Franquear as portas do Serviço de Migração e Estrangeiro (SME) como funcionário passou a ser o sonho de muitos. É por isso que, para alcançar, há quem faça das tripas coração para conseguir um lugar, razão pela qual se acreditava existir um mercado negro que funcionava como uma espécie de agência de recrutamento de novos efectivos.
O facto de muitos efectivos e funcionários da instituição, onde os salários não fogem muito dos demais ramos do Ministério do Interior, se apresentarem como se tivessem ordenados chorudos – como em algumas multinacionais – funciona como chamariz para um grupo que desde cedo acredita poder vir a conseguir tais proventos caso consiga um lugar.
Embora não se possa colocar todos os quadros no mesmo saco, a verdade é que os escândalos no SME vieram mostrar há anos que é pela via da fraude e da corrupção que muitos dos seus se apresentam como autênticos ‘marajás’, obtendo recursos dos quais, se inquiridos, dificilmente conseguiriam justificar.
As detenções ocorridas no final de 2024 e início do ano corrente começaram a marcar o fim de uma era que tem provocado enormes prejuízos ao Estado e colocado em perigo a própria segurança e soberania.
Por isso, tornou-se cada vez mais imperioso afinar os mecanismos de ingresso, por sinal a porta que alimenta um polvo cujos tentáculos levarão alguns anos a ser combatidos.
Caso o segundo curso básico de formação de efectivos do SME avançasse nos moldes inicialmente preconizados, não nos espantaríamos se parte significativa daqueles mancebos se transformasse, igualmente, noutros que apenas estivessem interessados em fazer daqueles serviços uma fonte para obterem vantagens financeiras, mesmo que isso prejudicasse o Estado angolano.
A investida do Ministério do Interior, com o processo de recadastramento, fez com que se identificasse mais de 450 recrutas com problemas de leitura e escrita, formandos com mais de 45 anos de idade, assim como cerca de 100 que se puseram em fuga depois de o processo ter iniciado, ou seja, indivíduos que nem sequer foram questionar as razões de tal investigação.
Nunca houve dúvidas sobre o ingresso em órgãos do Ministério do Interior, como a Polícia Nacional, SME e até Serviço de Investigação Criminal, de indivíduos com percursos sinuosos e cadastros duvidosos.
Eles existem. E o envolvimento de alguns deles em acções delituosas leva-nos a concluir que os corredores da corrupção nem sequer se importavam se estes antigos, ou ainda delinquentes, franqueassem ou não os corredores de tais órgãos.
O processo desencadeado pelo pelouro dirigido por Manuel Homem, entre os meses de Novembro do ano passado e Fevereiro deste, é uma pedrada no charco que servirá de alerta para o que se estava a passar em algumas áreas do sector.
E quando forem apresentados os resultados do inquérito e recadastramento, aí sim muitos perceberão que, afinal, nem tudo está perdido.