O futebol é mágico, um dos deuses mais poderosos criados pelo ser humano. Em Angola, essa magia transcende o tempo e se enraíza profundamente no espírito do povo.
Desde os tempos em que as partidas eram disputadas em campos improvisados de terra batida até os modernos relvados dos estádios que hoje acolhem competições nacionais e internacionais, o futebol continua a ser o fio condutor que liga gerações.
É a linguagem universal que fala a crianças, jovens, adultos e idosos, mantendo acesa a chama da emoção a cada jogo da nossa selecção nacional, os “Palancas Negras”.
Lembro-me das tardes em que nos reuníamos à volta de um rádio de pilha, na década de 1990, para acompanhar as façanhas de Angola na Taça Africana das Nações. O narrador descrevia cada jogada com uma paixão que nos fazia sentir dentro do campo.
Hoje, a mesma ansiedade toma conta dos jovens, só que agora diante de televisores de última geração ou acompanhando cada lance através dos seus smartphones, trocando mensagens em tempo real sobre a performance dos nossos craques no Girabola ou sobre jogadores angolanos que brilham no exterior. A tecnologia evoluiu, mas a emoção permanece intacta.
Vivemos numa era em que cada golo é visto e revisto em segundos, onde erros de arbitragem são desafiados pelo VAR, e cada detalhe de uma jogada pode ser analisado por milhões em tempo real.
Em 2006, na histórica estreia de Angola num Campeonato do Mundo, o País parou para ver o empate com o México. As ruas estavam cheias de esperança, e a televisão pública de Angola transmitia cada lance como se fosse o destino da Nação em jogo.
Hoje, com as redes sociais, cada partida transformase numa explosão de debates, memes e análises minuciosas, aproximando ainda mais os adeptos ao desporto-rei. Mas o futebol angolano é mais do que apenas os grandes torneios.
Nos bairros de Luanda, Benguela ou Lubango, a paixão pelo jogo floresce nos campos improvisados, nas partidas entre amigos, onde uma bola de trapos pode criar estrelas em potencial.
Quantos craques não começaram assim? Manucho, Mantorras, Gilberto – todos saíram dos nossos campos humildes para brilhar além-fronteiras, provando que o talento angolano é uma força que resiste ao tempo e às circunstâncias.
No entanto, mesmo com todo o amor pelo futebol, há desafios que precisamos enfrentar. O desporto em Angola precisa de mais investimento em infra-estruturas, de uma formação de base sólida e de uma gestão mais profissional.
Se quisermos que o futebol continue a ser o elo de união entre gerações, é essencial que as autoridades, os clubes e os adeptos trabalhem juntos para garantir um futuro sustentável para a modalidade.
O mundo mudou, mas o futebol continua a ser o mesmo jogo simples, apaixonante e envolvente. Em Angola, cada partida é mais do que um jogo – é uma celebração da identidade nacional, um sonho colectivo que se renova a cada apito inicial.
Porque, no final, independentemente das mudanças tecnológicas ou das tendências modernas, o futebol permanece intemporal, capaz de unir corações e contar histórias que jamais serão esquecidas