A antiga judoca Antónia Moreira de Fátima “Faia”, de 42 anos, disse que o actual estado da modalidade é estável, uma vez que melhorou muito naquilo que são as condições para as competições, sobretudo nos campeonatos nacionais, portanto requer ainda mais atenção.
Antónia de Fátima ou Mestre Faia, como também é carinhosamente tratada nas lides desportivas, explicou que após a saída do senhor Paulo Nzinga, da presidência da Federação Angolana de Judo (FAJ), a nova direcção liderada por Hermenegildo dos Santos está a tentar dar uma outra dinâmica à modalidade, principalmente nas camadas jovens, cadetes e juniores.
Faia, que representou Angola nos Jogos Olímpicos de 2004, 2012 e 2016, referiu que se trata dos escalões de cadetes e juniores, bem como no escalão sénior, tendo reconhecido que o país teve sempre bons atletas, mas a falta de dirigentes sérios tem “beliscado” a visibilidade do judo.
Aliás, a antiga judoca lamentou, que conquistou a medalha de bronze nos Jogos Pan-Africanos, em 2007, o facto da nova direcção ter entrado com pouca experiência, ainda assim, o elenco federativo, que cumpre o segundo mandato, está a tentar fazer o seu melhor, mas há um problema.
“Nós esquecemos que não podemos andar sozinhos, porque o judo tem antigos praticantes que podem transmitir experiência à nova direcção da Federação Angolana da modalidade, que foi reconduzida, recentemente, para mais quatro anos”, apontou.
Antónia de Fátima “Faia” aconselha a direcção da Federação a ouvir e reunir com os atletas que fizeram história na modalidade, tendo lembrado que o presidente está a dirigir o órgão reitor com arrogância.
Antónia de Fátima “Faia” revela que Neide Diassonema foi mal aproveitada
Antónia de Fátima “Faia”, que representou Angola nos Jogos Olímpicos de 2004, 2012 e 2016, afirmou que a Neide Diassonema, atleta que falhou os Jogos de Paris 2024, já teve o seu momento de alcançar o nível em que a entrevistada chegou como atleta de alta competição.
“Quando a Neide Diassonema tinha todo o tempo, as pessoas não souberam aproveitá-la, sobretudo no mandato de Paulo Nzinga.
Agora que ela tem uma nova vida, ou seja, tem filho, tem marido e com uma casa para cuidar. Por esse motivo, fica pouco difícil para ela atendendo as condições que o nosso desporto impõem”, mostrou-se triste. Faia lamentou que não sabe se a Federação continuará a apostar e dar uma nova oportunidade à Neide Diassonema, tendo revelado que a atleta em questão já não tem muito para dar, uma vez que ela agora tem muitas preocupações.
A nossa entrevistada sublinhou que os campeonatos provinciais já arrancaram, depois vão começar os nacionais e a Neide Diassonema não está a treinar frequentemente, uma vez que está a amamentar.
“E já sabemos como as coisas funcionam e sendo mãe, dona de casa, daqui a pouco vai procurar um emprego e talvez vai entrar para Polícia Nacional, onde fará recruta, logo será mais um ano de atraso”.
“Não se deve dirigir a Federação de Judo com arrogância”
A antiga campeã africana de judo, em 2004, Antónia de Fátima “Faia” revelou que a Federação Angolana da modalidade não está, cem por cento, a ser bem dirigida, porque não se deve dirigir uma federação com arrogância.
Aliás, Faia vai mais longe e diz que o elenco federativo não pode confundir as coisas com arrogância, falta de respeito e falta de ética, visto que todos são judocas que amam a modalidade. “Na qualidade de sermos judocas, devemos nos respeitar.
Infelizmente, pensam que são os donos do judo e querem apagar as histórias que outros fizeram na modalidade para manterem aquilo que estão a fazer agora”, lamentou.
A medalha de prata no Africano de 2005, Mestre Faia, mostrou-se triste com o comportamento da FAJ, porque estão a cometer uma grande falha, ou seja, é um erro vindo da própria liderança do órgão reitor da modalidade.
“Não se apaga as histórias da noite para o dia, nós temos também de viver do passado, depois colocar o novo. Para poder dar um passo em frente você deve se rever onde começaste para dar seguimento de um forma diferente”, aconselhou.
Apesar do desrespeito por parte da Federação, Faia reconheceu que o judo estava apagado e a federação está a dar uma nova dinâmica, mas não significa que é o melhor, porque o objectivo é ver o judo num patamar muito alto, de modo a se conseguir ter a oportunidade de patrocinadores e apoio do Governo, sendo uma modalidade que traz bons resultados e alegria para o país.
“Não podemos estar a nos exibir, ou seja, a dizer que graças a nós, FAJ, o judo está a subir. Quando isso acontece não é uma boa liderança.
Em verdade, um líder que começa já com esse tipo de abordagem significa que este não serve para ocupar alguns lugares dentro da Federação”, desabafou.
Faia: “Vamos descobrir talentos no Centro do Cazenga, mas falta apoio para inauguração”
A antiga judoca Antónia de Fátima “Faia” fez saber que o seu Centro de Treinamento, no município do Cazenga, em Luanda, não tem o apoio da Federação Angolana de Judo (FAJ).
Apesar de ainda não ter feito a inauguração do recinto, a mentora do projecto garantiu continuar a formar atletas para um dia fazerem parte das selecções nacionais.
“Sei que a FAJ alegará que não tem fundos para apoiar os pequenos projectos, mas o órgão reitor da modalidade sabe que dentro deste projecto vão surgir muitos talentos”, realçou.
Por outro lado, a medalha de bronze, nos Jogos Pan-Africanos, de 2007, revelou que o seu projecto contará com o apoio da Associação Provincial de Luanda, naquilo que é a acção formativa e actividade infanto-juvenil.
“Fruto da boa relação que tenho com o presidente da Associação de Luanda, Adilson Júlio “Mestre Cheno”, vamos criar uma dinâmica diferente naquilo que são as actividades internas para poder enriquecer a capital angolana.
Vamos trocar experiências para que as coisas possam mudar dentro do desporto nas comunidades e ter o apoio das associações municipais que é muito importante, porque serão elas que vão indicar o caminho para montar os projectos”, explicou.
Faia assegurou que o projecto vai dar oportunidade a jovens que têm talento, mas não têm oportunidade de fazer dos grandes.
“Edmilson Pedro teve desavença com a FAJ em véspera dos Jogos de Paris”
Antónia de Fátima “Faia”, que participou em vários jogos olímpicos, reconheceu que o atleta Edmilson Pedro (-65 kg) fez o que esteve ao seu alcance nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, em França.
Faia vai mais longe: “um atleta que está qualificado para os Jogos Olímpicos ainda está dentro de uma recruta, logo não treina, come a sua maneira, não teve um bom acompanhamento e ainda teve desavença com a direcção da Federação, logo acabou por desmotivar o jovem atleta”.
A antiga judoca acrescentou que o rapaz baixou o seu rendimento, uma vez que ano antes dos Jogos Olímpicos de Paris era campeão africano, porque não teve também o apoio suficiente.
Mestre Faia revela que o judo não dá dinheiro
A antiga judoca Antónia de Fátima mostrou-se preocupada com a evolução do MMA, porque daqui a pouco as artes marcais mistas vão retirar todos os atletas de judo, fruto da boa visibilidade e organização que é muito forte.
Faia reconheceu que o judo não tem a mesma visibilidade que o MMA, porque neste caso o líder conta muito. “Quando um líder é activo e está sempre disposto a motivar os atletas.
Deixa-me dizer o seguinte: quando somos especialistas de uma área fica tudo mais fácil, ou seja, o presidente da Federação de MMA, Armando Diogo foi atleta de artes marciais.
Treinou judo, jiu-jitsu tradicional, MMA e tem bases fundamentais que o ajudam a elevar a modalidade que dirige”, reconheceu. Por outro lado, Faia revelou que o presidente da FAJ não é judoca, nunca fez artes marciais, é simplesmente um contabilista que está na Federação e por gostar do judo tenta dar o seu melhor.
“É uma grande diferença entre os dois presidentes. Por isso é que o MMA está onde está, o presidente da FAMMA conhece técnica, tem conhecimento de artes marciais.
O Armando Diogo tem uma liderança muito forte, sabe interagir com as pessoas, vai atrás daquilo que os atletas precisam, promove o MMA e não está contra ninguém”, alertou.
Faia assinalou que o líder da Federação de Judo não gosta ouvi, reunir os melhores treinadores, buscar outras experiências e isso prejudica o judo. “Um grupo de cinco pessoas não resolve nada.
Daqui a pouco, o MMA vai começar a pagar os atletas, ou seja, os atletas vão para o Mundial e ganham a sua vida”, afirmou.
Antónia de Fátima “Faia” realçou que o judo não dá dinheiro e para ganhar medalha é difícil, porque os atletas não têm bases suficientes de treinamentos para conquistarem medalhas nos campeonatos do mundo.
“É muito preocupante sim, quando você vê uma modalidade que nasceu agora e já tem uma boa visibilidade diante do nosso Governo. Em verdade, isso demonstra alguma coisa que não está a ocorrer bem no judo”.