Há cerca de dois anos do fim do mandato do Presidente da República, João Lourenço, são vários os pronunciamentos que vão sendo feitos sobre um dos seus principais cavalos-de- batalha: o combate à corrupção, um dos principais males que afecta o país. Nestas alturas, são vários os prognósticos.
Assentes, fundamentalmente, naqueles que dizem que não se alcançaram os objectivos preconizados, e noutros que acreditam piamente que se fez muito neste campo.
Quando, há dias, durante a inauguração da Casa do Kwanza, o Presidente da República disse que, em momento algum, havia dito que iria acabar com a corrupção, houve quem se tivesse aproveitado deste posicionamento como uma espécie de atirar a toalha ao tapete, tendo em conta a empreitada que a referida luta exige. Mas não.
Enquanto fenómeno pernicioso, não há mesmo memória de um único país que tenha combatido na totalidade, nem mesmo naqueles em que os índices são diminutos por conta das condições económicas e sociais destes países.
Se recuarmos à impunidade existente outrora e à posição que o país se apresentava nos rankings da Transparência Internacional e de relatórios de outras organizações, concluiremos que os últimos anos permitiram melhorias, algumas das quais nos gabamos durante um certo período e mereceram a atenção dos órgãos especializados no assunto.
Tal como descrevera há anos o então Presidente José Eduardo dos Santos, a corrupção era o segundo mal depois da guerra. E nos dias que correm, não nos assustaríamos se víssemos como o primeiro, a julgar pelos casos e a forma como o próprio fenómeno é encarado. Numa sociedade em que gerir com lisura e transparência era o menos prová- vel, com a própria sociedade a condenar quem assim procedesse e não se enriquecesse.
Os passos dados exigiam também uma outra postura da própria sociedade e dos seus maiores pro- motores. Infelizmente, à semelhança de outros tempos, não voltam a escassear as informações sobre o saque até mesmo de bens públicos, só que agora com maior frequência, muito por conta do espírito de denúncia que o próprio combate à corrupção também acabou por inculcar na consciência dos cidadãos angolanos e não só.
Há quem diga que o modelo em curso não terá sido dos melhores. Apesar de toda a abertura feita, como, por exemplo, com a Lei de Repatriamento de Capitais, foram poucos os então gestores e favore- cidos no amplo processo de acumulação primitiva de capital que se predispuseram a trazer para Angola o fruto do saque de várias décadas.
E outros há que hoje fazem o mesmo e levam para os mesmos paraísos fiscais centenas, dezenas, milhares e bilhões de dólares norte-americanos . Talvez, como defendeu inúmeras vezes um amigo político, o nosso combate à corrupção exigisse algum terror, tal como na Arábia Saudita.
Porque é doloroso, hoje, ver até indivíduos que se sabe que andaram a delapidar o país se exibirem como autênticas virgens.