O Natal é das comemorações mais importantes do ano, a nível mundial, com significados diferentes em cada região. Em quase todos os países comemora-se o Natal. Para os cristãos, simboliza o nascimento de Jesus, alguns têm a data como o Dia da Família, enquanto outros atribuem à época natalícia um significado meramente comercial, cuja principal finalidade é a promoção ao consumo.
E verdade seja dita, não importa o significado do Natal na sua vida, ele sempre tem um forte impacto financeiro no seu bolso. Ultimamente, em época natalícia, gasta-se cada vez mais, exageradamente. E quanto maiores proporções a crise económica toma, nos dias que correm, com os preços dos produtos cada vez mais elevados, tanto mais se agrava o consumismo natalício.
Actualmente, é difícil para uma família angolana, de classe média baixa, por exemplo, usufruir desta época com tranquilidade, sobretudo se não tiver prudência e moderação, pois é forçada a colocar de lado alguns prazeres, mimos e fantasias de Natal, que, diga-se em abono da verdade, são supérfluos e, como tal, acarretam despesas desnecessárias.
Se pararmos para analisar, a maioria dos produtos que envolvem o Natal são importados, ou seja, produzidos no exterior, desde as árvores de Natal, os jogos de luzes, os enfeites decorativos, o bolo-rei, o bacalhau, os frutos secos, os vinhos, comidas e todas as iguarias que alimentam, somente, o nosso ego. Por serem importados, são dispendiosos, extremamente caros para o bolso do cidadão comum e, na sua maioria, dispensáveis ou substituíveis.
O repto é realizarmos um Natal angolano, ou seja, torná-lo tipicamente mwangolé, adaptado às nossas condições sociais, baseado na troca de todos os produtos importados por produtos nacionais, que, em princípio, são mais baratos e permitem economizar.
É um desafio, que cada um de nós deverá enfrentar com sabedoria e paciência. Substituamos o bacalhau europeu pelo nosso peixe seco, o bom peixe seco, graúdo, produzido no Namibe, no Porto Amboim, no Sumbe e em outras localidades costeiras da nossa Angola, ou pelo famoso menha-ndungo apimentado.
Substituamos o azeite pelo óleo de coco, o óleo de dendém ou de abacate. Substituamos o famoso peru por frango, tilápia ou lombo, carnes bastante saborosas, mais baratas do que o peru e com maior oferta no mercado. Incluamos a batata-doce, a mandioca e o inhame no cardápio de Natal. Nada nos impede de substituir os vinhos e espumantes pelo nosso maruvo ou pela nossa deliciosa quissângua.
Para os apreciadores de coisas quentes, que tal trocar o whisky, conhaque, licores ou gin pela nossa água do chefe, a nossa capuca e o nosso quimbombo, que são bebidas tão saborosas quanto as primeiras, segundo os seus apreciadores! Troquemos o famoso bolo-rei por um cheiroso e delicioso bolo caseiro.
Se necessário, troquemos o cozido à portuguesa por um bom mufete, funge de carne seca, muamba de galinha, calulu, chicuanga, da boa fúmbua, milho assado, pé-de-moleque e, na manhã seguinte, lambuzemo-nos no prato de muzongué, que consiste num bom guisado de peixe com farinha, ou podemos sempre petiscar um catato ou deliciar-nos de um pincho acebolado de carne de caça.
Tenhamos a coragem de substituir os frutos secos por jinguba torrada, banana-pão assada e outros quitutes da terra deliciosos e nutritivos. Substituamos os sumos importados, autênticos corantes com água, por sumos naturais de manga, limão ou ananás (abundantes nesta época do ano), que são, de longe, muito mais saborosos e saudáveis.
Nesta ceia de Natal, as mesas angolanas devem estar recheadas de produtos nacionais, preferencialmente, valorizando a nossa produção nacional, promovendo o que é nosso, que é bom e todos gostam.
Na troca de presentes, privilegiemos aqueles que são de origem nacional, materiais produzidos com os panos africanos, artesanato, obras dos nossos artistas plásticos, musicais e audiovisuais.
Sem esquecer as maravilhosas obras literárias dos nossos escritores. Se não tiver condições financeiras, não compre uma árvore de Natal, bonequinhos do Pai Natal ou coisas similares, que nada agregam.
Se quiser, use o galho de uma árvore, limpe-a bem e decore com o que puder. Use papel branco, lápis de cor e faça você mesmo, com os seus filhos, a decoração possível.
É mais divertido, menos dispendioso e permite criar memórias felizes e inesquecíveis para as crianças. A ideia é identificar, na sua comunidade, formas de transformar o Natal num evento diferente, o pretexto para usar massivamente os produtos nacionais, visando economizar os nossos já escassos recursos e ajudar indirectamente os nossos produtores e vendedores.
Tornar o Natal angolano é uma forma de evitarmos gastos avultados e descontrolados, que não agregam valor real à nossa saúde. Vencer o complexo de imitar culturas de outros povos tem-nos levado a excessos que podemos evitar, para que o Natal não seja um peso financeiro exagerado e que Janeiro deixe de ser o famoso “mês da fome”.
Por: OSVALDO FUAKATINUA