Com a sua tomada de posse prevista para o próximo dia 20 de janeiro, Donald Trump regressa ao palco politico global com uma manifestação de loucos, ideia que manifesta a hegemonia americana, mas estrategicamente perigosa: A guerra de ocupação. Uma estratégia que a Rússia tem vindo a realizar contra os seus antigos satélites.
Ora bem, uma guerra por anexação é um género de conflito em que um Estado amplia o próprio território usurpando parte do território de outro Estado. O sucesso destas operações deve-se ao recurso à força.
Trump abre o seu 2.º mandato com delírio de omnipotência, comparável apenas aos regimes de triste memória do século XX, identificando a Groelândia, o Panamá, o Golfo do México como futuros territórios dos EUA, e envia um claro recado ao vizinho Canada.
Não obstante Rússia e China demonstrarem igualmente interesse pelo arquipélago, Trump nota que o descongelamento do gelo na região poderá abrir áreas para a perfuração de petróleo e gás e para a extração de minerais críticos.
A ilha é rica em hidrocarbonetos, urânio e terras raras e uma importante plataforma estratégica para a projeção no Ártico. De acordo com um relatório recente do Conselho do Ártico, o tráfego de navios no mar Ártico aumentou 37% na última década.
Deste modo, a continuação do degelo poderá abrir ainda mais rotas comerciais, e ao mesmo tempo aumentará o risco de catástrofes ambientais. Por sua vez, o Canal Artificial de Panamá permite a passagem entre o Atlântico e o Pacífico sem ter de circumnavegar todo o continente americano.
Foi praticamente criado pelos Estados Unidos, que em 1901 obtiveram o seu controlo durante 99 anos. Em dezembro de 1999, Washington decidiu entregar a gestão do corredor marítimo de 82 quilómetros de comprimento ao Estado do Panamá.
Uma jogada tática, mas que, anos mais tarde, permitiu a penetração da China, que, através dos seus habituais investimentos bilionários, quer projetar a sua influência como potência económica.
Trump tenciona travar qualquer iniciativa chinesa que visa o engrandecimento deste gigante asiático. A tendência a uma guerra de ocupação abre espaço a um género de debate que inocenta Trump nos conflitos interestatais.
Muitos o apresentam como um líder pacífico (o único presidente na história dos EUA que não fez guerra, e com ele o mundo evitará uma catástrofe), como se as contendas bélicas resumissem o conceito de conflito.
Vejamos a cronologia das acções de Trump, e a sua não inocência nos excessos americanos. Em 2017, três meses depois da tomada de posse, autorizou o primeiro ataque militar direto contra a Siria.
Um ataque considerado resposta ao uso de armas químicas da parte de Assad. Totalizando 59 mísseis Tomahawk. Um ano depois, ordenou outros 105 mísseis contra três arsenais químicos, e ambos os bombardeamentos foram condenados publicamente pela ONU.
O ataque utilizou mísseis de cruzeiro lançados por bombardeiros B-1 dos EUA; bombardeiros da Grã-Bretanha e da França. No final das operações, através da rede social Twitter considerou: ‘’raid perfeitamente executado, graças à França e à GrãBretanha pela sua técnica e poder… missão cumprida.’’
Por ordem de Donald Trump, um drone americano matou em janeiro de 2020 Qassem Soleimani, o mais influente general iraniano, considerado o número dois na hierarquia do poder em Teerão.
Soleimani era o chefe da milícia alQuds dos Guardiões da Revolução, a força de elite do exército da República Islâmica, amigo dos aiatolas e muito amado até pela geração mais jovem.
Segundo o Pentágono, Soleimani “planeava ataques contra diplomatas e militares americanos no Iraque e em toda a região”. Uma ordem que colocava o mundo na iminência de um conflito nuclear sem precedentes. Foram igualmente encontradas “impressões digitais” de Trump no fracassado golpe de Estado de 2020 em Venezuela.
Em 2017, lançou a GBU-43, também conhecida por “Moab” (massive ordnance air blast bomb) ou (mãe de todas as bombas), a maior bomba não nuclear alguma vez lançada.
Os primeiros testes do dispositivo foram efectuados em março e novembro de 2003 e, para além dos testes, não há notícia de quaisquer outros lançamentos. Posteriormente, disse ter-se divertido com os seus efeitos.
Ainda em 2017, afirma o Washington Post, a administração Trump autorizou a venda de armas à Ucrânia, quebrando uma proibição não escrita do Presidente Barack Obama. Vendeu-se metralhadoras M107A1, munições e “acessórios” num total de 41,5 milhões de dólares.
Em 2019, os Estados Unidos lançaram 7.423 bombas no Afeganistão. É o numero mais elevado desde 2006, ou seja, desde que o Departamento de Defesa dos EUA começou a registar os bombardeamentos das suas tropas. Nenhum presidente antes tinha ido tão longe.
O número de mortos e feridos militares e civis produzidos por Trump em quatro anos na Casa Branca é simplesmente incalculável. Em 2017, se tinha declarado “o Presidente dos EUA mais pró-israelita da história”, transferiu a embaixada dos EUA para Jerusalém, reconheceu o direito de ocupação dos Montes Golã pelos israelitas.
Sob o comando de Trump, em 2017, quando o ditador Kim JongUn continuou a prosseguir, sem hesitação, o seu programa nuclear, realizando testes de mísseis balísticos que aterrorizavam toda a região do Pacífico, e para o Ocidente, já havia dois planos na mesa do Pentágono para “resolver” o problema: o bem conhecido plano de decapitação e o muito mais perigoso plano de ataque nuclear que teria previsto o lançamento de até 80 bombas nucleares tácticas sobre alvos estratégicos a norte do paralelo 38.º. Em 2019, vetou uma resolução bipartidária aprovada pela Câmara e pelo Senado que apelava ao fim do apoio militar à Arábia Saudita na guerra do Iémen.
A resolução foi aprovada no Senado a 13 de março, com 54 votos a favor e 46 contra, e ratificada pela Câmara no início de abril, com 247 votos a favor e 175 contra.
Disse que a mesma resolução era “uma tentativa desnecessária e perigosa de tentar minar os meus poderes constitucionais, pondo em perigo a vida dos cidadãos americanos e dos militares corajosos, tanto agora como no futuro”.
Com objectivo de proteger os bens dos EUA em órbita, principalmente os satélites, Trump saiu da terra para continuar a luta no espaco, criando em 2019 um força militar especial, dedicado à guerra espacial.
A Força Espacial, como é chamada, é a primeira força militar a ser criada nos Estados Unidos nos últimos 72 anos; está anexada à Força Aérea Americana e tem cerca de 16.000 militares e civis.
Este é Trump do qual se pensa ser um estadista pacifico sem comprometimento com guerras, e que fará o seu segundo mandato já apartir deste janeiro. Fazendo fé à cronologia espelhada acima, associadas ao rótulo que lhe foi atribuido pela BBC que o considera a par de Bolsonaro (Brasil) e Salvini (Itália) os maiores difusores de Fake news do globo, não há margens de dúvidas nas palavras de Dimitri Medvedev no seu discurso de fim de ano: “Estejam todos preparados para acontecimentos impossíveis em 2025”.
Por: Hélder Luís
*Especialista em Relações Internacionais