O escritor Hélder Simbad, nascido na década de 80, compartilha sua visão sobre o desenvolvimento do sector literário em Angola nos 50 anos de independência.
De acordo com o também crítico literário e investigador, a literatura angolana tem-se desenvolvido a passos significativos, mas enfrenta desafios estruturais que impedem seu alcance global.
Simbad começa destacando a produção literária no país ao longo das últimas cinco décadas, afirmando que, apesar de uma produção razoável, o sector ainda enfrenta sérios obstáculos organizacionais.
Observa que a falta de organização em vários sectores da sociedade, incluindo o literário, impede a potencialização da produção intelectual no país. “Tivemos uma safra literária que podemos considerar razoável, com várias referências, mas com uma melhor organização, a literatura angolana poderia estar em outros patamares no cenário literário mundial”, disse.
O escritor também aponta a ausência de uma verdadeira indústria do livro no país como um dos principais entraves. Que, apesar de não produzimos papel, sermos um dos maiores exportadores de madeira. “Não somos uma potência em tradução literária, o que nos faz depender do trabalho de outros países, principalmente Brasil e Portugal”, lamenta.
As maiores vitórias com a conquista da paz
Sobre os avanços mais significativos, Simbad destaca que a maior conquista do país foi a liberdade em relação ao colonialismo, embora a guerra civil tenha sido um período difícil para todos os angolanos.
No plano literário, destaca a fundação da UEA como uma das principais conquistas, por ter permitido a organização do sector. Porém, lembra também das perdas, especialmente as vidas de pessoas qualificadas que foram mortas durante o período de guerra civil e outros eventos históricos de violência.
Simbad compartilha sua própria experiência como escritor e menciona um dos maiores desafios que enfrentou: a falta de apoio financeiro. “Particularmente, os meus obstáculos têm sido a falta de apoio financeiro para fazer mais. Até hoje, lembrome da Fundação GGMF, que me ajudou a publicar meu livro, mas os apoios têm sido limitados”, conta.
No entanto, reconhece o apoio que tem recebido de algumas instituições literárias, como a UEA e o Memorial Dr. António Agostinho Neto, que têm sido essenciais para sua produção.
Propostas para o fortalecimento da literatura
Com base em sua experiência como líder cultural e activista, acredita no poder transformador da literatura e da cultura, especialmente em comunidades desfavorecidas.
Relata que, quando jovem, liderou um projecto cultural em um dos bairros mais carentes de Luanda, o bairro Anangola. Inspirado por essa experiência, Simbad propõe levar a literatura e outras formas de arte às comunidades mais distantes e carentes de Angola.
“Acredito no poder transformador da cultura. Minha proposta é descer para os bairros com a literatura e outras artes, através da construção de Centros Culturais.
Levar a literatura às comunidades é fundamental para diminuir as assimetrias sociais, porque a literatura emancipa”, afirma. Além disso, defende a criação de políticas para a internacionalização da literatura angolana, por meio da tradução literária, e a instituição de prêmios nacionais e internacionais de grande valor monetário para incentivar a produção literária