Apartir do dia 15 deste mês, próxima quinta-feira, sabe-se, de antemão, pela Empresa Nacional de Bilhética Integrada (ENBI) que o pagamento da tarifa em dinheiro físico nos autocarros públicos será gradualmente retirado, começando por Luanda, para depois a medida abranger as outras cinco províncias do país.
A notícia anima as transportadoras, especialistas e os passageiros, que afirmam ser um acto positivo e mais um passo avançado que Angola dá no capítulo da modernização e digitalização dos serviços.
A medida a ser implementada, brevemente, já alcançou, num curto período de tempo, os seus destinatários, isto é, maior parte dos jovens, entre homens e mulheres, que afluem em massa nos diferentes postos criados para a obtenção do passe GiraMais.
De acordo com dados recentes, divulgados pela ENBI, o passe GiraMais já se encontra com mais de 350 mil adesões, sendo que o seu sistema de operação está instalado nos mais de 1500 autocarros que estarão funcionando em 52 bases operacionais através de 52 empresas que dispõem da tecnologia que funciona desde os anos 2021, em Angola.
As transportadoras, os especialistas e os passageiros ouvidos por este órgão de informação convergem quanto aos benefícios da retirada gradual do pagamento da ta- rifa em dinheiro físico nos autocarros públicos.
Na visão do director de operações da transportadora Cidrália, Filipe Ngonga, a medida é bem-vinda para as empresas, visto que visa retirar o dinheiro físico no seio dos transportes colectivos e facilitar a maneira de pagamento da população.
Para Filipe Ngonga, do ponto de vista das empresas, a utilização do passe GiraMais irá reduzir significativamente a “invasão de receitas financeiras ”, um fenómeno que reconhece ser recorrente no país.
“Com a entrada dos cartões sociais, acreditamos que vamos ver melhorada a invasão de receitas, que é um grande problema que as empresas enfrentam hoje”, reco- nheceu o responsável de operações da Cidrália.
Não havendo ainda um estudo oficial, o gestor estima uma per- da de receitas financeiras, por par- te das empresas, em cerca de 20 a 30%, o que tem deixado os cofres das transportadoras deficientes.
Os autocarros da transportadora Cidrália estão abrangidos directamente pela nova medida que entra em pouco tempo em vigor, sendo que a empresa opera nas rotas selecionadas numa primeira fase, em Luanda, tais como as avenidas Deolinda Rodrigues (Km 30 – 1.º de Maio), Fidel de Castro (início da Via Expressa – Vila de Cacuaco, Estrada de Cacuaco, São Paulo e Vila de Cacuaco Baleizão).
Modernização dos serviços Quem também aplaude a iniciativa da retirada gradual do pagamento da tarifa em dinheiro físico, é o economista, Alcides Gomes, que acha a medida a ser adoptada pelo Governo como sendo própria de um país que caminha para evolução e modernização dos serviços.
Alcides Gomes avalia a tomada de decisão como sendo positiva, concordando que esta acção irá retirar ou então diminuir as perdas financeiras de parte das operadoras dos transportes públicos no país.
O especialista diz que a medida da introdução do dinheiro elec- trónico nos autocarros, para Angola, significa um avanço no capítulo tecnológico, pois o país tem fica- do atrás quanto à implementação e utilização de certas tecnologias que há muito tempo funcionam noutros países do mundo.
“Nós estamos sempre a usar o dinheiro em papel, os outros países, quase já não usam o físico, inclusive conseguem pagar até com impressões digitais, então a tecnologia vai ajudar as pessoas a não terem de movimentar muito dinheiro nos autocarros”, disse.
Em geral, o passe vai beneficiar todos, uma vez que o mundo evolui com a implementação de novas tecnologias, Angola não pode recuar ou ficar no último lugar, é preciso afinar os esforços para que estas tecnologias possam abranger outras áreas, sugere o economista Alcides Gomes.
Corrida aos passes
Em um curto período de tempo, a notícia sobre a proibição da utilização do dinheiro físico nos autocarros não tardou em ter uma resposta, por parte da população. Os usuários mais frequentes dos transportes colectivos correm em massa para a aquisição do passe GiraMais, evitando que sejam privados em usufruir dos serviços, quando a nova medida entrar em vigor.
Nos postos criados, para atendimento dos cartões Giramais, como nas avenidas Deolinda Rodrigues (1.º de maio), Fidel de Castro (frente ao tribunal do Benfica) e Vila de Cacuaco (perto do tanque de Cacuaco) é visível a presença de diversas pessoas, mas grande parte jovens que vão dos 13 aos 40 anos de idade, a solicitarem a emissão ou levantamento dos passes.
No interior de vários recipientes, como caixas diversas, utilizadas para o armazenamento dos cartões, nota-se milhares de passes já emitidos, sendo maior parte destes documentos tratados durante a fase promocional que encerrou recentemente, em Luanda.
O cidadão António Paulino dos Santos, em Cacuaco, explicou que foi para solicitar a emissão do passe, sob pena de vir a ser recusado viajar pelos meios públicos, tendo conta o prazo estabelecido pelo Executivo.
Já Paulino também acredita que o passe GiraMais irá trazer grandes benefícios para a população, como os constantes roubos de dinheiro e o desvio de recei- tas por parte de pessoas que gerem os meios. Exibir um passe, como forma de pagamento, para o cidadão Paulino, é um passo importante na vida de andar em autocarros públicos, por isso aconselha outras pessoas a seguirem o seu passo, por enquanto há ainda oportunidade. Por sua vez, Maria Ernesto afirma que foi para tratar o seu e os cartões dos seus filhos, que são estudantes e percorrem sempre as vias de Cacuaco para a escola.
A senhora reconheceu que o pro- cesso para a emissão de um cartão é facilitado, ao mesmo tempo acessível o preço a ser cobrado, num valor de 5990 Kz. A cidadã considera a medida como sendo importante para as pessoas, referindo-se também a perdas de dinheiro como sendo um dos problemas a ser combatido durante as viagens em auto- carros.
Fátima Manuel, no desvio do Zango, afirmou a este jornal que já estava informada sobre a retirada do pagamento da tarifa em dinheiro físico nos próximos dias, exibindo o seu cartão, correspondeu positivamente com a nova forma de pagamento. Fátima, que circula frequente- mente na rota desvio do Zango/ Sequele, revelou que várias vezes observa irregularidades na gestão financeira do dinheiro que circula nos autocarros, explicando que a medida vem para acabar com a referida prática.
“Visto que há cobradores que, por vezes, mandam-nos entrar na parte traseira dos autocarros e nos fazem efectuar o pagamento sem girar a catraca (uma barreira usada no interior do autocarro para manter a cobrança mais organizada”, frisou. Com a introdução do GiraMais, aconselha que haja maior organização e redução de enchentes nos autocarros, no sentido de trazer conforto à população, em particular aos estudantes.
Idosos sentem-se condicionados pela nova medida
Apesar da adesão massiva dos jovens na busca da nova for- ma de pagamento, este jornal, porém, constatou, em diferen-tes postos de atendimento, uma grande ausência de idosos, quase que nenhuma pessoa da terceira idade se encontrava a tratar o cartão, sendo que, frequentemente esta classe consta das prioridades na hora de embarque de passageiros.
A próxima forma de pagamento para a circulação urbana, parece que ainda não encontrou lugar no seio dos mais velhos, como é caso de Maria Luísa Justino, que está com 57 anos de idade, mas ainda sim, recorre aos meios de transportes públicos para o exercício das suas actividades.
Questionada sobre a existência do passe GiraMais, respondeu que desconhecia a medida, até o momento em que estava a ser abordada pela equipa de reportagem. Após ter sido esclarecida, a senhora Maria Justino reconheceu ser boa a nova, no entanto, admitiu que para a sua idade será um grande esforço para utilizar a tecnologia de pagamento.
Como quem parecia cansada, a mais velha Maria, ladeada por três trouxas que pareciam embrulhos de um negócio, esperava em fila com destino à zona do Sequele, na nova província de Icolo e Bengo.
Em defesa da sua classe, apela que, com a entrada em vigor da proibição do dinheiro físico, os idosos mereçam uma especial atenção, aplaudindo a iniciativa que diz contribuir na redução das perdas financeiras em determinados autocarros. A partir do dia 15 de janeiro, conforme explicações da Empresa Nacional de Bilhética Integrada (ENBI), passam a valer os passes Giramais carregados, cuja emissão agora custa 5.990 kwanzas.
A ideia da instituição é permitir a adesão massiva dos cidadãos utentes dos transportes públicos rumo à modernização do sistema de transportes públicos urbanos de passageiros, por via da digitalização destes serviços em curso.
Os cidadãos, mediante um contacto com os agentes GiraMais identificados com credenciais e coletes GiraMais, poderão ter acesso a estes serviços. Em alternativa, poderão ainda usar os canais digitais disponíveis, nomeadamente o Unitel Mobile Money, entretanto, o valor mínimo diário de carregamento passa a ser 600 Kz, contrariamente aos 1500 praticados anteriormente. A medida vale para seis províncias de Angola, nomeadamente, Luanda, Benguela, Huíla, Huambo, Malanje e Cabinda.
POR:Adelino Kamongua