao Zaire, na sequência da visita anterior do Presidente João Lourenço, não teve receios em avançar que figuras de proa estavam envolvidas no contrabando de combustível, entre as quais oficiais superiores das forças armadas angolanas e da Polícia nacional.
No último discurso sobre o estado da nação, o Presidente João lourenço reafirmou algumas das suspeitas que existiam, incluindo no leque de contrabandistas até mesmo políticos, deixando a sala principal da assembleia nacional completamente em silêncio. estes pronunciamentos fizeram nascer alguma esperança de que não se fosse ficar pelos comuns cidadãos que, diariamente, com um bidão de 20 litros ou um tambor de combustível, tentam passar as fronteiras para conseguir mais algum dinheiro.
Contrariamente aos que, por intermédio de camiões de grande porte e postos de abastecimento de combustível devidamente legalizados, lideram o processo, obtendo lucros fabulosos. Porém, alguns meses depois, as esperanças começaram a esmorecer, porque, a partir da própria Procuradoria-geral da república, começou-se a observar uma certa dificuldade em que se identificaram os grandes contrabandistas que há muito prejudicam os cofres públicos e deixam milhares de cidadãos sem combustível para as suas actividades laborais e familiares. nos últimos dias, o vice-procurador-geral da república e procurador militar, filomeno Benedito, voltou a tocar na mesma tecla do envolvimento de agentes públicos em redes criminosas de desvio de combustíveis para países vizinhos e outros destinos. Pena é que, até ao momento, não se consegue dizer quem são e muito menos levados à justiça.