É comum assistirmos a nível das televisões grandes pelejas em muitos parlamentos pelo mundo. Casos há, inclusive, em determinados países, em que os próprios parlamentares se embrulham com os das bancadas contrárias por conta de legislações controversas, ideias desencontradas, ou até mesmo argumentos que para uns venham a significar insultos. Na Europa, sobretudo a do leste, já assistimos a muitas destas cenas.
Mas, na Ásia e no Médio Oriente, por exemplo, há muito que vão chegando imagens constrangedoras, impróprias de quem pensa um dia ter sido votado para dentro da casa das leis exercer um papel mais dignificante.
Lembro-me de um dia ter visto, pela televisão, claro, uma situação em que um deputado de uma bancada contrária arremessou o próprio par de sapato à bancada contrária. Do outro lado, não se observou qualquer sentimento de condescendência e então choveram sapatos de um lado ao outro, apanhando, no meio, até aqueles que não se quiseram envolver de modo algum na ‘sapatada’.
Em Angola, felizmente, estamos muito distantes ainda destes acontecimentos, embora tivesse ocorrido em tempos idos, sobretudo na primeira legislatura, ocorrências que levassem alguns parlamentares menos coléricos às sapatadas.
Entre nós, embora não ocorra nas habituais sessões parlamentares, a moda vai sendo a exibição de panfletos durante a abertura dos anos parlamentares, com dizeres vários, alguns dos quais acabam por colidir com a presença de quem os exibe, ao passo que outros merecem, sim, reflexão por parte de quem se dirige tais escritos.
Anteriormente, já tivemos cartões amarelos, fuga para não se tirar fotografias e outras situações dignas de realce. Porém, embora se tratem de acções temporárias, cujos efeitos acabam também por ser efémeros, resumidos àquele momento solene, não acredito que os resultados de tais contestações consigam ser mais frutíferos do que um exercício mais cauteloso e aprofundado de uma oposição que rebata tudo quanto se diz ou se lhes é apresentado.
Como escreveu um dia um político brasileiro, Joaquim Nabuco, ‘a oposição é sempre popular’, ou seja, prefere quase sempre optar por acções que lhes levem a ser bem vista pelos eleitores, mesmo que possam vir a ser as menos acertadas.
Agora, cerca de 24 horas depois do pronunciamento do Presidente da República, João Lourenço, no habitual discurso à Nação, o mais sensato, acreditamos, seria neste momento vermos políticos e não só analisando o que foi dito, apontar soluções sobre os problemas ainda existentes que tenham sido enunciados, assim como retorquir possíveis imprecisões que possam ter existido durante o pronunciamento.
‘Como vencer um debate sem ter razão’ é um célebre livro do filósofo alemão Schopenhauer, lançado há mais de um século, que ensina claramente como se deve actuar para que não se dê atenção ao que é dito e apenas se foque naquele que diz.
É de lá que vem o célebre pensamento de que se deve atacar o mensageiro e não a mensagem, porque atacando-o a sua mensagem, por mais importante ou verdadeira que seja, acaba por não ter o efeito desejado. E não estaríamos enganados se muitos concluíssem que este parece ser o pensamento de um um grupo de deputados no parlamento nos últimos tempos.