O Presidente da República, João Lourenço, recebeu, ontem, em audiência, o Presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, no Palácio Presidencial da Cidade Alta, em Luanda, com quem abordou diferentes temas relacionados à vida económica, social e política do continente.
Em declarações à imprensa, o presidente Moussa Faki Mahamat disse que o encontro com o Presidente João Lourenço visou apresentar também os seus cumprimentos de despedida pelo facto de estar já no fim do seu segundo mandato.
“Vim apresentar os meus agradecimentos a ele e também à República de Angola, porque estou a terminar o meu segundo mandato, e fui apoiado por Angola ao longo do meu mandato. Aproveitamos o momento para abordar diferentes temas que existem no nosso continente, e também a preparação da próxima Cimeira a decorrer no mês de Fevereiro, que poderá ser uma Cimeira muito importante, porque Sua Excelência, o Presidente João Lourenço, vai tomar a liderança junto da União Africana”, disse.
Lembrou que o continente africano tem muitos desafios, e um desses desafios tem a ver com a situação de paz e segurança. Apontou a situação de conflito na República Democrática do Congo (RDC) como um dos grandes desafios.
“Não foi em vão que o Presidente João Lourenço foi indigitado pela União Africana como campeão para paz e segurança, e tem de facto pilotado o processo de Luanda para poder trazer uma paz entre o Ruanda e a RDC. E não bastava esse conflito, agora eclodiu outro conflito em Moçambique, que também veio acrescer-se ao leque de preocupações que o continente tem”, avançou.
Outros desafios
Olhando para os ganhos que o continente alcançou em 2024, Moussa Faki Mahamat enalteceu o facto de se ter concretizado algumas situações, como a zona de comércio livre continental, e ainda o facto de o continente ter conseguido um assento no G20, é um ganho, e ainda a inclusão dos jovens e das mulheres em todos os processos que a União Africana tem levado a cabo.
“Nós nos congratulamos por- que o Presidente João Lourenço vai assumir a Presidência da União Africana durante este ano de 2025, e solicitamos ao Presidente para ter a peito esta agenda. Isto é para nós um regozijo porque o Presidente João Lourenço tem levado os assuntos africanos a peito, e estamos tranquilos de que a agenda 2063, durante a programação de 2025, estará de facto em boas mãos, visto que o Presidente João Lourenço tem sido um artífice da paz e também da reconciliação a nível do continente, concluiu.
Os desafios na união africana
O especialista em Relações Internacionais, Tiago Armando, fala do prestígio e dos desafios de Angola na presidência da União Africana. Em entrevista a este jornal, Tiago Armando refere que ao assumir a presidência da União Africana, Angola ganhará, do ponto vista político-diplomático um prestígio, todavia, lembra que é também desafiante assumir a presidência de uma organização como a União Africana, de advocação continental.
“Significa dizer que Angola estará a presidir um órgão e terá na mesa todos os dossiers de várias ordens, isso é, económica, social e política sobre o continente em suas mãos. Isso significa dizer que, para tal, é fundamental que haja uma agenda clara sobre aquilo que serão as suas acções no âmbito do seu consolado, e essa mesma agenda deve ser orientada para resultados, de modo a que, ao final do mesmo, não seja só mais um consolado”, disse.
Sublinhou que os grandes desafios estão sobretudo relacionados com a ordem de segurança e paz, e ressalta aqui a experiência que Angola tem em matéria de resolução de conflitos a nível do próprio continente. Apontou ainda os três grandes conflitos que continuam a preocupar no continente e que necessitam de mediação e busca de soluções, designadamente o conflito no Sudão, o conflito entre a RDC e o Ruanda, e agora a situação em Moçambique.
Outro desafio, segundo o analista, está relacionado com as práticas da boa governação, democracia e respeito aos direitos humanos. “Os desafios relacionados com a boa governação têm a ver com a transparência nos processos eleitorais, adoptando um conjunto de políticas e medidas que visam neutralizar potenciais conflitos que resultam das eleições. E Angola deve continuar a fazer melhorias neste domínio”, salientou.
Na vertente económica, destacou o facto de o continente ter economias heterogêneas, mas que são, de um modo geral, mui- to frágeis. Neste quesito, defende que Angola, durante o seu consolado, deve continuar a envidar esforços e estratégias que visam a diversificação das economias do continente, a construção de infra-estruturas de interligação, de modo a promover o comércio intra-africano e, ao mesmo tempo, olhar para a questão da industrialização.
A necessidade das reformas institucionais na arquitectura africana de paz e segurança, bem como da própria União Africana que precisa de mais dinâmica na resolução de conflitos também deve estar na agenda, segundo o especialista.