Há a renovação de mandatos nas diversas federações desportivas. No andebol, a anterior liderança foi reeleita, mas temos no basquetebol e futebol uma corrida com vários concorrentes. Como é que está a acompanhar o processo?
Diz bem, como é que estamos a acompanhar. Como sabe, nós não somos parte deste processo. É das federações, por via das suas assembleias gerais regulares o processo electivo para os novos ciclos olímpicos. Portanto, vamos acompanhando os passos de cada um, temos uma opinião já formada.
Sabe que estes processos todos dependem muito das pessoas e, infelizmente, há muita gente no desporto que não o vivencia porque nem sequer o praticou.
Então, os egos e os interesses pessoais muitas vezes se sobrepõem aos interesses da modalidade e, particularmente, dos jovens que a praticam.
E é para isso que temos estado a apelar para que esses que se dizem amantes da modalidade se dispam dos egos e pensem nas crianças que lá estão.
Se todos pensarem assim, fica fácil. Aconteceu com o andebol. Havia a possibilidade de haver duas ou três listas, sentaram-se, conversaram, criaram consensos e está aí o resultado: espectacular, sem problema nenhum e um bom exemplo. O futebol é um caso à parte.
No basquetebol, há várias candidaturas, as pessoas estão a desenvolver as suas campanhas, espero que se cumpram as regras e que no fim vença aqueles que têm direito a voto assim decidirem. Nós não temos influência nisso, em nenhuma federação.
Vamos acompanhando. Agora estamos a receber algumas reclamações, recursos hierárquicos e estamos a decidir sobre eles. Mas há coisas caricatas.
Há um indivíduo que, agora que o processo foi concluindo numa federação, entende que o processo deve ser prorrogado, porque ele também quer concorrer.
Cada um tem a sua lua. Então, nós aqui não temos nada a ver com isso. Vemos as questões de mérito e decidimos sobre elas.
Tudo que sejam litígios, os órgãos jurisdicionais é que têm que os resolver. E nós não somos de facto um tribunal. Quem tem que resolver são os tribunais.
Enquanto ministro tem certamente uma opinião ou não? Já expendi. Já reuni duas vezes com as federações, disse tudo o que tinha que dizer, discuti com cada um deles aquilo que poderia ser o interesse da modalidade, agora compete a cada um deles resolver os seus problemas.
Agora compete a eles resolverem os seus problemas. Aqueles que não resolverem os problemas no quadro legal, dia 1 de Janeiro serão suspensos. Não é um problema nosso, é um problema das federações.
Demos tempo e nos apercebemos que havia dificuldades, muitas manobras até por interesses de ordem pessoal nalgumas federações.
Sentamos todas as partes e refizemos o calendário, dando a oportunidade de que as pessoas se entrosassem e respeitassem as várias etapas.
Ninguém pode dizer que não recebeu orientação precisa sobre como desenvolver o processo. A partir daí, a responsabilidade é das federações nacionais.
A gestão dos fundos que as federações recebem tem sido convenientemente justificada?
Ainda há insuficiências, por isso é que estamos a tomar medidas. Sobre isso, por exemplo, as federações nacionais já sabem que vamos mudar a metodologia de prestação de contas.
Como é feita a prestação de contas?
Agora rege-se pela lei geral, que diz que tem que ser prestada a conta até Março do ano subsequente. Agora vamos começar a medir em função de duas coisas: prestação de contas e resultado. Repare uma coisa: quando é para sair, toda a gente faz conta, sabe quanto é que tem de pedir ao ministério para viajar.
Quando regressam, já não sabem quanto é que gastaram. Então, se isso acontecer, já não vão sair na próxima delegação. Isso é um problema da federação, não é um problema nosso. As pessoas têm que perceber que este país só se desenvolve com regras.
Este e qualquer um. E as regras têm que ser percebidas e aplicadas por todos. Não há filhos e enteados, todos têm que cumprir as mesmas regras.
Não estou preocupado que seja futebol, críquete, andebol. Estou preocupado com o cumprimento de regras. E são regras básicas.
Você na sua casa não gasta mais do que aquilo que você ganhano mês. Tens que fazer as suas contas e saber como vais gerir a sua família. Então, se você está a usar recursos de terceiros, essa responsabilidade tem que ser acrescida.
Porque sabes que tens que pedir 100 mil dólares para ir a um campeonato africano e quando chegas não prestas contas dos 100 mil dólares que recebeste. Agora você vai estar obrigado a fazer o relatório de viagem e anexar o relatório de contas.
Tem gostado do desempenho da selecção principal de futebol de Angola? Muito. Estamos a fazer um trabalho profícuo.
As pessoas já perceberam que temos que acabar com essa coisa de que quem está lá fora é uma coisa e quem está cá dentro é outra.
Somos todos angolanos, todos nós temos interesse em representar o país, devemos ser acarinhados e protegidos.
Não estamos a fazer aquilo que muitos países fazem e vocês acompanharam. Ainda agora nas olimpíadas foi muito mais visível.
Se nós temos um bom angolano a jogar em França, nós vamos buscar este angolano. Se temos um angolano bom a jogar na Inglaterra, nós vamos buscar esse angolano.
Claro que com as nossas limitações, e depende muito da predisposição dele de vestir o equipamento da selecção nacional.
A nossa bandeira. Uns preferem também priorizar os seus clubes, ok, é uma opção, mas nós não vamos deixar de os contactar e estamos a fazê-lo. Daqui a dias vão ter mais uma surpresa.
Orientamos a federação neste sentido, a federação está a fazer essa pesquisa, avaliações prévias, tem mandado os olheiros lá para fora para ir ver esses jogadores, comunicar com eles para ver a disponibilidade de virem representar o país. Estamos a seguir.
Não estamos a oferecer nacionalidade como alguns fazem. Estamos a ir buscar o que é nosso que está lá fora.
Teremos o Afrobasket no próximo ano, durante as celebrações dos 50 anos de independência de Angola. Tem muitas esperanças em vencer esta competição?
Tenho, por isso estamos a trabalhar. Estamos a criar condições para que a federação de basquetebol traga os melhores jogadores que temos para a selecção nacional, quer estejam a jogar aqui ou fora, e com isso criar uma equipa suficientemente forte para em casa nós recuperarmos o título de campeões africanos. Estamos a trabalhar neste sentido.
Que futuro se reserva aos estádios construídos durante o CAN 2010 e os pavilhões? Estão a ser restaurados.
E a gestão?
Está a falar da gestão das infra-estrutura?
Sim.
Hoje em Angola nenhum empresário tem condições para segurar uma infra-estrutura como o 11 de Novembro e explorar.
Não têm capacidade. Vou lhe dar um exemplo prático e que não tem nada a ver com megaestruturas desportivas. Perto de um 11 de Novembro, um IU é uma gota no oceano. No entanto, os IU até estão todos alguns deles ocupados.
Foram postos à venda em hasta pública. Quantos deles foram vendidos? Dois, três, 30, 40? Não sei… Então, multiplique um IU desses por 30 – e se calhar é mais pequeno que o 11 de Novembro. Então, o que é que o Estado tem que fazer? O Estado tem que requalificar estes espaços.
Quando estiver requalificado, aí sim oferecer a possibilidade de haver uma gestão privada. Com uma parceria público-privada para exploração daquele espaço.
Esse é o caminho a seguir. Antes disso, ninguém vai querer agarrar um 11 de Novembro, uma Arena, nem os pavilhões mais pequenos. Você veja que, mesmo havendo parceira, quando um pavilhão tem uma infiltraçãozinha, todos começam a gritar pelo ministério.
Os pavilhões que estão nas províncias, em primeira instância, servem as províncias. É para você ver o nível de sensibilidade. Mede-se até por aí . Mas há bons exemplos.
Você vai ao estádio da Tundavala e sentese que houve aí um empenho local e alguma vontade de preservar aquele bem e está lá. Vamos fazer agora algumas melhorias em 2025 e lutar também para que em termos de gestão seja também privatizada.
Quem diz isso, diz outras. Porque o Estado não tem vocação para isso. Temos que ser realistas. Você vai ao OGE e veja o que é que está vocacionado para a manutenção de infra-estruturas.
Essa não é vocação do Estado. Não estou a falar de infra-estruturas desportivas, mas sim da generalidade das infra-estruturas no país.
Então, a gestão tem que ser feita por gente capacitada, em função da especialidade do bem que está sob sua gestão. Se não for assim, não é possível.
Você tem um problemazinho eléctrico num pavilhão que está, por exemplo, no Dundo, e está a chamar Luanda porque tem lá um problema para mudar um disjuntor?
Essa é a realidade que temos. Quando abordamos as coisas com esta frontalidade, alguns querem pintar o céu de amarelo. Não vão conseguir.