Partido A Esquerda encolheu nos últimos anos, e racha interna deixou a sigla à beira da irrelevância. Agora, líderes que deveriam ajudar a ressuscitála anunciam desembarque às vésperas de eleições regionais
A dois meses da convenção partidária e a poucas semanas das eleições regionais em três Estados do Leste da Alemanha, os co-líderes do partido A Esquerda, Janine Wissler, e Martin Schirdewan anunciaram nesse Domingo (18/08) a sua saída do cargo.
A decisão da dupla, que comandava o partido desde 2022, é mais um capítulo na derrocada d’A Esquerda, que começou em 2021, quando a sigla driblou a cláusula de barreira por muito pouco e elegeu apenas três parlamentares ao Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão).
Mas se naquele ano A Esquerda ainda tinha a preferência de 4,9% do eleitorado alemão, nas eleições de 2024 ao Parlamento Europeu esse índice caiu para 2,7%.
Disputas internas têm enfraquecido ainda mais o partido, que no ano passado perdeu uma das suas maiores estrelas: a populista Sahra Wagenknecht, que criou a sua própria sigla e amealhou 6,2% dos votos para o Parlamento Europeu.
A legenda também terá mais uma prova de fogo nas eleições regionais da Turíngia e Saxônia, ambas em 1º de Setembro, e em Brandemburgo, em 22 de Setembro.
Os três estados alemães da antiga República Democrática Alemã (RDA) costumavam ser redutos eleitorais da Esquerda. Na Turíngia, em 2019, eles ainda conseguiram eleger o governador, Bodo Ramelow, com 31%, mas neste ano devem ter apenas metade disso. Já na Saxônia e em Brandemburgo, as pesquisas apontam para um cenário com 5%.
Apelo por fim de “política de poder meio destrutiva”
“Percebo que em partes do partido há um desejo por um recomeço”, disse Wissler num comunicado em que justifica a renúncia da dupla. Segundo ela, o momento do anúncio dá ao partido tempo suficiente para preparar a escolha de um novo comando. “Dêem aos que vão assumir o controlo em breve a chance e a confiança para que possam liderar o partido.
Para isso, é preciso acabar com a política de poder meio destrutiva nos nossos próprios escalões”, apelou Schirdewan. O próprio Schirdewan já havia reconhecido antes o mau desempenho da sigla na eleição ao Parlamento Europeu, em Junho deste ano.
“Sem dúvidas, foi uma droga. Não dá para esconder isso”, disse recentemente em mea culpa ao jornal Tagesspiegel. Na ocasião, ele já havia sinalizado que estava a reflectir sobre se continuaria ou não a dirigir o partido.