Empresários, no Corredor do Lobito, queixam-se da subida vertiginosa de preços na transportação de mercadorias de Benguela ao Moxico, via ferroviária. Alegam aumento de 380 mil kwanzas para 3 milhões. Entretanto, contactada, a Direcção Comercial da Lobito Atlantic railway-SA (LAr), consórcio que explora o Corredor, admite actualização de tarifas, mas diz serem falsas as alegações
São, maioritariamente, empresas dos ramos alimentares e construção civil que, nos últimos tempos, se dizem, impedidas de escoar parte considerável da produção para as províncias do leste, via ferroviária.
Empresários com quem este jornal privou, à margem da visita do secretário de Estado para a Indústria, consideraram inconcebível o cenário vigente, consubstanciado, essencialmente, na aplicação de uma outra tarifa por parte da Lobito Atlantic Railway-SA, o consórcio de três empresas que explora o Corredor do Lobito.
Os nossos entrevistados advertem, pois, para a necessidade de os cidadãos, sobretudo de províncias como Moxico e Lundas Norte e Sul, não vierem a pagar uma factura pesada por conta dessa decisão, daí, nesta perspectiva, terem apelado ao Estado, com o Ministério dos Transportes à cabeça, para negociar uma tabela que melhor corresponde às condições financeiras de empresas, uma vez que a situação económica actualmente vivida não se afigura assim tão convidativa.
Empresas como CIMENT FORT, CIMANGOLA e Carrinho vêm- se à nora com o estado de coisas, porque, como sublinha o empresário Ermos Cruz, director de fábrica da CIMANGOLA, não há bolso que aguente.
Até bem pouco tempo, a transportação de um contentor de mercadorias de 20 pés ficava a 380 mil kwanzas, porém, hoje, empresas obrigam-se a pagar 3 milhões, uma subida vista como exponencial por vários produtores que têm a linha férrea como a única alternativa através da qual se colocam produtos no leste do país, por afigurar-se impossível transportar por terra, por falta de ligação directa entre Benguela e Moxico.
O director da fábrica CIMANGOLA, Ermos Cruz, reclama que, para empresários como ele que se vêm a abraços com a escassez de matéria-prima, é como que uma «missão impossível» colocar o cimento na província do Moxico.
“Por conta disso, Moxico não recebe e nós temos muita pena. Não conseguimos chegar, porque não temos estrada”, salienta Cruz, que diz terem já colocado essa preocupação à LAR, na perspectiva de que haja uma inversão de quadro.
Ele avisa que, em virtude dessa subida, há uma manifesta tendência de escassear grande parte de produtos no leste do país e pensa não ser justo, porque o consumidor final não deve pagar aquilo a que chama de «factura pesada», porquanto “eles são nossos irmãos.
Nós temos a fábrica também não compreendemos, mas acreditamos que as coisas estão para ser resolvidas”, augura o empresário, que, neste momento, tem em armazém enormes quantidades de cimento normal e cola que não os consegue colocar no Moxico.
A CIMANGOLA, em Benguela, produz cimento cola e ensaca o normal, que recebe a granel. Tem uma capacidade instalada de 50 mil sacos/mês com possibilidade de expansão. Fontes deste jornal sustentam que empresas como a Carrinho, que tem já construído um ramal para facilitar a transportação, baixaram consideravelmente o movimento de cargas.
“Tinha três composições quase que mensalmente, levando os produtos para o leste, hoje, não faz nenhuma, por conta da subida dos fretes. Está muito caro”, admite a fonte, sob anonimato.
Conforme levantamento feito por este jornal, a subida de preços terá deixado, igualmente, em stock enormes quantidades de cimento na CIMENFORT.
Os responsáveis escusam-se de abordar o assunto publicamente, por via da imprensa, mas fontes ligadas à empresa confidenciaram ao OPAÍS que esse quadro pode levar a desencadear um processo de despedimento devido ao baixo rendimento da empresa.
Entretanto, a LAR contraria esta tese, assegurando que essa empresa, como cliente tem transportado a produção para a província do Moxico.
Ar nega aumento «exponencial» alegado por empresas
Contactada, a Área Comercial da Lobito Atlantic Railway-SA considera falsas e sem fundamento as alegações de empresas como a CIMANGOLA e garante estar a trabalhar com vários produtores nacionais.
Sob anonimato, um alto funcionário daquela área admitiu, num contacto telefónico com este jornal, ter havido, sim, uma revisão dos preços e os praticados actualmente – que não os revela – ficam muito abaixo dos 3 milhões de kwanzas alegados. “Nós estamos a trabalhar com a CIMENT FORT, estamos a trabalhar com a Sonangol e outros clientes nacionais.
Então essa informação é falsa”, considera a fonte. Acrescenta que “quem quer trabalhar tem que vir falar connosco e não é falar de preços muitos altos”. De acordo com a fonte, Ermos Cruz, da CIMANGOLA, não é cliente da LAR, daí não entender a razão de ele ter afirmado que houve uma subida exponencial de preços.
Questionado se não terá havido aumento dos fretes e se mantinham os 380 mil kwanzas por um contentor de mercadorias de 20 pés, ele responde: “Também não é por aí. Esse preço é um preço já desde 2010”, realça, sinalizando que as tarifas têm sido actualizadas tendo em conta vários factores, apontando, de entre outros, a subida de combustível e o aumento da inflação.
“Houve uma actualização de preços, mas não é como se está a especular. Fica muito abaixo dos 3 milhões. Prova é que estamos a trabalhar com clientes nacionais, que têm indústrias e clientes individuais. DoHuambo,Bié,entre outros”, assegura, solicitando para não ser identificado nessa matéria.
POR:Constantino Eduardo, em Benguela