Alguns moradores e transeuntes da conheci- da Ponte Partida, na Estalagem, município de Viana, em Luanda, manifestam- se receosos em relação à construção da cerca ferroviária, por temerem que a mesma possa impedir a passagem de um lado para o outro.
Esperança Chitula, que vive no Morro da Areia, o bairro que fica logo depois da linha férrea, disse que tomou de surpresa, quando em Abril do ano passado, se apercebeu de que havia de cercar a zona.
“Olhe que a ideia não é de todo má, porque vai criar mais segurança e evitar que as pessoas sejam colhidas pelo comboio, como já tem vindo a acontecer, mas esta- mos a notar que a cerca pode impedir-nos de atravessar para o outro lado”, disse Esperança Chitula, tendo em conta às suas movimentações diárias, do bairro Morro da Areia para o da Estalagem.
Para ela, a administração tem de envidar algum esforço para construir uma passadeira aérea que dê acesso ao outro lado. Outra situação reclamada pela moradora da zona da Ponte Partida teve a ver com o facto de alguns espaços livres deixados, que ela e outros transeuntes supõem ser de acesso, estarem posicionados em locais de pouca travessia.
“Se estes forem os locais por onde a população terá de passar, vai haver necessidade de andar mais à margem da linha férrea, o que pode constituir algum perigo. Ainda desconfiamos que essas entradas poderão ter portões e, se calhar, pessoal de plantão e isso pode provocar aglomeração”, declarou a entrevistada, tendo reforçado o clamor de ver todas as necessidades diárias da população acauteladas pela administração de Viana.
O actual estado trémulo da passadeira aérea, apelidada de Ponte partida, também mereceu a atenção da senhora, que pede para haver uma intervenção urgente, já que as pessoas da sua idade, como fez questão de referir, ao passarem por aí sentem algumas perturbações de saúde.
“Nós, assim, as idosas, quando passamos por aqui, é só já entregar a vida a Deus, primeiro, porque a gente nunca sabe quando é que isso pode cair, depois, o coração não aguenta, a tensão sobe ou desce demais”, declarou, tendo informado que há quem desmaie antes de completar a travessia. Ela já viu alguns camiões com carga e altura exagerada a baterem na ponte.
Por isso, recomenda à administração que proíba a circulação desses veículos automóveis pesados nesse troço. Por sua vez, Paulo Pakissi louvou o projecto da administração de vedar o perímetro da linha férrea, porque está cansado de ouvir falar de mortes por colhimento de comboio e de ver uma quantidade de lixo exagerada ao longo do caminho-de-ferro.
“Entretanto, preocupa-me, a mim e aos cidadãos que fazem desse percurso a sua rota diária, porque interagi- mos, onde e como vamos atravessar, já que não vemos nenhuma pedonal a ser construída no local, para facilitar a ligação entre um e outro lado do ramal ferroviário”, reclamou Paulo Pakissi, para quem uma passadeira aérea devia ser a primeira coisa a ser construída.
O munícipe de Viana que mora na Zona B é ainda de opinião de que não se impeça a circulação das pessoas nessa zona, antes de se criar uma solução, alternativa ou possibilidade. “E eu peço isso, porque as instituições do Estado nunca deviam deixar que sejam os cidadãos a arranjarem alternativa, pois, quando isso acontecer, normalmente, pode ocorrer em zona com pouca segurança, higiene e condições técnicas”, frisou Paulo Pakissi, que não espera ver as pessoas a serem obrigadas a pular uma cerca de betão de mais de três metros de altura.
Aliás, o interlocutor de OPAÍS asseverou que não gostaria de ver, no futuro, a cerca destruída por cidadãos, sob pretexto de abrirem caminhos para seus destinos, e o Governo a falar de vandalização de bens públicos. “Tudo pode ser acautelado agora”, realçou.
“O povo arranja sempre um sítio para passar”
Aos 27 anos de idade, o vendedor ambulante Henriques, que admite fazer da Ponte partida, o seu ponto de vendas, reconhece que a sua actividade é ilegal. “Eu venho do meu bairro, do Quilómetro 14, até aqui a ´zungar´, mas paro nesta passadeira aérea, porque passa muitos clientes e aproveito vender um pouco mais do que noutras paragens.
A maior parte das pessoas que passam por essa ponte vão ou vêm do outro lado, por isso não é bom que a administração feche os acessos, por- que o povo arranja sempre um sítio para passar”, avisou. Atendendo-se ao ofício diário e nas fugas que têm de empreender, quando a fiscalização aperta o cerco aos vendedores, Henrique ironizou que, nos próximos tempos, não gostaria de ver o mesmo cenário entre a polícia e os munícipes de Viana, que só pretendem atravessar o perímetro da linha férrea.
Outros munícipes de Viana ouvi- dos na Ponte Partida reconheceram que a construção da veda ferroviária está e vai proporcionar, na zona, uma boa imagem. Reafirmam a projecção e execução de outra passadeira aérea (pedonal), que possa facilitar a travessia dos transeuntes, a fim de se evitarem alguns problemas, depois das obras concluídas.
Administração garante segurança e viabilidade
Foi por causa do registo de mortes por colhimento do comboio e das vendas desordenadas, no perímetro da linha férrea, que a Administração Municipal de Viana, por via da sua direcção municipal de fiscalização, inspecção das actividades económicas e segurança alimentar, leva a cabo um projecto de construção de vedação no ramal.
João Augusto, o director municipal que se encarrega pelo referido departamento, tem noção da contestação de alguns munícipes, entretanto assegura que a sua direcção acautelou as necessidades dos munícipes, ao ponto de garantir segurança e viabilidade.
“Há alguns comentários desfavoráveis sobre a vedação do perímetro da linha férrea, mas a intenção da direcção de fiscalização e inspecção das actividades económicas e segurança alimentar é evitar que haja mais danos mortais, por deslizes de viaturas desgovernadas e não só, tal como se tem verificado nos últimos tempos, bem como velar pela imagem do município, desencorajando a venda desordenada nessas zonas”, informou o responsável.
Segundo ele, importa referir que se está a registar uma redução significativa de cidadãos colhidos pelo comboio. Por isso, prefere alinhar o descontentamento de alguns munícipes à melhoria na vida dos mesmos e na vida útil dos comboios.
“Queremos deixar de ver os comboios vandalizados, porque, sem alguma razão, pois ainda se arremessam pedras a loco- motivas, o que cria danos consideráveis ao Estado”, avaliou João Augusto, questionando se os cidadãos têm noção dos valores que o Governo perde, quando se quebra uma carruagem do comboio.
João Augusto assegurou que a vedação vai continuar, mesmo com o descontentamento de alguns cidadãos. Quanto ao horizonte temporal das obras, adiantou que a administração ainda não tem uma previsão de terminar com essa missão, porquanto ainda verifica alguma resistência por parte de certos munícipes. João Augusto disse que o projecto, que data desde 18 de Abril de 2024, está a encontrar alguns constrangimentos, já que, nos serviços administrativos, falta sempre alguma coisa.
O director da fiscalização e inspecção das actividades económicas falou de outras áreas de Viana, onde a sua equipa está a registar muitos constrangimentos, resultantes da resistência passiva ou activa, como fez questão de se referir das zonas da Mamã Gorda, Brasileira e na Cometa, além de todo traçado das pedonais, até a Universidade PIAGET.