A inflação acumula- da ao longo do ano e a desvalorização do kwanza têm impacto directo no poder de compra da população. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), os produtos alimentares continuam entre os bens que mais contribuíram para o aumento do custo de vida.
Os preços de alguns produtos essenciais para a confecção de alimentos durante a quadra festiva dispararam, pressionando o orçamento dos consumidores. A farinha de trigo está a custar entre 719 e 2.000 kwanzas por quilograma, enquanto anterior- mente o preço médio situava-se entre 300 e 500 kwanzas.
Este aumento impacta directamente a confecção de bolos, salgados e outros alimentos básicos consumidos nesta época do ano. A manteiga, geralmente utilizada na preparação de bolos e sobremesas, subiu para uma média de 800 kwanzas por pacote, contra os 600 kwanzas que custava anteriormente (há duas semanas).
Apesar da ligeira redução recente no preço do açúcar, que agora custa 1500 kwanzas por quilograma, o impacto no orçamento continua a ser significativo. Já o leite em pó, indis- pensável para muitas receitas e consumo doméstico, atingiu o preço médio de 3 mil kwanzas por quilograma, aumentando ainda mais a pressão financeira sobre as famílias.
O ovo, usado em diversas receitas, também continua a enfrentar aumentos, tendo o cartão de ovos passado de cerca de 4 mil e 500 kwanzas há alguns meses para valores que chegam a 6.000 kwanzas na maioria dos mercados, tendo em conta o seu tamanho.
Esses aumentos reflectem a volatilidade dos custos no mercado e representam um desafio adicional para os consumidores, sobretudo em um período marcado por altas despesas relacionadas às festividades natalinas.
Famílias apontam dificuldades
Manuel António, que é segurança de um estabelecimento comercial, sublinhou que, no mercado, um bidon de óleo que antes custava 1.500 kwanzas agora está a 2.500. “Se continuarmos assim, nem o básico conseguiremos comprar”.
“As pessoas estão a comprar muito menos, nessa altura, com um quilo de farinha de trigo nem chega para fazer um bolo grande que seja suficiente para todos de casa, se não tiver como fazer bolo, vamos comer só o pão e no jantar fazer massa com patinha, aí o dia vai passar, o importante é saúde”, sublinhou a vendedora informal Filomena.
Refrigerante: produto de luxo em momento de escassez
José Paulo, que exerce a função de motorista, enfatizou que normalmente fazem feijão com arroz e galinha no Natal. “Agora, só de pensar no preço do feijão que já está custar 2500 kwanzas, já fico preocupado, somos muito em casa e um quilo de feijão não chega.”
Relativamente à compra de bebidas para o consumo na quadra festiva, o que é frequente para a maioria, Ana sublinhou que as principais marcas de refrigerantes passaram a ser artigos de luxo na sua casa, tanto é que até lhe é difícil comprar até o básico.
Numa manhã amena e com sol escaldante, sentada debaixo da pedonal com a sua bacia de água que comercializa através da venda ambulante, dona Joaninha enfatizou que nem no Natal passado conseguiu fazer bolos para oferecer aos seus filhos. “Dinheiro já não chega para estragar em farinhas de trigo porque só já um ovo está a custar 250 kwanzas, onde eu vou parar se para o bolo precisa de no mínimo três ovos e outros ingredientes”, disse. “No mercado informal, os preços mudam a cada semana.
Para o Natal, as coisas só vão piorar. Queria oferecer algo especial aos meus filhos este ano, mas não consigo. É uma tristeza ver as coisas tão caras”, disse Adelino Joaquim. O Natal é um dos períodos mais esperados do ano, marcado pela união familiar e pela partilha à volta da mesa.
Em Angola, como em muitos outros países, a ceia de Natal é um momento de celebração, mas as condições económicas actuais têm levado muitas famílias a reinventarem as suas tradições. Entre os produtos mais emblemáticos da quadra festiva, destacam-se o bacalhau, a farinha de trigo e o ovo, alimentos que, este ano, têm sido afectados pela alta dos preços e pela dificuldade de acesso.
Embora a situação económica desafie as tradições natalinas, o espírito de união permanece intocado. Com as ruas movimentadas e os mercados lota- dos, as famílias continuam a encontrar formas de celebrar.
POR: Francisca Parente