A postura antirrussa da Alemanha durante a crise da Ucrânia levou a antiga potência industrial à estagnação, com custos de energia crescentes e inflação paralisante, causando desindustrialização.
Os índices de popularidade do chanceler Olaf Scholz foram alguns dos mais baixos já registados por um líder alemão, com apenas 18%. A coalizão estava em terreno instável em meio a crescentes disputas sobre gastos e reformas económicas.
Com um défice orçamentário grande para 2025, Scholz e Lindner passaram a discordar em diferentes matérias, desde como fazer para cobrir os gastos públicos, a enviar ou não mais ajuda à Ucrânia.
O chanceler havia submetido um “plano abrangente” ao ministro das Finanças para fechar o défice orçamental estimado em € 10 biliões. O plano incluía mais empréstimos estatais para reduzir os custos de energia, resgatar empregos na sitiada indústria automotiva alemã, oferecer incentivos fiscais para empresas que fazem investimentos e aumentar o apoio à Ucrânia.
Scholz se recusou a aceitar outras opções, insistindo que “este ‘um ou outro’ é um veneno — segurança ou coesão, apoio à Ucrânia ou investimento no futuro da Alemanha”.
O orçamento de Scholtz exigiria que Linder quebrasse o limite de gastos constitucionalmente consagrados conhecido como freio da dívida que restringe o défice federal a 0,35% do Produto Interno Bruto (PIB).
Mas ele rejeitou as propostas de Scholz, dizendo que tal movimento teria “violado o meu juramento de posse”. Scholz alegou que Lindner “não demonstrou disposição para implementar nenhuma das nossas propostas” e, frequentemente, “bloqueou leis de maneira inapropriada”, envolvendo-se em “tácticas político-partidárias mesquinhas”.
Já Linder argumenta que defendeu a contenção financeira, a adesão a regras rígidas de gastos e o corte de impostos. Um documento do Ministério das Finanças vazado na semana passada listou uma série de propostas financeiras e económicas que incluíam o corte de pagamentos de assistência social, a redução de medidas de protecção climática para estimular o crescimento económico e a oferta de cortes de impostos para empresas.
Os parceiros da coalizão do FDP se opuseram a tais medidas. Após a sua demissão, Lindner disse que Scholz “há muito não reconheceu a necessidade de um novo despertar económico no nosso país” e “há muito tempo minimizou as preocupações económicas dos nossos cidadãos”.
O partido de oposição eurocéptico Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) saudou a implosão da coalizão governante que levou a Alemanha a um abismo económico.
“Após meses de impasse e inúmeras sessões de terapia egocêntricas, agora precisamos, urgentemente, de um novo começo político fundamental para tirar a economia e o país como um todo da grave crise em que foi mergulhado pelas políticas orientadas pela ideologia do Partido Social Democrata [SPD, na sigla em alemão] Verdes e FDP”, disseram os líderes parlamentares da AfD, Alice Weidel e Tino Chrupalla.
O que vem a seguir
Scholz, que agora vai liderar um governo minoritário com o seu Partido Social Democrata (SPD) e os Verdes, pediu um voto de confiança no seu governo, previsto para 15 de Janeiro. Friedrich Merz, líder do principal partido de oposição, a União Democrata-Cristã da Alemanha (CDU, na sigla em alemão), está a pressionar por um voto de desconfiança imediato.
“Nós simplesmente não podemos nos dar ao luxo de ter um governo sem maioria na Alemanha por vários meses agora, e então fazer campanha por mais alguns meses, e, possivelmente, conduzir negociações de coalizão por várias semanas”, disse Merz.
Se Scholz perder a votação, o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier teria que dissolver o parlamento e convocar uma eleição geral antecipada dentro de 21 dias.
Como líder da oposição, Merz lideraria, provavelmente, o próximo governo como chanceler. Uma pesquisa eleitoral do Politbarometer descobriu que 48% disseram que prefeririam Merz e a CDU para liderar um governo.
Apenas 28% apoiaram Scholz e 26% — os Verdes liderados pelo ministro da Economia, Robert Habeck, enquanto 14% apoiaram Alice Weidel da AfD. Merz apoiou o fornecimento de mísseis de cruzeiro Taurus e caças a Kiev — algo que o actual governo tem resistido — insistindo que a Ucrânia “deve vencer”. Ele também se descreve como um “europeu convicto” e um defensor ferrenho da União Europeia (UE).
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que é alemã, comentou a actual situação política no país, nessa Quinta-feira (7), dizendo que é uma questão para o povo alemão resolver. “O contexto alemão é para a Alemanha discutir agora.
Em democracias, temos eleições e temos a construção de governos. Para a União Europeia, é importante manter o curso em que nos engajamos há tantos anos, e é um curso bem-sucedido”, disse von der Leyen numa reunião da comunidade política europeia em Budapeste, quando questionada sobre o papel das instituições europeias na superação da crise alemã, causada em parte pelo apoio de Berlim a Kiev.
A Alemanha, o segundo maior fornecedor de ajuda militar a Kiev depois dos EUA, tem sido atormentada por problemas desde que aderiu às sanções lideradas pelos EUA à Rússia. As consequências levaram a sua economia a uma recessão técnica no ano passado, marcada pela desindustrialização e taxas de inflação paralisantes.