Mestre em Marketing Político e Especialista em Comunicação Estratégica Em Angola, o futebol não é apenas um desporto – é uma emoção colectiva, uma identidade partilhada e um símbolo de resiliência.
É o jogo que une jovens nos bairros do Lobito, empresários que debatem investimentos em estádios, políticos que vêem no desporto uma plataforma para a unidade nacional, líderes religiosos que rezam por vitórias e jornalistas que imortalizam cada golo.
Mas, para além da paixão, o futebol é também uma ferramenta poderosa de soft power – um recurso estratégico que Angola deve utilizar para reforçar a sua presença e influência no cenário internacional.
O soft power – ou poder brando – é a capacidade de um País influenciar outros não através da força militar ou do peso económico, mas sim por meio da cultura, da identidade e dos valores que transmite.
Tal como os Estados Unidos projectam a sua influência global através de Hollywood, e a França se impõe pelo prestígio da sua moda e gastronomia, países como o Brasil, a Argentina e recentemente Marrocos utilizam o futebol para consolidar a sua imagem e fortalecer as suas relações internacionais. Angola, com a sua história rica e o amor inquestionável pelo desporto, pode e deve seguir esse caminho.
Nas ruas de Paris, Lisboa ou Pequim, a menção ao nome “Angola” pode ainda suscitar associações ao passado colonial, à guerra civil ou ao petróleo. Mas e se, em vez disso, passasse a evocar o talento inato dos nossos jogadores, a energia vibrante dos nossos estádios ou a força da nossa selecção nacional? O futebol tem o poder de alterar a narrativa sobre um País e de posicioná-lo como uma potência cultural e desportiva.
Vejamos o exemplo de Marrocos no Mundial de 2022: para além de fazer história ao tornar-se a primeira selecção africana a alcançar as meias-finais, o País utilizou a competição para reforçar a sua identidade nacional, estreitar relações diplomáticas e atrair investimento estrangeiro.
O futebol marroquino tornou-se um instrumento de diplomacia e desenvolvimento, abrindo portas que antes estavam fechadas. Angola pode inspirar-se neste modelo e adaptar estratégias semelhantes à sua realidade.
O futebol angolano é um espelho da trajectória do próprio País – uma história de desafios, superação e momentos de glória. Quem não se recorda da inesquecível qualificação para o Mundial de 2006? Naquele momento, Angola não era apenas uma selecção a competir – era um povo inteiro a afirmar-se perante o mundo.
Cada jogo, cada golo, cada vitória era um lembrete de que, apesar das adversidades, o País tinha capacidade para se destacar no palco global. Este é o verdadeiro poder do futebol: fortalecer a auto-estima nacional, criar referências colectivas e projectar a identidade angolana para além das suas fronteiras.
O futebol é um activo estratégico tão valioso quanto o petróleo ou os diamantes, mas, ao contrário dos recursos naturais, não é finito – quanto mais for trabalhado e promovido, maior será o seu impacto económico, social e político. Para que o futebol angolano cumpra o seu potencial como ferramenta de soft power, é necessário um compromisso sério e estruturado.
O desenvolvimento do desporto nacional deve ser encarado como uma política de Estado, com investimentos na formação de jovens atletas, na modernização das infra-estruturas desportivas e na profissionalização da gestão dos clubes.
O futebol angolano tem talento, mas precisa de um ecossistema que permita o seu florescimento. Assim como a música angolana já conquistou o mundo com o kuduro e a kizomba, o desporto pode tornar-se o próximo grande embaixador do País.
Além da vertente competitiva, o futebol deve ser promovido como um instrumento de diplomacia e desenvolvimento, facilitando parcerias internacionais e posicionando Angola como um centro desportivo de referência no continente africano.
O futebol não é apenas um jogo – é um vector de transformação social, um elemento de coesão nacional e um poderoso instrumento de projecção internacional.
Para que Angola ocupe o seu espaço na geopolítica do desporto, é necessário reconhecer o futebol como um activo estratégico e investir na sua valorização. Os nossos jovens já demonstram talento e paixão.
Cabe agora às lideranças políticas, empresariais e sociais criar as condições para que o futebol angolano não seja apenas motivo de orgulho, mas também uma força de influência e progresso.
Se queremos que o mundo olhe para Angola com respeito e admiração, temos de compreender que o futuro da nossa presença global pode começar dentro de campo.
Por: EDGAR LEANDRO