O Ministério Público da República Democrática do Congo (RDCongo) pediu ontem a pena de morte para 50 dos 51 acusados da tentativa de golpe de Estado de 19 de Maio, entre os quais três norte-americanos.
Apenas para um dos arguidos, na sequência de um exame médico solicitado pelos advogados de defesa, o procurador, o tenentecoronel Innocent Radjabu Bashiru, não pediu a execução, por ter uma doença mental. Para os restantes, o procurador foi drástico: “Peço apenas uma sentença, a mais severa, a pena de morte”, segundo a imprensa local.
O julgamento iniciou-se em 07 de Junho. O procurador pediu ainda ao tribunal que ordenasse o confisco, em benefício do Estado, de todo o material utilizado na prática dos crimes, nomeadamente armas, ‘drones’ [aparelho aéreo não tripulado], vestuário, bandeiras, entre outros objetos.
A defesa vai agora apresentar os seus argumentos, num processo em que os arguidos enfrentam sete acusações de ataque, terrorismo, posse ilegal de armas e munições de guerra, tentativa de homicídio, conspiração para cometer um crime, homicídio e financiamento do terrorismo.
Entre os detidos encontram-se três cidadãos norte-americanos, incluindo Marcel Malanga, o filho de 20 anos do alegado líder do golpe, o ativista da diáspora democrático-congolesa Christian Malanga, que foi baleado pelas Forças Armadas da RDCongo durante os acontecimentos.
Na madrugada de 19 de maio, dezenas de atacantes democrático-congoleses e estrangeiros, liderados por Christian Malanga, invadiram o palácio presidencial com o objetivo de depor o Presidente Félix Tshisekedi.
Os atacantes dispunham de equipamentos sofisticados, incluindo ‘drones’, disse na altura o porta-voz das forças armadas, Sylvain Ekenge. Durante o assalto, Christian Malanga, que se dizia antigo militar, publicou vários vídeos numa rede social que mostravam um grupo de homens armados e em uniforme militar no átrio e nos jardins do Palácio da Nação, a residência oficial de Tshisekedi, embora o Presidente não passe lá a noite.
“Desfrutem da libertação do nosso novo Zaire”, gritava Malanga em inglês, enquanto os agressores queimavam bandeiras da RDCongo e seguravam bandeiras do Zaire, o antigo nome do país durante a ditadura de Mobutu Sese Seko no início do século passado. Além de Marcel Malanga, foram identificados dois outros norte- americanos: Benjamin Reuben Zalman-Polun e Taylor Thomson.
Christian Malanga, 41 anos, que se intitulava comandante e usava frequentemente um uniforme militar, era conhecido nos círculos da diáspora democrático-congolesa nos EUA pelos seus discursos contra o poder em Kinshasa.
Liderou o movimento “Novo Zaire” e o Partido Congolês Unido (PCU), tendo mesmo declarado a sua intenção de se candidatar à Presidência do país. Nascido em 1983 na então República do Zaire, Malanga cresceu na comuna de Ngaba, em Kinshasa, e viveu na África do Sul e em Essuatíni (antiga Suazilândia) antes de se estabelecer nos EUA.