Sob a liderança do Presidente João Lourenço, Angola aprofundou as suas relações diplomáticas e estratégicas com os Estados Uni- dos da América, o que constitui uma realidade política incontornável que os seus opositores inevitavelmente terão de reconhecer.
Para a UNITA, o maior partido da oposição, a crescente aproximação entre o Executivo angolano e Washington revela- se paradoxal. Embora a cooperação bilateral traga claros benefícios ao desenvolvimento do país, ela colide com os interesses políticos e estratégicos da UNITA.
Historicamente, a proximidade entre Angola e os EUA tem sido um elemento de fragilização para a UNITA, particularmente no cenário pós-Guerra Fria. Durante longos anos, a UNITA usufruiu de significativo apoio financeiro, militar e diplomático proveniente de Washington, alinhando-se aos interesses geoestratégicos dos Estados Unidos na África Subsaariana.
Contudo, uma sucessão de erros de cálculo estratégico de Jonas Savimbi, conjugada com a magistral diplomacia de José Eduardo dos Santos, resultou no reconhecimento formal do governo angolano pelos EUA em 1993. Este movimento diplomático, de grande relevância histórica, isolou Savimbi no plano internacional e enfraqueceu gradualmente as suas ambições políticas e militares. Tal conjuntura culminou, inevitavelmente, na sua morte em 2002 e no término da guerra civil angolana.
Três décadas após a normalização das relações entre Angola e os Estados Unidos, o fortalecimento destes laços bilaterais já não se pode atribuir a eventuais falhas estratégicas da UNI- TA, mas sim à perspicácia política de João Lourenço.
O esta- dista angolano tem conduzido uma agenda reformista robusta, centrada na reestruturação da economia e na implementação de reformas institucionais que visam criar um ambiente mais favorável à captação de investimentos estrangeiros.
Outrossím, tem priorizado a manutenção da estabilidade político- militar, elemento fundamental para o progresso e impulsionado a valorização e revitalização das infraestruturas críticas, essenciais para o crescimento económico e o desenvolvimento integrado de Angola no cenário global.
Embora José Eduardo dos Santos tenha, em diversos momentos, cultivado uma proximidade estratégica com os Estados Unidos, foi sob a liderança de João Lourenço que esta relação alcançou dimensões outrora inimagináveis. Iniciativas cruciais, como o Corredor do Lobito, ganharam novo ímpeto no seu consulado e afiguram-se como pilares fundamentais da parceria com o Ocidente.
A aproximação entre Angola e os EUA, sob este prisma, transcende os interesses imediatos de qualquer administração específica, representa a consolidação de uma relação que, ancorada nas reformas estruturais conduzidas por Lourenço, procura afirmar Angola como um actor central no tabuleiro geopolítico africano.
Em 2022, a UNITA tentou, sem sucesso, construir uma narrativa em torno de uma suposta recepção de Joe Biden a Adalberto Costa Júnior como uma vitória política sobre o MPLA. No entanto, esta tentativa revelou-se um claro “bluff”, dado que Costa Júnior, durante as suas visitas aos EUA, conseguiu encontros com entidades como a National Endowment for Democracy (NED) e, no que tange ao governo norte-americano, contactou apenas oficiais de escalão inferior do Departamento de Estado.
Em contrapartida, figuras de grande relevância na adminis- tração americana, com capacidade real para influenciar a tomada de decisões, como Amos Hochstein, Jake Sullivan, Anthony Blinken, Lloyd J. Austin, Molly Phee e Helena Matza, mantiveram relações privilegiadas com o governo angola- no e têm um papel determinante no sucesso da parceria entre os dois países.
A presente administração norte-americana, talvez a mais favorável ao governo angolano em décadas, consolidou laços que a UNITA, num cálculo impreciso, esperava utilizar em seu benefício. O Embaixador dos EUA em Angola, Tulinabo Mushingi, outrora visto por certos sectores da oposição como um elemento chave para a desestabilização do poder do MPLA, proferiu, três meses antes do último pleito eleitoral, um comentário incisivo, em que afirmou que Angola tem vindo a consolidar um conjunto de reformas políticas, económicas e sociais de forma clara e visível.
A sua declaração — “só não vê quem não quer ver” — ecoou como um veredicto que contrariou os interesses da oposição. Após as eleições gerais de 2022, a incerteza que pairava sobre a normalização político-institucional dissipou-se rapidamente com a felicitação do governo americano ao governo angolano eleito, um gesto inédito em tempos de paz, cuja última ocorrência remontava a 1992.
Este reconhecimento oficial relegou a UNITA à mesma sensação de isolamento vivida três décadas antes, quando Jonas Savimbi viu as suas aspirações políticas desmoronarem. A nota do Departamento de Estado dos EUA, a 9 de setembro de 2022, marcou um xeque-ma- te no contexto eleitoral, pois legitimou o MPLA no cenário internacional, desarmou as principais linhas de contestação da oposição, que se alicerçavam na expectativa de uma intervenção decisiva do Ocidente em prol da alternância política e impeliu o Partido do Galo Negro à posição mais moderada e institucionalizada.
No dia 10 de setembro, às vésperas da cerimônia de posse do Presidente da República, agendada para o dia 15, já era visível a movimentação de altos quadros da UNITA nos bastidores da Assembleia Nacional. Uma imagem que capturou um encontro entre o Secretário para Assuntos Políticos e Parlamentares do Presidente da República, um deputado do MPLA (posteriormente Governador) e um parlamentar da UNITA revelava os primeiros indícios de que o partido do Galo Negro tomaria o seu lugar no Parlamento. Neste contexto, Adalberto Costa Júnior, que até então reiterava a narrativa da fraude eleitoral, fez uma declaração surpreendente ao afirmar que nunca falou em fraude eleitoral.
Esta afirmação, aliada ao facto de que ele e outros membros proeminentes da UNITA, que não reconheciam a legitimidade do Presidente da República, assumiram os seus assentos como deputados (e membro do Conselho da República, no caso do líder da UNITA) na nova legislatura, contrastava profundamente com as manifestações mais radicais da propaganda promovida pela UNITA e pessoas ou grupos associados à sua campanha, que clamavam por acções extremistas, como a ocupação do Palácio Presidencial na Cidade Alta (tal como sucedeu no Sri Lanka naquele ano).
Desde então, a cooperação entre os Estados Unidos e Angola tem-se intensificado de forma notável, com Angola a assumir um papel cada vez mais relevante nas dinâmicas de parceria transatlântica. A adesão como membro fundador da Parceria para a Cooperação Atlântica, bem como o impulso de iniciativas como o maior projecto de eletrificação dos EUA em África e o apoio à prospecção do estratégico Corredor do Lobito, servem como alicerces para uma relação bilateral que transcende meros interesses económicos, consolidando-se no campo da geopolítica e do desenvolvimento estratégico. Durante uma recepção formal ao Presidente João Lourenço, Joe Biden não deixou margem para dúvidas ao declarar: “Angola é o Estado mais importante para os EUA em África”.
A centralidade que o país adquiriu na política externa americana em África é inequívoca. Os rumores sobre uma possível visita de Biden a Angola intensificaram-se, especialmente após as promessas articuladas no encontro realizado na Casa Branca em novembro de 2023. Tais desenvolvimentos foram amplamente facilitados pelas diligências do governo angolano, auxiliado pela renomada firma de lobby americana Squire Patton Boggs.
Neste sentido, a visita de Biden deixou de ser uma mera especulação e passou a ser vista como uma inevitabilidade, um reconhecimento dos avanços diplomáticos conseguidos pela liderança de João Lourenço. Perante este quadro, os críticos procuraram minimizar os sucessos da diplomacia presidencial, visaram e têm visado a desvalorização dos progressos obtidos pelo governo do MPLA no plano da política externa.
Esta postura insere-se num continuum da disputa política que tem as suas raízes no período da guerra civil, quando a UNITA e o MPLA se encontravam em la- dos opostos de uma guerra de interesses e narrativas. Hoje, a oposição, sobretudo a UNITA, parece ainda presa a um paradigma ultrapassado, incapaz de reconhecer as transformações que Angola atravessa, particularmente no seu realinhamento estratégico com as grandes potências ocidentais, com especial destaque para os Estados Unidos.
POR:Hotalide
Domingos