Na comuna de Cambuange, no município do Lôvua, um dos mais novos criados no país, nasceu a Fazenda Esperança que, no âmbito do Planagrão, revoluciona a agricultura na terra dos diamantes. Às mãos de oito famílias de mexicano menonitas, a produção de soja, milho, feijão e trigo tornou-se uma realidade
De longe, a imagem de Samuel se confunde com a de um velho agricultor experimentado. Ao volante de um tractor, empoeirado e acelerado, o jovem de 16 anos desbrava a terra que nos próximos anos dará lugar a um dos maiores projectos agrícolas do leste do país.
Já próximo, depois de se aproximar de um grupo de curiosos que não acreditava sequer que ainda não tinha chegado à fase adulta, que segundo a legislação angolana são 18 anos, o rapaz, vestido de calças jeans e camisa axadrezada, não esconde aos demais a sua enorme paixão pelo tractor e o campo.
O pai ensinou-lhe desde muito cedo. Desde os 12 anos que conduz um tractor e fez da agricultura uma das suas únicas paixões. ‘‘Andar de tractor é o melhor que há nada vida. Sinto-me muito bem aqui e quero o melhor para a agricultura’’, contou.
Samuel é filho de Benjamin Harder, 38 anos. É um agricultor mexicano menonita, um movimento do cristianismo evangélico que descende directamente do movimento Ana Baptista que surgiu na Europa no século XVI, na mesma época da Reforma Protestante. Tem o seu nome derivado do teólogo Frísio Menno Simons (1496-1561), que através dos seus escritos articulou e formalizou os ensinos dos Ana Baptistas suíços.
Desde Janeiro que Benjamin e familiares aportaram no município do Lôvua, um dos mais no- vos criados no país, e implantaram a Fazenda Esperança a cerca de 80 quilómetros da sede capital da província da Lunda-Norte. Actualmente, estão sete famílias de mexicanos menonitas a habitarem e a trabalharem num extenso terreno de perder de vista.
Vivem em casas formadas por contentores e alpendres seguros, onde as esposas cuidam das tarefas domésticas e os homens, a partir de tenra idade, são introduzidos no trabalho de campo, a exemplo do pequeno Benjamin e outros mais novos.
Diariamente, pais e filhos, assim como trabalhadores angolanos e máquinas, percorrem de um lado ao outro, num casamento emocionante entre a agricultura moderna e tradicional, rasgando os solos que darão lugar, nos próximos meses, a enormes plantações de grãos, como milho, soja, feijão e trigo.
David, um outro Harder, 30 anos, que nasceu em Tamaulipas (México), conta que a ligação com Angola começou há alguns anos quando a sua família vendia feijão a comerciantes angolanos e estes o compravam a partir de Chihuaha. Desta relação, há mui- to que se vislumbrava o interesse em um dia chegarem ao território angolano.
Depois de uma experiência me- nos boa em Malanje, os Harder’s rumaram para o Lôvua, na Lunda-Norte, onde hoje estão arreigados. ‘‘Estamos aqui desde fins de Janeiro.
Abrimos o espaço e começamos em Fevereiro. Nós chegamos aqui, porque no México já não há mais espaços e terras para plantar milho e soja. O Governo da Lunda-Norte e da Administração do Lôvua estão a nos ajudar com estas coisas, como documentos, pessoal e temos tido visitas.
Estamos bem felizes’’, garantiu Benjamin, num arrojado ‘portunhol’, como se classifica comumente a mistura entre o português e o espanhol.
Com sorriso no rosto, ladeado pelos seus familiares, o agricultor farta-se em elogiar a qualidade da terra para as culturas que pretende implementar na região. Talvez isso seja a justificação para os 850 hectares (o equivalente a 850 campos de futebol) já desbravados até ao momento na fazenda.
Aguardavam apenas pelas primeiras chuvas, que já começaram a cair no leste desde cedo, para a plantação de milho (350 hectares) e soja (500 hectares) nesta primeira fase.