A agenda da visita de João Lourenço inclui a inauguração de um Fórum Empresarial, subordinado ao tema “África do Sul e Angola: Trabalhar Juntos para Forjar uma Nova Era de Cooperação e Parcerias para Aumentar o Comércio e o Investimento Mutuamente Benéficos”. Vincent Magwenya explicou que o Presidente Cyril Ramaphosa recebe amanhã o seu homólogo angolano, João Lourenço, no Union Buildings, numa visita cujo objectivo principal é a solidificação das relações entre ambos os países.
A comentar a visita do estadista angolano em terras de Mandela, João Bendito, especialista em relações internacionais, referiu que o fórum constituir-se-á numa plataforma fundamental para se discutir as parcerias económicas e aumentar o comércio bilateral, essencial para os dois países que compartilham uma longa história de colaboração e um compromisso contínuo com o desenvolvimento regional.
“Esta visita representa um marco importante para a consolidação das relações, sobretudo num contexto onde a África do Sul e Angola desempenham papéis estratégicos na mediação de conflitos regionais e na promoção da estabilidade”, afirmou João Bendito.
Relações económicas João Bendito abordou a relevância dos acordos económicos entre Angola e África do Sul, mas alertou para os desafios da sua implementação. “O problema agora é efectivar esses acordos económicos”, observou, lembrando que uma questão particularmente sensível é o impacto económico do transporte de cobre extraído na República Democrática do Congo (RDC).
Até então, disse, o mineral era exportado da RDC para fora do continente através da África do Sul, mas a utilização recente das rotas angolanas, como a do Cor- redor do Lobito, tem alterado esta dinâmica.
“A África do Sul já não vai receber em grande escala o cobre do Congo; vai passar pelo Corredor do Lobito. Isso vai ter influência no nosso relacionamento económico”, explicou. Por outro lado, João Benedito ex- plicou que as diferenças nas alianças políticas e económicas entre os dois países, com Angola a inclinar-se mais aos Estados Unidos, enquanto a África do Sul mantém laços mais fortes com blocos como os BRICS, terão de ser também discutidas. “Isso também não cai bem em relação aos sul-africanos, e os dois estadistas terão que esclarecer essas situações”, disse.
Segurança regional
Seguramente, afirmou o especialista, as questões de segurança regional estarão também no centro das discussões. Aliás, lembra que, para além da segurança nos países membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), onde Angola e África do Sul têm interesses comuns, os chefes de Estado deverão, ainda, abordar a crise política em Moçambique, marcada por uma onda de contestação aos resultados eleitorais de Outubro e os persistentes conflitos no leste da República Democrática do Congo (RDC), país com uma extensa fronteira com Angola.
João Benedito ressaltou que a RDC é, hoje, um palco de interesses concorrentes, com a África do Sul e Angola a adoptarem abordagens distintas para lidar com o conflito. “A Angola está a mediar o conflito da RDC, enquanto a África do Sul enviou tropas por conta própria, sem coordenação com outros membros da SADC”, comentou.
Outrossim, lembrou que, num passado não muito distante, as acções conjuntas da SADC foram mais eficazes, como na intervenção contra o grupo M23 em 2012. Contudo, a actual falta de alinhamento compromete os esforços na região. “Os interesses não coincidem, cada país tem a sua agenda, mas é necessária uma maior cooperação”, asseverou.
Ressaltou, por isso, que esta visita de João Lourenço não só reforça os laços económicos entre os dois países, mas também posiciona Angola e a África do Sul como potências mediadoras de conflitos regionais. “Com a experiência e a influência que ambos os países têm, eles são bem posicionados para desempenhar um papel de liderança na resolução de conflitos na região”, afirmou.
Relação de cooperação
As relações entre Angola e África do Sul, o país mais industrializado da África Austral, estão estrutura- das pelo Acordo Geral de Cooperação Económica, Científica, Técnica e Cultural assinado em 1998, e pela Comissão Bilateral estabelecida em 2000. Ademais, a visita do Presidente Ramaphosa a Luanda em Agosto deste ano assinalou a importância estratégica de Angola para os interesses sul-africanos, especial- mente em termos de mediação de conflitos e segurança regional.
Os dois líderes deverão ainda discutir outras áreas-chave de cooperação bilateral, como a produção de energia eléctrica, mineração e agricultura. Segundo João Bendito, “estas são as áreas onde os dois países podem trabalhar juntos com vista a impulsionar o desenvolvimento económico mútuo e enfrentar desafios comuns, como o acesso aos recursos naturais e a sustentabilidade ambiental”.