Há coisas que não deveriam ser menosprezadas, não importando de onde venham. Por isso, não olhei de soslaio apenas quando, há uns dois ou três meses, num perfil bastante concorrido, surgiu a foto de um cidadão, apontado como tendo sido altamente perigoso ou ter cometido alguns crimes graves, envergando as vestes de uma instituição ligada ao Ministério do Interior.
Não me lembro de ter visto dias depois algum desmentido do acusado, o que poderia acabar por confirmar a informação inicialmente avançada.
Ironicamente, a instituição em questão era mesmo o Serviço de Migração e Estrangeiros (SME). Nos tempos que correm, muitos são os cidadãos que se vão questionando sobre o processo de selecção dos novos efectivos da Polícia Nacional, independentemente da área.
Com regularidade, surgem até mesmo nos órgãos de comunicação social casos de agentes e até oficiais da Polícia Nacional – e também das Forças Armadas – que levantam interrogações sobre o passado destes, porque principiantes no mundo do crime dificilmente teriam a ousadia de perpetrar tais actos.
Embora se acredite que muitos passem por uma formação semelhante aos demais efectivos da corporação, o certo é que a qualidade tem vindo a diminuir.
Os sinais de que os filtros para se aferir quem de facto está ou não habilitado a penetrar no seio de organismos como o SIC, SME ou até mesmo bombeiro parecem que estavam menos preparados para um pente fino mais rigoroso.
Só por isso que muitas das vezes até nos surpreendemos com indivíduos que conhecemos, com um passado nebuloso, mas nos surpreendem meses depois com fardas e até com patentes superiores às de muitos agentes ou oficiais que deram suor e sangue pela Polícia Nacional.
A grande verdade é que muitos acabam ingressando através de canais criados por diversos sectores, menos prezando até a delicadeza e o facto de se estar a colocar à disposição de gente indesejada informações que constituem segredo de Estado.
É por isso que, mais do que uma atitude atribulada, a intervenção feita pelo Ministério do Interior ao suspender o novo curso de formandos do SME deve ser encarada num acto que visa assegurar que as portas e fronteiras angolanas não fiquem de forma tão descancaradas, por se acreditar que até indivíduos estrangeiros e alguns malfeitores também estivessem a cursar para amanhã usarem uma farda que deve ser sinônimo de protecção e integridade dos interesses da Nação.
A esta hora, acredito, o nome do ministro Manuel Homem estará a ser chamuscado em alguns lares, por acreditarem que se estará a coarctar o sonho de muitos jovens.
O que não deixa de ser verdade. Mas, o interesse maior, que obriga a uma pré-avaliação do processo, exige que assim se aja para a segurança de todos.
Tal como outros sectores da vida política ou castrense, é imperioso que se olhe para quem são os que merecem, de facto, se tornar nos verdadeiros guardiões de uma maioria de angolanos, depois de muitos, incluindo oficiais superiores da Polícia Nacional e outras organizações, bem como militares e paramilitares, terem sucumbido facilmente ao poder do dinheiro e, com isso, terem permitido que qualquer um envergue a farda e tenha acesso às informações que nos podem deixar cada dia mais vulneráveis.