A coordenadora do programa saúde sexual reprodutiva e ponto focal do VIH pelo Fundo das Nações Unidas para População (FNUAP) em Angola, Ana Cristina Lima, disse, ontem, que a iniciativa é abrangente e o projecto vai-se desenvolver em cinco províncias, nomeadamente Malanje, Bié, Namibe, Cunene e Luanda.
A sua instituição tomou a iniciativa do programa porque 38% das mulheres em idade reprodutiva (15 – 49 anos) não têm acesso ao planeamento familiar, sendo que a cifra aponta 48% dos 15 aos 19 anos de idade.
Quanto aos partos de adolescentes e mulheres jovens estão em 45% dos 10 aos 24 anos, sendo que nesta faixa etária 35% das raparigas já engravidaram.
Segundo Ana Cristina Lima, 630 mil nascimentos anuais são de adolescentes e jovens que se tornam mãe pela primeira vez.
Assim sendo, 75% das adolescentes frequentam o ensino primário e apenas 15,5% prosseguem para o ensino secundário.
Entretanto, 33% das mulheres em idade reprodutiva (15 aos 49 anos) já reportaram alguma incidência de violência ao longo da vida.
O programa é financiado pela embaixada da Noruega, com um valor total de dois milhões e 857 mil dólares e vai durar quatro anos (2024-2028).
O projecto vai permitir capacitar 500 profissionais de saúde, 250 líderes comunitários e prevê beneficiar 50 mil jovens e adolescentes.
Para além de beneficiar os jovens e adolescentes que estão dentro do sistema de ensino, vai também chegar para os que se encontram fora.
A comunidade será o foco do programa, com a finalidade de aumentar a cobertura dos serviços de saúde sexual e reprodutiva para adolescentes, jovens e mulheres, utilizando a Gestão da Saúde Menstrual (GSM) como ponto de entrada nas provínciasalvo.
A representante do Fundo das Nações Unidas para População (FNUAP) em Angola, Rinko Kinoshita, frisou que as cinco províncias da implementação do programa, nomeadamente Malanje, Bié, Namibe, Cunene e Luanda, foram escolhidas com base nas elevadas taxas de gravidez na adolescência.
Bem como a baixa taxa de escolarização feminina no ensino secundário, além das maiores taxas de pobreza multidimensional e da vulnerabilidade às alterações climáticas.
De acordo com Rinko Kinoshita, para enfrentar esses desafios, o programa contribuirá para reduzir a mortalidade materna por hemorragia em 50%, alcançar 50 mil adolescentes com educação sexual abrangente, e para que 300 adolescentes e jovens desenvolvam o seu conhecimento em higiene e gestão menstrual.
Referiu que essas acções visam contribuir para a redução da taxa de gravidez precoce, além de fortalecer a prevenção e resposta à violência baseada em género.
Para alcançar esses objectivos, o FNUAP vai trabalhar em estreita colaboração com o Ministério da Saúde, da Educação, MASFAMU, da Justiça e Direitos Humanos, do Interior, autoridades locais, organizações da sociedade civil e outros parceiros, em colaboração com outras agências das Nações Unidas.
Rinko Kinoshita disse ainda que o programa apresenta um perfil integrador para superar os desafios enfrentados pela juventude, conforme delineado no Plano de Desenvolvimento Nacional e a estratégia de longo prazo – Angola 2050, também para os objectivos de desenvolvimento sustentável – Agenda 2030.
Programa vai melhorar a qualidade do capital humano
Por seu turno, o embaixador da Noruega, Bjornar Dahl Hotvedt, afirmou que o programa irá contribuir para a melhoria da qualidade do capital humano do país, mantendo as raparigas mais tempo na escola, tendo em conta que se pensa em grandes acções e projectos para proteger os direitos humanos.
Porém, a realidade mostra que se pode começar com pequenas acções e ter um grande impacto na vida dos beneficiários.
“Estamos muito optimistas em relação a esta nova colaboração. Principalmente porque o seu sucesso passa pelo envolvimento das comunidades.
Esperamos que estas tenham o sentido de pertença, que participem activamente e que possam dar continuidade às acções, mesmo depois do fim do programa”, frisou Bjornar Dahl Hotvedt.
Disse ainda que almeja que os resultados destas cinco províncias se tornem uma contribuição importante para o país inteiro. Lembrando que a igualdade de género não é simplesmente uma opção política, mas um direito humano, porque garante às mulheres o direito de participar plenamente na sociedade.
É também a chave para desbloquear o potencial económico de um país. A Noruega não seria um país próspero sem a participação das mulheres em todos os sectores e a todos os níveis. Apelou a todos que se juntem aos esforços para a dignidade da pessoa e para uma sociedade mais justa e próspera.