Os professores são, actualmente, um dos grupos profissionais de trabalhadores intelectuais, porém vistos no binóculo. E o mais pesaroso ainda é ver o lexema professor a ganhar a conotação de pobre num contexto em que a figura dele é cada vez mais indispensável e imperiosa.
Há vezes que, estando inserido no seio destes profissionais, só ouço lamentações, ou seja, fazem do seu reencontro uma espécie de velório. Não é menos verdade que este grupo de profissionais é o que mais falta sob infinitos pretextos de que já não dispõe sequer de uma única nota de 10,00 kwanzas para o táxi nem mesmo saldo de 100,00 kwanzas para justificar-se à direcção pedagógica.
Acometido por um dilema ou por haver um parente seu moribundo, não havendo outra opção, recorre aos empréstimos com juros elevadíssimos que comprometem o ínfimo salário.
A euforia e a motivação esquivam-no, permanentemente, devido à desproporção entre as exigências laborais e o salário, lamentam que nem mesmo as lamentações de Jeremias.
Na sala dele, isto é, do corpo docente, não há, absolutamente, nada aprezível, não há um ventilador só para não falar de um ar condicionado, não há um televisor com sinal, não há assentos confortáveis, não há um computador com acesso à internet nem bebedouros! Aliás, só há, lá, ele próprio, um paupérrimo a suar que muitas vezes recebe promessas, porém morre sem as ver materializadas! Afinal de contas, não são técnicos da AGT, dos bancos, das petrolíferas, de outros ministérios, e muito menos da Casa das Leis.
Se o fossem, garanto-vos, o tratamento seria honorífico sem dúvidas. O único “triunfo” do professor, quer na sala de aulas, quer na rua, é o conhecimento, mas ninguém come o conhecimento! O infeliz vê, minimamente, o seu ínfimo dinheiro quando se vê vinculado noutros colégios (garimpos), impossibilitado de investigar a rigor, fora disso, não come normal, não veste normal nem lhe resta troco para levar a família a uma excursão. Os subsídios são-lhes aniquilados, mas existem nos papéis.
Em linhas gerais – mas professor, com tantos bons Ministérios, por que razão escolheu este? – perguntou-me um aluno cujos pais têm posse. Eu, cabisbaixo, emudeci! Portanto, ser professor é assim, por um lado, chamam-te para ir varrer, mesmo havendo senhoras da limpeza e, por outro lado, para ir dar aulas! Que promiscuidade… Talvez venham bons dias.
Por: António Raimundo