Sempre que se fala sobre a fome no país, vem-me à memória a estória da mulher que perdeu três filhos durante a fase de seca no Cunene.
Foram dias penosos, em que pessoas e gado foram obrigados a percorrer centenas de quilómetros para conseguirem água e alguns alimentos para aliviar as exigências da barriga.
Já lá vão alguns anos. Mas, ainda assim, as recordações são perpétuas para a matriarca, que hoje consegue cuidar dos outros filhos sem quaisquer problemas.
Para ela, tudo seria mais fácil se ainda pudesse contar com a presença daqueles que já partiram devido à fartura que agora alcançou. É claro que hoje a fome se apossou até mesmo de partes das grandes cidades.
A presença de muitos cidadãos nos contentores de lixo, garimpando restos de alimentos e outros bens, persegue-nos dia-a-dia e é um mal que merece a atenção de todos, para que não seja uma constante.
Mas, lá no Cunene, onde antes se via o epicentro de tais problemas, aos poucos se vai ultrapassando os momentos de crise, havendo já uma produção de alimentos que vai apagando da memória a fase mais dolorosa em que a seca fustigou agressivamente milhares de angolanos.
Por estes dias, é de fome que se fala. Não só em Angola, como também noutras partes do mundo, incluindo no Brasil, país que acolhe a presente reunião do G20.
Há muito que os projectos em curso neste país lusófono têm sido amplamente aplaudidos, merecendo inclusive o reconhecimento de organizações internacionais.
E mais uma vez o Brasil, outra vez sobre liderança de Lula da Silva, quer voltar a se destacar neste quesito, uma vez que a era Bolsonaro acabou por reabrir a ferida da fome num dos países que mais produz e exporta produtos agrícolas no mundo.
Há alguns meses que ouvi falar na vinda de técnicos brasileiros que seriam destacados para o Sul do país, onde ensinariam os produtores locais sobre matérias ligadas à agricultura de subsistência e a técnicas de pecuária. Acreditamos que, se calhar, já cá estejam. O que é bom.
Não nos espantemos se, nos próximos meses, milhares de pessoas no interior, incluindo nas zonas mais afectadas, se possam ver livres do fardo da fome como resultado das políticas que foram há pouco gizadas pelo Executivo.
Aquilo que parecia uma miragem antigamente no Cunene, por exemplo, onde pessoas e milhares de cabeças de gado perderam a vida, é hoje uma realidade inspiradora nos arredores do Cafu.
É claro que amanhã, quando outros projectos estruturantes estiverem concluídos, se vai estender ainda mais este sucesso que poucos conhecem.
É sim tarefa do Executivo fazer com que os seus cidadãos não estejam privados de uma refeição condigna. Mas, quer se queira quer não, é uma tarefa em que o sucesso dependerá igualmente até mesmo do esforço daquele que mais precisa, sobretudo nestes tempos difíceis.