A professora e ensaísta Irene Guerra Marques, licenciada em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi a convidada para falar do percurso deste nacionalista, num encontro que vai contar com a presença de distintas individualidades, que visa assinalar o seu centenário, a 28 de Setembro.
Rigoberto Fialho, chefe de Departamento do Sarcófago e Acção Cultural do Memorial, referiu que António Jacinto e suas obras merecem lugar de relevo na história da literatura, da política e da cultura angolana, o que motivou a organização a destacar o seu legado.
“O autor também foi apontado como poeta e contista da geração da Mensagem e como membro do Movimento de Novos Intelectuais de Angola (MNIA), cujo lema “Vamos descobrir Angola” galvanizou a sua geração para a recuperação dos valores culturais fundamentais que constituem a matriz da angolanidade”, descreveu.
Ao falar das suas obras, onde se destacam “Poemas’’ (1961), “Vovô Bartolomeu’’ (1979), “Poemas’’ (edição aumentada, 1982), “Em Kiluanji do Golungo” (1984), “Sobreviver em Tarrafal de Santiago” (1985), “Prometeu” (1987) e “Fábulas de Sanji” (1988), entre outros, referiu que contribuiu significativamente para a consolidação do nacionalismo angolano e a luta pela Independência Nacional.
“António Jacinto foi nacionalista, poeta e prosador angolano. Será homenageado no programa Textualidades, em edição especial, em alusão ao seu centenário, que se assinala a 28 de Setembro”, disse o dirigente.
Percurso político
Rigoberto recorda que o nacionalista foi preso por questões políticas, sendo que em 1964 foi desterrado para o Campo do Tarrafal, em Cabo Verde, onde cumpriu pena até 1972, ano em que foi transferido para Lisboa, sendo-lhe, então, imposto o regime de liberdade condicional, por cinco anos.
“O programa Textualidades é um espaço de tertúlia entre escritores e leitores no processo da comunicação literária, um espaço de reconhecimento da obra e do legado de autores.
Pelo facto, o programa é recomendado aos académicos, docentes e discentes das áreas de Humanidades e Ciências Sociais, sendo, no entanto, aberto a todos os interessados”, sublinhou.
Percurso
O nacionalista nasceu em Luanda aos 28 de Setembro de 1934 e morreu em Lisboa a 23 de Junho de 1991. Esteve preso, por actividades políticas anticoloniais, de 1962 a 1972, a maior parte do tempo no Campo de Concentração de Tarrafal, em Cabo Verde.
Não contando com os anos de prisão fora do seu país, viveu praticamente toda a sua vida em Luanda. Ainda antes da independência de Angola, dirigiu o Centro de Instrução Revolucionária do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
Depois, foi Ministro da Cultura (1975-78) e membro do Comité Central do MPLA. Após a independência de Angola, foi co-fundador da União dos Escritores Angolanos, e participou activamente na vida política e cultural angolana, tendo sido ministro da Educação e Cultura entre 1975 e 1978, e depois secretário do Conselho Nacional da Cultura, entidade que promoveu o grande movimento cultural de então e organizou o primeiro sistema de formação artística e de promoção do desenvolvimento cultural.
Na Literatura
Ganhou o Prémio Lótus, da Associação dos Escritores Afro-Asiáticos e Prémio Nacional de Literatura e o Prémio Noma, atribuído na Feira Internacional do Livro de Frankfurt.
Em 1993, o Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD) instituiu, em sua homenagem, o “Prémio António Jacinto de Literatura”, dedicado a autores sem obra publicada, como reconhecimento do seu apoio ao brigadismo literário proclamado em 1980 e ao facto de ter doado o valor dos seus prémios à Brigada Jovem de Literatura.