Pouco mais de 200 milhões de euros é o que o país desembolsou para construir o parque fotovoltaico do Biópio, na região adstrita ao município da Catumbela, na base de financiamentos norte-americanos em energias limpas no Corredor do Lobito.
A aposta nessa matriz energética vem, em certa medida, materializar compromissos assumidos pelo Presidente da República, João Lourenço, em Glasgow, na Escócia, Reino Unido, em sede da cimeira do clima, ocorrida em 2021, de apostar em energia amiga do ambiente.
Nesta senda, os parques de Benguela foram como que os pontapés de saída para o país andar rumo a uma transição energética de que tanto se fala. O parque do Biópio vai dando o ar da sua graça, deixando o país orgulhoso, na perspectiva do ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges.
Ao consórcio de empresas constituído pela MCA e a Sun África coube a construção e consequente gestão do parque. No empreendimento, foram instalados mais de 500 mil painéis solares para produção de energia para os cuidados – de Cabinda ao Cunene, do mar ao leste –, uma vez que o produto tem sido introduzido no sistema nacional.
Da Sun África em Angola ficou vincado o compromisso de continuar a construir dezenas de barragens ao longo do corredor do Lobito, sinalizando que os biliões norte-americanos constituem numa lufada de ar fresco.
Uma visita ao parque do Biópio
A reboque da MCA, empresa responsável pela gestão e manutenção dos parques em Angola, os nossos caminhos, recentemente, foram dar àquele que é tido por especialistas como o maior na África Austral. À Quinjila Hebo, especialista em comunicação/assessoria, coube acompanhar milimetricamente a nossa equipa, colocando- nos à disposição os dados de que o autor destas linhas precisava.
No parque, o engenheiro João Vieira, coordenador dos parques do Biópio e Baía-Farta, faz-nos as honras da casa. Recebe-nos e agradece à presença da nossa equipa naquele empreendimento energético.
Pela recepção e aconchego demonstrados, ficou-se com a nítida impressão de que não é sempre que se recebia, a título de iniciativa individual e não à boleia de entidades protocolares, jornalistas para adentrar no âmago de um projecto inaugurado pelo Presidente João Lourenço.
O engenheiro apresenta-nos à sua equipa de trabalho, que, pelo sotaque assoado, era constituída por angolanos, portugueses e brasileiros. Começa por falar da especificidade do projecto, dimensão, seu impacto e sua mais- valia no que a produção energética diz respeito para o país, em geral, e para Benguela, em particular.
Não tivesse o projecto sido concebido a pensar na expansão da província. Para início de conversa, o responsável começa por desmistificar a crítica que tem sido feita – muitas das quais motivadas por falta de conhecimento – desconfia – relativa à falta de baterias. Ele explica que aquele parque, assim como o da Baía, foram concebidos como compensadores, devido à escassez de água.
Ou seja, para fornecerem energia apenas no período diurno, uma vez que, no nocturno, entram em acção outras fontes, com destaque para hidro-eléctricas e mini-hídricas. Entretanto, tal não significa que, no país, não haja em construção parques que funcionem à bate- ria – justifica Quinjila Hebo, citando, a título de exemplo, os de Cafunfo e Luau.
A central fotovoltaica do Biópio dispõe de tecnologia de ponta que tem obrigado a que, volta-e-meia, a MCA submeta os seus funcionários à accção de capacitação com especialistas de origem de parte considerável do equipamento em uso, nomeadamente Estados Unidos da América, Índia e Portugal, para citar apenas estes. Dada a dimensão do projecto, a limpeza é feita com recurso a robôs. Conta com câmeras de vídeo-vigilâcia, para-raios espalhados pelo parque todo.
Produção ao ritmo da RNT
É líquido que, em termos de potência instalada, o parque produz 144.9 megawatts. Porém, tal não significa que, diariamente, essa seja a produção que entra na rede nacional para o consumo. O engenheiro João Vieira condiciona a não entrada a vários factores, de entre os quais aponta, desde já, o clima.
«Há dias com mais radiação, outros dias com menos», acaba por se explicar o especialista, ao sustentar que a isso se acresce o facto de a produção andar como que ao ritmo da Rede Nacional de Transpor- te. «Se eles nos disserem queremos 30 megawatts, é aquilo que a gente introduz no sistema», sinaliza.
A mesma explicação foi, tecnicamente, reforçada por Messias do Nascimento, engenheiro de telecomunicações destacado na área de Operação de Manutenção, ao afirmar que, por ter sido concebi- do sem baterias, toda a produção que as dezenas de inversores recebem é, automaticamente, mandada para a central térmica e, acto contínuo, introduzida no sistema, a fim de que a RNT a transpor- te para os destinatários (cidadãos, indústrias, instituições…).
«Então é assim que as coisas funcionam. Se, por exemplo, o parque produzir mais de 30 megawatts e a RNT só precisar de 20, então é esses 20 que a gente manda», explicou, apontando para o monitor do computador na sala das operações, uma espécie de «pulmão» do parque, na qual é controlada os níveis de produção. «É aqui onde controlamos os níveis», vincou Messias.
O engenheiro João Vieira acrescenta que, na altura da sua construção, o parque do Biópio chegou a gerar cerca de mil postos de trabalho. Todavia, nos dias que correm, apenas 27 técnicos asseguram a sua manutenção e gestão.
Lucas à boleia de protocolo
Lucas Muhongo é um nome que soa à competência, na óptica de João Vieira. O jovem angolano, de 28 anos de idade, conhece o parque como a palma da sua mão. A ele, muitas das vezes, engenheiros de outros parques recorrem à busca de auxílio para responder a essa ou àquela situação que se afigure como que complexa.
Foi parar à central graças a um protocolo que a MCA firmou com a Universidade Katyavala Bwila, nos termos do qual se autoriza estágios a estudantes de cursos de engenharia. Entrou inexperiente, foi absorvendo vários conhecimentos de gestão de parques daquela natureza e tornou-se expert. Hoje, o jovem é responsável adjunto da operação e manutenção.
À boleia da carrinha de Lucas Muhongo, adentramos no parque, de modo a ter noção exacta de como as coisas se processam. O engenheiro explicava cada equipamento por nós divisado. Elucidou sobre a capacidade de cada inversor responsável por recolher a produção das placas, mediante a incidência da radiação solar, que, de seguida, manda para central.
«São 2.3 megawatts cada», revelou, ao mesmo que mudava de mudança na da viatura em que seguíamos a bordo. «Temos aqui estação meteorológica. Esses amortecedores garantem o movimento da placa, para seguir o movimento do sol.
As placas têm de acompanhar a direcção do sol. Toda a produção é convertida de DC para AC», realça a partir de um pequeno miradouro, dando a possibilidade de ter uma panorâmica do projecto. Domingos Samanjata Januário ou simplesmente «The Game», como é conhecido, ganhou, igualmente, o seu primeiro emprego no parque.
Filho do Lobito, de 34 anos, num desses dias de 2022, o jovem, que há muito procurava por uma ocupação, é-lhe agraciado com a informação relativa ao recrutamento de jovens para aquele importante projecto. Remete o seu documento na Administração Comunal do Biópio e, passado algum tempo, é chamado para a empreitada laboral.
Desta feita, é coloca- do na área de manutenção.”Sinto- me feliz pelo que faço aqui”, confessa. Ele dá conta que, desde que está na empresa, já se beneficiou de várias acções de formação, tendo em conta a especificidade de gestão e manutenção de centrais fotovoltaicas.
O que muitas comunidades têm reclamado é o facto de o projecto ainda não ter tanto impacto directo na vida de muitas comunidades circunvizinhas, por haver muitos muitos bairros ainda sem energia eléctrica – como reclamou, recente João Savi, residente de um conhecido bairro, próximo ao aterro sanitário.
A falta de instalação das linhas de transporte é apontada como estando na base, segundo levantamentos feitos por este jornal. Esses dados acabam, pois, sustentados pelo ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, quando afirmou que Angola tinha uma produção instalada de 6 mil megawatts, mas que só estaria a consumir 2 mil, devido a défice no transporte de 4 mil.
POR:Constantino Eduardo
EM BENGUELA