Lá vão os tempos em que através do programa ‘Banquete’, da Televisão Pública de Angola, se poderia obter informações mais apimentadas sobre inúmeras situações que ocorrem ou ocorriam no país.
As denúncias dos casos de corrupção eram uma marca cintilante. Confesso que as que mais escandalizaram terão sido aquelas em que estiveram envolvidas uma determinada empresa de construção civil que até adulterava materiais para refrear os orçamentos que as grandes empreitadas obrigam, desconsiderando, claramente, os riscos que os automobilistas passariam quando estivessem supostamente concluídas as estradas e pontes.
Mas houve, algum tempo depois, uma outra reportagem em que o cerne foi o contrabando de combustível na rota Luanda-Zaire, a mesma que está em voga nos últimos dias, por conta do pedido de ajuda solicitado inicialmente pelo governador desta província, Adriano Mendes de Carvalho, ao Presidente da República, João Lourenço.
Na altura, que creio ter sido no ano passado, já existiam evidências de que o circuito não era suportado somente pelo chamado peixe miúdo, entenda-se camionistas, que são aqueles que somente transportam.
E muitos deles, adulterando as suas viaturas, também não se inibem em tentar fazer passar algumas quantidades de gasolina e gasóleo para o mercado congolês-democrático.
Creio que na época ainda não havia sequer a comissão multissectorial para o combate ao contrabando de combustível. Nem sinais de que uma lei para o efeito seria submetida à Assembleia Nacional para sustentar, legalmente, a luta que se deve travar para acabar ou atenuar este fenómeno que vai criando enormes prejuízos económicos e financeiros ao país.
Conhecendo-se os caminhos percorridos, as empresas supostamente envolvidas, assim como as rotas por que passam as maiores quantidades do produto, chega-se de certeza, facilmente, aos mentores.
Afinal, conforme avançaram alguns integrantes do painel de debates da Tv Zimbo, nessa terça-feira, nos últimos anos, o Estado terá perdido acima de 20 mil milhões de dólares norte-americanos por causa desta prática.
Embora haja quem os transportem em bidões de cinco, 10 ou 20 litros, para se atingir tais prejuízos, foram necessárias dezenas ou centenas de cisternas que rasgaram as estradas entre Luanda e Zaire até atingir as regiões do Congo Democrático.
Trata-se, na verdade, de uma operação que exige algum rigor no preparo e envolvimento de indivíduos que tenham algum poder que permite com que a mercadoria não seja até interceptada nos postos de controlo e nalguns pontos fronteiriços.
É por isso que a sociedade, após a denúncia do ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Pereira Furtado, mostra-se confiante de que terá chegado o momento para se desmantelar as máfias que se enriquecem, sacrificando os milhares de cidadãos que habitam no Zaire e arredores.
Nunca foi difícil perceber as razões por que nunca há combustível nos postos de abastecimento no Zaire, quando diariamente são apreendidos milhares de litros em determinados pontos, mas outros em grande quantidade acabam sempre por supostamente passar pelas forças de defesa e segurança.