Foi sobre a Namíbia e a África do Sul que o primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, disse que nestes dois países estava a continuação da nossa luta.
Na altura, o território dos vizinhos namibianos estava ocupado pelo regime sul-africano que, no seu espaço, mais abaixo, impunha o apartheid, um sistema em que os negros não tinham qualquer expressão.
Era através destes dois países, hoje independentes, que os sul-africanos faziam incursões no nosso território, tentando algumas vezes, militarmente, ocupar regiões no Sul de Angola.
Ainda existem vestígios desta agressão, algumas das quais contaram, inclusive, com o apoio do agora maior partido da oposição, a UNITA . A independência da Namíbia, que veio a ocorrer já no início da década de 90, assim como o fim do apartheid na África do Sul, foram acontecimentos que vieram posteriormente a repercutir-se positivamente na situação política, económica e social de Angola.
Durante as várias fases do conflito angolano, em que a então rebelião armada mantinha boas relações com os países vizinhos, era através destes que se podiam abastecer para desencadear acções em determinadas partes do território angolano.
Em paz há 23 anos, lembrar-nos-emos sempre do papel que o então Zaíre e, posteriormente, República Democrática do Congo desencadeou não só para o que aconteceu em partes do Norte e Leste de Angola, mas, sobretudo, para os incidentes que se foram também registando a nível da província mais ao norte do país.
Ainda nos primeiros anos da independência, Agostinho Neto, numa fase tensa das relações entre Angola e o ex-Zaíre, buscou junto de Mobutu Sesse Seko acordos que pudessem fazer cessar a imiscuição nos assuntos internos do nosso país, particularmente o apoio que davam à UNITA .
Embora sejam episódios históricos, a realidade actual indica que o agudizar da situação político-militar na RDC tende a afectar negativamente Angola, onde os populares da antiga colónia belga se refugiavam regularmente para encontrar a paz que tardava em chegar àquele país.
Mais do que simples necessidade de afirmação do papel de Angola no continente em matéria de alcance da paz, como ficou evidente com a sua solução interna, a preponderância que se busca no conflito interno na RDC assenta também no facto de se querer travar as externalidades negativas de que podemos sofrer caso a escalada não tenha um fim à vista.
Actualmente, o país possui, no município do Lôvua, na Lunda-Norte, um campo de refugiados originários de uma escaramuça ocorrida há alguns anos.
Se não se parar com o rastilho acendido em Goma, a propagação do fogo fará com que outros milhares procurem abrigo em território angolano, à semelhança do que muitos dos nossos compatriotas fizeram na fase em que a paz entre nós era uma pura miragem ainda.