O estádio de futebol está cheio, é uma partida importante, na tribuna VIP está o Sr. Presidente da República. O jogador está no meio campo, rouba a bola ao adversário e chuta para frente.
Está a bola na ala direita onde o jogador nacional corre disposto a cruzar para a grande área. Olha para frente e cruza. O ponta-de-lança salta, salta e alcança finalmente a bola que tocada vai em direcção a baliza.
O guarda-redes está, conforme se diz, batido, pode ser o grande golo, e a bola vai indo, vai indo e não entra. Bate no poste lateral e é pontapé de baliza. O estádio vai ao rubro e nas bancadas ouve-se alguém dizer: “seu fraco, essa bola é para falhar?! Depois de tanto trabalho ainda falha! Seu pé-de-cana”. Ao lado desse, cansado de ouvir, Wilson, filho do jogador que falhou a bola, intervém.
– Se o senhor estivesse no campo não faria diferente, faria o que ele fez, mas a bola só entraria se o vento estivesse ao seu favor. Para ele o vento não esteve e por azar a bola embateu na trave. Não acho justo ofender desse jeito alguém que você mal conhece.
– O cão todos conhecem, e todos sabem que não é a primeira bola que falha, é um miserável e.. – Cala boca, senhor, não te permito, nem mais uma ofensa, do contrário irei partir para cima de ti.
– Não vais, és tão fraco quanto o merda que estás a defender. Carlos se levanta, atira o chapéu ao senhor e logo gera um tumulto. Na área superior, como se tivesse ouvido toda discussão lá de cima, o Sr. Presidente vê o cenário e decide intervir. Deixa o seu aposento e com o chapéu preso a cabeça caminha em direcção a arquibancada. No campo a bola rola e vai para fora. É pontapé de canto.
O jogador cruza e o seu parceiro cai na grande área. É penálti. Os jogadores correm em direcção ao árbitro a exigir anulação do castigo máximo. Na arquibancada o tumulto continua e nesse momento está o senhor presidente prestes a chegar e apaziguar a situação. A polícia já lá está e, a seu modo, tenta controlar a situação. Lá vem o Sr. Presidente na multidão tentado chegar próximo.
A polícia cria um cerco e mais ninguém passa, quem passar leva um porrete. O Sr. Presidente tenta furar a fila como um cidadão normal e vê um porrete cair-lhe as costas.
Cai e junto com o ele o Chapéu que estava à cabeça. Já no chão, todos se apercebem que é o Sr. Presidente caído. Todos se miram e a câmara do estádio muda de foco. O país todo está a acompanhar.
Ninguém quer acreditar que alguém fez aquilo ao Sr. Presidente, ninguém consegue compreender o que o motivou a lá estar sem escolta, ninguém consegue perceber o que lhe levou ao Dubai, todos percebem que esteve com a Bela e nada conseguiu fazer, todos percebem que a perseguição já não faz sentido, todos percebem que não precisam do metro de superfície, mas a satisfação de suas necessidades mais básicas, alguns percebem que vários jovens saem do país agastados e sem previsão de regresso, outros se dizem cansados de viver sem perspectiva, por isso correm atrás de novos caminhos para conhecer novas pessoas, ganhar novas ideias e obter novos resultados.
O árbitro apita e o jogador acorda. Percebe que é tudo utópico, ilusão, ou seja, um mero sonho. – Amor, tive um sonho muito triste – anuncia o jogador. – Qual foi o sonho? – Não consigo explicar. Vou tentar escrevê-lo. – Tu és futebolista, não escritor. – Eu sei, mas quero tentar. – Faça como quiseres, eu vou dormir.
Por: DITO BENEDITO
*Escritor e Jornalista