Diversos produtores, ouvidos por este jornal, queixam-se que, devido à grande oferta no mercado, não estão a conseguir retirar o investimento realizado, pois têm de vender a um preço reduzido para não perderem a produção, sublinhando para a necessidade de fábricas de polpa de tomate
Em Abril no presente ano, o preço da caixa de to- mate de 30 quilogramas chegou a custar 45 mil kwanzas como consequência da escassez de produto, causadas pelas chuvas constantes. Neste momento, o cenário inverteu e os produtores estão a comercializar a caixa a 800 Kz, 1000 e nalguns pontos a 2 mil e 500 kwanzas.
O produtor Wilson Firmino contou que o excesso de tomate no mercado fez com que o preço da caixa de tomate reduzisse a estes preços o que não permite tirar o custo de produção, tão pouco o dinheiro investido na plantação do produto.
Com cerca de 28 hectares de produção de tomate, o produtor referiu que fez grandes investimentos na aquisição de insumos agrícolas e fertilizantes. Tem sob sua responsabilidade mais de 100 funcionários eventuais aos quais chega a pagar cerca de 400 kwanzas/dia na colheita do tomate. “Em cada hectare de tomate são investidos na ordem de 10 milhões de kwanzas até à fase de colheita ”,disse.
Prejuízos ao invés de lucros
De igual modo, o produtor João Carlos sublinhou que com a redução do preço do tomate os camponeses terão prejuízos, ao invés de lucros, porque os investimentos na presente safra foram elevados.
O empresário frisou que para produzir uma caixa de tomate o custo não fica menos de 5 mil kwanzas e preço da caixa está abaixo deste valor, destacando como alternativa aposta noutras culturas como cebola, repolho e outros produtos para ganhar algum dinheiro.
Segundo o produtor, o tomate é transportado para várias pontos do país com destaque para o Waku Cungo, Quibala, Huambo, Bié, Uíge, Benguela e Luvo, na República Democrática do Congo (RDC). Salienta que muitos comerciantes saem com um destino fixo, mas apercebem-se que noutras regiões o preço do tomate está mais caro, então mudam a rota à procura de maior lucro.
“Recomenda-se aos nossos agricultores não olhar pela mão do Governo”
O engenheiro agrónomo Adérito Costa defende a necessidade de investimentos em conhecimentos científicos e tecnológico, apostas em estufas para apostar na produção agrícola, em épocas específicas.
Adérito Costa referiu que antes de lançar investimentos no sector agro é preciso um estudo a nível comercial, porque os produtores aproveitam a mesma época para cultivarem um determinado produto, principalmente os que não dispõem de conhecimento científico.
O especialista ressaltou que em Angola a agricultura é feita maioritariamente pelas famílias que não dispõem de grandes recursos para terem projectos à altura dos desafios que o sector necessita. Logo, esta franja vê-se na obrigação e disponibilidade de fazer produções mediante o apoio da natureza.
O engenheiro lembrou que normalmente são mais de milhões de produtores a usarem a mesma técnica, usando a irrigação que os rios proporcionam em função da humidade permanente nas zonas ribeirinhas e automaticamente a capacidade de oferta deste produto torna-se abundante. “Quando à oferta é abundante o preço do produto é desvalorizado.
Em épocas chuvosas o preço é reduzido pelo facto de os produtores estarem impossibilitados de produzir porque estas culturas em época chuvosas carecem de tecnologias”, explicou.
Para ajudar os agricultores, referiu que tem estado a ministrar seminários formativos que servem na transmissão de técnicas de produção e conhecimentos no sector agrícola.
Para melhor rentabilização no sector, o também agricultor aponta estudo dos produtos que realmente têm necessidade de consumo constante, de modo a valorizar o preço, sublinhando que deve ser a aposta dos pequenos agricultores para estarem à altura dos desafios que se impõem no casamento entre o agro e o negócio.
Adérito Costa entende que o sector da agricultura tem de estar bem estruturado para ter capacidade de resposta de produção dentro e fora das respectivas épocas. “É a aconselhável e recomenda- se aos nossos agricultores não olhar pela mão do Governo, mas sim, investirem “, explicou.
Para ele, urge a necessidade de criar condições essenciais que visam a transformação de produtos. Assim, a excessiva quantidade de tomate que se produz na época seca será escoada para o sector industrial a um preço valorizado e capacidade de resposta será maior.