Cruzei ontem as estradas do Uíge, cidade do Bago Vermelho. Faz tempo que aqui não vinha, o que desde já despertou uma imensa curiosidade sobre o que encontraria logo à chegada. Já lá vão mais de 15 anos desde a última vinda. Angola tinha um outro presidente, desígnio, e os sonhos pareciam também outros.
Regressei numa fase nova, em que há um novo timoneiro, o que desde já aumentou a minha expectativa sobre o que iria encontrar, as suas gentes, os novos sítios e a satisfação dos desejos destes.
Foi logo à entrada da cidade, na sua principal via, no sentido de quem vem por Luanda, a partir do Bengo, que me deparei com uma das imagens mais bonitas que poderei ter visto este ano. Se não é a melhor, embora ainda estejamos no início de 2025, talvez não olhe para coisa igual: eram quase 13 horas quando uma imagem de dezenas ou centenas de batas brancas invadiu o percurso.
Entre o sobe e desce, numa cidade que ainda reclama, mesmo em silêncio, por melhorias em vários sectores da sua vi- da política, económica e social, eram vários os jovens devidamente uniformiza- dos saindo e outros a caminho da escola. Pela forma organizada como muitos caminhavam, uns à esquerda e outros à direita, podia-se ver no semblante de alguns deles um desejo ardente de se formarem e um dia constituírem aquilo que se chama ainda nos dias de hoje o futuro da Nação .
À primeira vista, as lindas imagens remetem-nos para um grupo de jovens que parecem saber o que terão pela frente, sabendo alguns deles que caminhos irão seguir, particularmente numa província que, se severamente diagnosticada, ainda poderá demonstrar que padece de muitos males.
É provável que, nos próximos tempos, muitos não saibam que caminhos seguir e venham a deixar a província que os viu nascer para mergulharem na aventura das grandes cidades, entre as quais a capital do país.
É preciso que se comece a criar condições para que muitos destes jovens, hoje empenhados, possam realizar os seus desejos no mesmo local, embora nada os proíba de procurarem espaços noutros territórios.
Aquela imagem de dezenas ou centenas de jovens, numa única avenida, leva-nos para a necessidade imperiosa de criação de postos de trabalho para muitos deles, principal- mente em áreas técnicas. É aqui que se apregoa muito mais, longe dos números que outras áreas das ciências sociais nos possam oferecer no actual contexto do país.