A alegria do pequenote, com um minúsculo pacote de leite, bolachas de água e sal e alguns cereais produzidos talvez a milhares de quilómetros da sua aldeia ou terra natal, foi divulgada naquele dia como uma espécie de trunfo aos que ainda duvidavam da existência do programa de Merenda Escolar, desenvolvido há vários ano pelo Executivo, embora ainda não abranja todo o território nacional.
Aquela imagem, passada há já alguns meses numa cadeia de televisão, na época, levou-me por instantes a reflectir sobre o percurso que os referidos terão feito até chegar às mãos daqueles e outros meninos.
Etambém se seria a melhor opção para cada um, tendo em conta as díspares necessidades nutricionais de muitas crianças, sobretudo numa fase em que o país vive uma crise acentuada, com famílias que hoje não conseguem sequer manter o habitual ciclo alimentar diário.
Quando mais novos, sobretudo em épocas natalícias, como a que se avizinha, era grande o frenesi em torno de muitos produtos expatriados que vinham integrados nos saudosos cabazes.
Mas, ainda assim, a realidade era de que, nos dias subsequentes, o cardápio seria constituído regularmente pelos produtos que consumimos no dia-a-dia, com destaque para o arroz, feijão, peixe, carne, as fubas de bombó e milho, batata-doce, rena e tantos outros de fácil localização por este país adentro.
É por isso que, sem qualquer demérito ao próprio programa de Merenda Escolar, que muito tem ajudado o alunos e impedindo-os de abandonarem as salas de aulas, nunca consegui perceber a não inclusão dos produtos locais que, na verdade, são a base da alimentação da população angolana.
Naquilo que poderia ser, por exemplo, um casamento perfeito entre os produtos locais e alguns importados – ou só agora produzidos entre nós – assistiu-se durante anos a uma quase exclusão de bens baratos e acessíveis para se incorporar na merenda outros mais caros, e alguns dos quais nem sequer naturais. Saberão as razões os então mentores de tais ideias.
O certo é que muitas delas acabavam por não colher, dado o impacto na saúde e até mesmo na própria economia do país, com particular destaque para as comunas e municípios, se se acreditasse desde o início que a feitura da merenda com produtos locais seria uma maisvalia para todos.
Quando falava sobre a fatia que o Ministério da Educação deverá receber no Orçamento Geral do Estado para o próximo ano, 2025, a titular da pasta, Luísa Grilo, informou sobre a mudança que se efectuará com a transformação do actual programa de Merenda Escol Programa de Alimentação Escolar Não sei se por força de designação, mas o certo é que a governante garantiu que nesta nova fase serão introduzidos, sobretudo, produtos locais provenientes da agricultura familiar.
Além de se tratar de produtos com os quais os miúdos devem estar mais habituados, sem descurar a introdução de outros, como leite, que poderão provir de outros territórios, esta alteração poderá alavancar igualmente a economia das referidas localidades em que estão as escolas a nível das comunas, municípios e províncias.
Embora seja uma solução que se possa pensar fácil, este processo exigirá uma maior entrega dos produtos locais, muitos dos quais acabam por se estragar por falta de escoamento.
Agora, resta saber se os habituais lobbies da importação e outros da distribuição, desta vez, pensem menos no dinheiro e mais naqueles que precisam de tais produtos.