Os moradores da aldeia Cassanga Ca-Luís e Lar de Acolhimento Santa Josefina Bakhita receberam visita de um grupo de médicos, enfermeiros, técnicos de ONG e famílias, no último fim-de-semana, numa acção virada para as comemorações natalinas.
Morador da aldeia de Cassanga Ca-Luís há 10 anos, Paulino Gamba, de 58 anos de idade, conta que os residentes nesta localidade provêm das províncias de Malanje e Cuanza Norte e, a sua maioria, exerce actividade agrícola e pesca artesanal, tendo o período chuvoso o de maiores dificuldades por conta das cheias que devastam as suas culturas.
A falta de acesso via terrestre, escola e hospital na localidade representam preocupação para to- dos os moradores, pois têm um único professor que lecciona a 1.ª e 2.ª classe, no período da tarde, porque ele mesmo é estudante da 10.ª classe na sede do município, no período da manhã.
O único professor da comunidade é José Paulino, de 19 anos de ida- de, que cursa ciências económicas e jurídicas no Liceu 7026, na Muxima. Reside na aldeia há 15 anos, e conta que, para custear os estudos, desenvolve também actividade agrícola. Por falta de um posto médico, vezes há que são obrigados a fazer a travessia do rio Kwanza em busca de atendimento médico e medicamentoso, tendo registos altos de mortes durante a viagem. Para a população se locomover, usa a canoa e, por pessoa, paga-se mil kwanzas a cada viagem.
A aldeia de Cassanga Ca-Luís, algum tempo atrás, não tinha muita população como agora, de acordo com o Padre da região, que já fez chegar as preocupações à administração local e lhe foi orientado que aguarde. Padre Lourenço Domingos pertence ao clero diocesano de Luanda, trabalha no Santuário da Nossa Senhora da Muxima desde 2021, e conta que na aldeia foi erguida uma comunidade religiosa designada Santa Rita de Cássia, e por meio desta foi possível contabilizar que vivem na região 250 famílias.
“Aqui era um centro quase esquecido, que não tinha muitos moradores, mas actualmente podemos observar que o número de residentes aumentou consideravelmente, por isso, há a necessidade de trazer à aldeia escolas, centro médico, entre outros serviços básicos, de modo a que a população possa sobreviver”, frisou Padre Lourenço.
Disse ainda que o acesso é deficitário, sobretudo em época de chuva, mas pode-se chegar, apesar das dificuldades, tal como tem chegado para fazer trabalho de sacerdote, docência e, por vezes, de medicina. Defende que é possível chegar com frequência, desde que quem de direito tenha boa vontade.
Padre Lourenço afirma que não tem registado muitos casos de mortes, o contrário do número de doentes, e para minimizar a situação tem solicitado apoio de algumas clínicas que se deslocam à aldeia. Os casos mais graves são transportados para a vila da Muxima, onde são assistidos.
O padre apelou à sociedade a olhar para as pessoas mais necessitadas, lembrando que “dar a um pobre é emprestar a Deus. Por outra, todo acto de solidariedade recebe recompensa da parte de Deus, por isso, olham para a comunidade de Cassanga Ca-Luís, assim como outras que carecem de atenção, a fim de fazerem chegar escolas, centros médicos e outros bens de primeira necessidade”, sustenta.
Lar Josefina Bakhita clama por patrocínios de cursos profissionais
Por outro lado, o Lar de Acolhimento Santa Josefina Bakhita também foi um dos contemplados desta acção de solidariedade. Fundado no município de Catete, em 1994, pela congregação das irmãs escravas da Santíssima Eucaristia da Mãe de Deus, olar inicialmente acolhia crianças que viviam nas ruas e as que não tinham possibilidades de estudar.
Actualmente, o centro está localizado no Gamek à direita, e acolhe 40 meninas dos dois aos 18 anos de idade, que chegam no lar batendo a porta, por indicação, falta de condições dos pais, filhos de pais alcoólatras ou órfãos. Irmã Verónica Cuva, a coordenadora, disse que uma das principais dificuldades que têm registado tem a ver com a falta de formação profissional.
No centro, as meninas têm apenas o ensino básico e os cursos técnicos, que anteriormente eram financiados pelos padrinhos, actualmente não existem, o que lhe preocupa. Por outra, o lar Josefina Bakhita não tem financiamento directo, apenas depende de doações esporádicas. A Irmã apelou às famílias que cuidem bem das crianças, tendo em conta que é o local ideal onde devem viver, e não no lar – que é uma alternativa.