Acompanhei com algum suspense o interesse manifestado por muitos jovens a um anúncio feito para a abertura de mais um concurso público que teve início ontem, 7 de Abril. Em causa estavam vagas em determinados ministérios, o que para muitos pressupunha, desde já, a existência de milhares de postos de trabalho.
Já no fim do dia, depois de muitos jovens se terem cadastrado, o número de vagas para alguns deles era irrisório, porque acreditavam que tal facto não era razão necessária para que se fizesse um concurso. Apesar das supostas desconfianças que muitos ainda fazem crer em processos que visam a admissão de pessoal para os serviços públicos, os concursos ainda são a melhor via para se aferir credibilidade.
Com o elevado índice de desemprego, que se diz hoje estar a rondar os cerca de 30 por cento ou mais da juventude angolana, os concursos em que acabam por não atingir uma cifra significativa destes acabaram sempre por gerar vários comentários, alguns deles menos abonatórios, assim como aumentar até o suspense daqueles que se julgam donos das referidas vagas.
Como se tem dito, não haverá por parte do Executivo – ou do funcionalismo público – capacidade para se manter como o principal empregador, à semelhança do que se observava em determinados períodos do país.
Ou seja, embora se admita que sectores como os da saúde e os da educação, por razões concretas, ainda possam admitir profissionais, devido ao número de escolas, hospitais e centros de saúde em construção, a fase das centenas ou milhares de vagas tende cada vez mais a enxugar.
Os milhares de milhões de dólares alocados a deter- minados projectos empresariais, alguns em curso, e a empresários particulares ao longo dos anos há mui- to que se tinham que repercutir já no aumento significativo de postos de trabalho a nível do sector privado, por forma a se amenizar a pressão que o Estado vai sofrendo da sociedade.
Ainda que constitucionalmente seja dever do Estado criar políticas que facilitem o sector privado a criar mais postos de trabalho, tenho a sensação a cada ano que passa que há um esforço muito grande por parte dos jovens e não só em conseguirem um espaço nas instituições públicas, abdicando, se calhar, das que possam surgir a nível privado devido às exigências e condicionalismos de quem exerce uma actividade à busca de lucros.
Depois dos primeiros inscritos ontem, era visível a frustração de quem tenha conseguido, no mínimo, inscrever-se. Mas a exiguidade de vagas já deixou alguns atirados ao tapete. Se lhes fosse perguntado se ainda acreditavam na velha máxima de que a esperança é a última a morrer, tenho sérias dúvidas de que muitos daqueles milhares que correm, por exemplo, para quatro ou cinco vagas ainda se sentissem tão confiantes, embora se saiba que a escolha deverá recair mesmo a um deles.
Vinte e três anos depois do alcance da paz e mais de 30 desde a instalação do multipartidarismo – e com uma economia que se pretende de mercado – é urgente que o sector privado conte com o apoio do Estado para se inverter o papel. Se se acrescerem aqui as oportunidades de emprego, numa altura em que se assiste a enormes movimentações na agricultura e na indústria – os concursos públicos deixarão de ser uma tortura para muitos que vêem os seus intentos gorados.