Na comparação com o segundo trimestre de 2024, ajustada sazonalmente, o crescimento foi de 2,94%, sendo este desempenho reflectido por avanços em sectores estratégicos como a pesca, o comércio e a extracção de diamantes, confirmando a recuperação económica do país.
Os sectores que mais contribuíram para o crescimento foram a extracção e refino de petróleo, com impacto de 0,43 pontos percentuais (p.p.); o comércio, com 0,4 p.p., a pesca, com 0,3 p.p., a extracção de diamantes e outros minerais, com 0,24 p.p., e correios e tele- comunicações, com 0,12 p.p.
A agropecuária destacou-se com um crescimento de 4,3%, contribuindo com 0,23 p.p. para o PIB. Este desempenho, segundo as contas trimestrais do INE, foi impulsionado pelo aumento de 5,5% na produção de culturas agrícolas, que representam mais de 85% do sector.
A pesca, por sua vez, registou um crescimento de 24,4%, contribuindo com 0,58 p.p. Este resultado deveu-se à flexibilização do período de veda e à implementação de um projecto-piloto que optimizou operações na pesca industrial, se- mi-industrial e artesanal.
O sector petrolífero, responsável por 29,3% do PIB, registou crescimento de 3,0%, com impacto de 0,66 p.p. Segundo o INE, o resultado deve-se ao aumento de 2,2% na produção de petróleo bruto e de 14% no gás natural liquefeito (LNG). Já a extração de diamantes cresceu 42,1%, graças à entra- da em operação de novos projectos, contribuindo com 0,85 p.p.
O comércio, que representa 22,5% do PIB, teve crescimento de 4,7%, adicionando 0,64 p.p. ao resultado geral, já os transportes avançaram 6,7%, reflexo do aumento no transporte rodoviário de passageiros.
O sector de telecomunicações, conforme o relatório, cresceu 4,3%, impulsionado pela maior produção de Unidades Tarifárias de Telecomunicações (UTT). Já a construção registou um aumento de 1,7%, enquanto a indústria transformadora avançou 3,3%, com destaque para a fabricação de bebidas, produtos minerais e cereais.
Apesar do cenário positivo, nem todos os sectores apresentaram crescimento, com a intermediação financeira e seguros que teve queda de 6,3%, retirando 0,06 p.p. do PIB, resultado atribuído à redução de 42% na produção do Banco Central, associada ao aumento de preços. No acumulado do ano até o terceiro trimestre, o PIB cresceu 4,7% em relação a 2023, destacando-se a extracção de diamantes com 36,8%, transportes com 14,1% e pesca com 11,6% como os principais impulsionadores.
Diversificação económica e sustentabilidade
Segundo o economista Marlino Sambongue, os sectores da pesca e da extracção de diamantes foram fundamentais para o crescimento de 5,5% do PIB no terceiro trimestre de 2024, contribuindo para a diversificação económica do país.
A pesca, por sua intensidade em mão de obra, impulsiona o número de empregos e fortalece a soberania alimentar, enquanto os diamantes impactam directamente as exportações e a arrecadação fiscal. Para acelerar a diversificação e reduzir a dependência do petróleo, Marlino Sambongue sugere medidas como investimentos em infra-estrutura rural, promoção de energias renováveis, criação de zonas económicas especiais e simplificação tributária para incentivar exportações.
Recomenda também acções para estabilizar o sector financeiro, como reformas no sistema bancário, expansão de microfinanças e redução do custo do crédito. Além disso, o economista destaca a necessidade de modernizar a infraestrutura logística, incluindo portos, aeroportos e caminhos-de-ferro, e promover o turismo e a habitação para dinamizar o comércio e o sector de serviços.
Programas de qualificação técnica são apontados como essenciais para aumentar a competitividade e gerar empregos em sectores estratégicos, como agricultura, indústria e construção civil. Essas acções, segundo Sambongue, são essenciais para garantir um crescimento económico mais sustentável e inclusivo.
Dívidas das empresas
O também economista Eduardo Manuel, destaca o impacto positivo dos sectores das pescas e da extracção de diamantes no crescimento do PIB, impulsionado por medidas governamentais de captação de investimentos e melhorias na gestão desses sectores. Para acelerar a diversificação económica e reduzir a dependência do petróleo, Eduardo Manuel sublinhou que o Governo deve continuar a estabelecer parcerias com instituições financeiras para oferecer crédito ao sector privado, abrangendo não apenas a produção de produtos essenciais, mas também produtos com potencial de exportação, como o cacau.
Além disso, é fundamental fortalecer a educação agrícola, dada a carência de mão-de-obra qualificada. O economista sugere a implementação de políticas económicas que promovam isenções fiscais e redução das taxas de câmbio, com foco em apoiar as províncias mais pobres.
Menciona que a queda de 6,3% na intermediação financeira e seguros foi impulsionada pela alta nos preços, e recomenda que as empresas adoptem estratégias como renegociação com clientes e a diversificação de produtos e serviços.
No que se refere aos sectores do comércio, transporte e construção, Eduardo Manuel sugere que o Governo pague as dívidas das empresas públicas e privadas, privatize parcialmente essas em- presas e negocie linhas de crédito para novos investimentos. A formação de pessoal qualifica- do e o investimento contínuo em infraestrutura também são essenciais para o crescimento desses sectores. Com essas medidas, as províncias poderão se autofinanciar, contribuindo para o crescimento económico local e regional.
Reformas regulatórias
Para Janísio Salomão, também economista, este aumento nas pescas foi impulsionado pelas melhorias na gestão e investimentos em equipamentos, enquanto a extracção de diamantes cresceu 42,1% devido à entrada de novos projectos e a recuperação beneficiada pela procura internacional.
Para continuar com a diversificação económica e reduzir a dependência do petróleo, é essencial priorizar o desenvolvimento de infraestruturas logísticas, incentivos fiscais e a formação profissional, além de promover o empreendedorismo e o apoio a startups. Janísio enfatizou que, no sector financeiro, a queda de 6,3% reflecte desafios macroeconómicos, como a diminuição da produção do Banco Central e a redução da liquidez no mercado.
A recuperação do sector financeiro, segundo o economista, requer reformas regulatórias, digitalização, políticas cambiais e acções de recapitalização para restaurar a confiança e estabilizar a economia.
POR:Francisca Parente