Na vastidão da selva da Zona Verde, onde a sobrevivência é uma luta constante contra os desafios da natureza urbana, um grande dilema surgiu: quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Embora fosse uma questão filosófica aparentemente simples, naquela tarde quente de verão, a dúvida tomou proporções políticas, refletindo um dilema ainda maior que afeta a todos: a eterna busca por soluções rápidas que muitas vezes ignoram as raízes mais profundas dos problemas.
Na clareira central da selva, tradicionalmente um ponto de encontro entre os animais e as criaturas locais, a multidão estava ansiosa para ouvir as novidades.
O chefe da selva, um leão imponente, com um olhar penetrante e um rugido que parecia mais um truque de liderança, subiu à rocha improvisada, pronto para anunciar seu mais recente plano.
“Precisamos de mais ovos”, começou, com o tom autoritário de quem acredita que, com um bom discurso, pode resolver qualquer coisa. “O povo precisa de mais galinhas, e as galinhas precisam de mais ovos.
Vamos investir na criação de galinhas em grande escala aqui, na Zona Verde!” Do outro lado da clareira, um grupo de animais mais astutos trocava olhares, cientes de que mais uma vez seriam enredados em promessas vazias.
Dona Marta, uma coruja sábia e velha conhecida por sua visão aguçada, levantou-se de seu galho, desafiando a proposta do leão. “Mas como teremos galinhas se não temos ovos para incubar? Estamos falando de prometer um futuro sem antes criar uma base sólida”, questionou, com sua voz calma, mas carregada de experiência.
“Não podemos começar pelo fim, devemos olhar para as raízes, como sempre fizemos na floresta.” O leão, com sua habilidade política, desviou da questão com facilidade. “O importante é pensar no futuro.
O ovo virá depois, a galinha virá depois. Precisamos investir agora, no que é mais imediato!” A multidão, composta em grande parte por jovens animais cheios de esperança, aplaudiu, sem entender a verdadeira profundidade da proposta. Afinal, quem não desejaria ovos fresquinhos todos os dias? A discussão, como era de se esperar, se estendeu por horas.
Os mais jovens, animados com as ideias tecnológicas, sugeriam que o galinheiro fosse construído com as mais modernas invenções da selva: câmeras de monitoramento, controle automático de temperatura e até mesmo alimentação por robôs.
“A selva do futuro não pode ser antiquada”, defendeu Tiago, um jovem macaco engenhoso, que via na inovação uma maneira de resolver os problemas da floresta. “Precisamos de uma solução eficiente, como as que vemos em outras selvas mais desenvolvidas.”
Por outro lado, os mais velhos, com mais experiência e uma visão crítica sobre as promessas dos líderes, sugeriam cautela. “Por que não começamos pelo básico, com ovos de qualidade, para garantir que as galinhas cresçam saudáveis e fortes?” sugeriu João, uma tartaruga velha e prudente, que conhecia os terrenos e os desafios da vida na floresta.
“Não podemos fazer promessas vazias, nem esperar milagres. Precisamos de algo real, que comece pequeno, mas com um plano sólido.” O leão, impaciente para não perder o apoio de sua plateia, respondeu com mais entusiasmo do que nunca: “Mas, se não acreditarmos no futuro, como podemos esperar pelas galinhas?” Em um gesto teatral, ele ergueu as patas dianteiras para o céu, como se estivesse falando de um grande plano de conquista da selva. A multidão, embora dividida, aplaudiu novamente.
No entanto, para alguns, sua fala soava mais como um truque político do que uma proposta realista. Naquela noite, enquanto os animais se dispersavam pela selva, muitos continuavam a refletir sobre o que aconteceu naquela clareira.
Seriam os ovos a promessa de um futuro próspero, como dizia o leão, ou seriam as galinhas, com sua produção constante e resistente, a verdadeira chave para o futuro da floresta? O plano avançava, mas as promessas estavam envoltas em dúvidas, como um ovo intacto, esperando para ser quebrado.
Este episódio, aparentemente simples, serve como uma metáfora para o dilema central da política. A selva, tal como a questão do ovo e da galinha, está presa a um ciclo de promessas que, muitas vezes, não se concretizam de forma eficaz.
A política, aqui, se torna uma questão de soluções rápidas e superficiais, sem compromisso com as raízes, com o desenvolvimento sustentável e com a criação de uma infraestrutura sólida.
Quem tem razão, afinal? O ovo, com sua promessa de um futuro próspero, ou a galinha, com sua produção constante e visível, que não necessita de grandes promessas, mas de trabalho diário e comprometido? Este é o dilema que deveria estar na agenda de discussão da selva.
Os animais, cansados de promessas vazias e soluções mágicas, começam a perceber que o verdadeiro progresso não vem de palavras, mas de ações concretas que respeitam o tempo necessário para a construção de uma base sólida.
A política, muitas vezes, oferece galinhas e ovos como respostas rápidas para problemas complexos. Contudo, o que é preciso entender é que, como na floresta, as soluções não surgem da noite para o dia.
O verdadeiro desafio não é escolher entre o ovo e a galinha, mas sim como criar as condições para que ambos possam coexistir de maneira sustentável e produtiva.
Os habitantes da Zona Verde, como muitos outros na selva, estão cansados de promessas que nunca se realizam. Eles sabem que, no final das contas, o que se espera não é uma galinha que canta alto no início, mas uma que, dia após dia, põe ovos de qualidade, garantindo o futuro das gerações. A política não pode continuar sendo um jogo de palavras vazias.
Deve ser um trabalho constante, feito com paciência, respeito pela realidade e, acima de tudo, com compromisso com as raízes que realmente sustentam o futuro.
Por: RIBAPTISTA