Convidados a participar da 20.ª edição do festival de banda desenhada, “Luanda Cartoon”, que encerrou ontem no espaço cultural da Centralidade do Kilamba, os cartoonistas brasileiro e português, Hugo Canuto e Paulo Monteiro, respectivamente, consideraram que o mercado cartoonista angolano é promissor, com sinais muito positivos para ser uma referência a nível do continente africano
Em seu discurso, Paulo Monteiro (director do Festival de Banda Desenhada de Beja, Portugal), que participa do festival angolano pela segunda vez, disse que o mercado da banda desenhada em Angola tem demonstrado ser dinâmico e desafiador, com óptimos artistas, cujas obras reflectem qualidade e maturidade.
O cartoonista português entende que, dados os resultados apresentados pelos artistas nacionais, sobretudo em eventos internacionais, Angola pode ser uma referência para o continente se continuar a apostar na formação, dinamização do sector e “sem esquecer o investimento nos recursos necessários, porque a arte exige também custos”.
“Penso que Angola tem tudo para ser uma referência da banda desenhada a nível do continente africano e não só. Os artistas angolanos, pelo menos os que já tive o prazer de os acompanhar, têm demonstrado trabalho de muita qualidade e isso é bom sinal para o mercado nacional”, sublinhou.
Já o brasileiro Hugo Canuto, que está em Angola pela primeira vez, destacou o empenho que tem sido feito pela organização do Festival “Luanda Cartoon”, na promoção e valorização da banda desenhada, sublinhando a necessidade de as empresas e instituições de tutela continuarem a apoiar iniciativas do género.
Hugo Canuto, que trouxe para o festival uma de suas obras mais populares intitulada “Contos dos Orixás”, realçou a importância de se olhar para a banda desenhada como uma ferramenta não apenas artística, mas de educação, informação, consciencialização e inclusão.
“Como artista, trago a narrativa mítica para as línguas de quadril como ferramenta de educação, de inclusão, de empoderamento cultural e principalmente de valorização da herança cultural africana”, ressaltou.
O também roteirista e desenhador ilustrativo, proveniente da cidade com maior número de descendentes africanos na América do Sul, a cidade da Baía, destacou algumas semelhanças culturais entre o povo da Baía e os angolanos, realçando que a recepção calorosa e carinho são matrizes que fazem parte da génese da cultura africana, dentro e fora do continente.
Interacção entre artistas
Nesta edição, o festival, que decorreu de 9 a 11 do mês em curso, em três locais diferentes, procurou juntar cartoonistas de diferentes países e status, desde profissionais, promissores e aspirantes, com o objectivo de estimular o mercado cartoonista angolano com obras de artistas conceituados (nacional e internacionalmente), assim como impulsionar jovens promissores que buscam inspiração e experiência na interacção com cartoonistas renomados.
Segundo o director do Festiva, Lindomar de Sousa, a intenção era de criar um ambiente que permitisse a interacção entre os diferentes artistas convidados, permitindo a troca de experiências e ideias, bem como suas visões sobre a realidade e os desafios da banda desenhada no mercado angolano.
“Procuramos trazer, nesta edição, uma mistura de artistas já conceituados, nacionais e internacionais, e artistas mais novos que estão a dar os primeiros passos nesta arte”, disse o responsável.
Lindomar salientou que o propósito do festival é, sobretudo, fazer com que os mais novos na arte se sintam inspirados ou impulsionados a acreditar no seu potencial artístico para dinamizar o mercado nacional.
Nzaou Costa, um dos artistas nacionais que participou pela primeira vez do festival, considerou positiva a iniciativa de interacção entre artistas de diferentes geografias e status no mercado, acrescentando que “essa dinâmica ajuda a ampliar a visão do artista e adquirir novas experiências e conhecimentos sobre a arte”.
Pequeninos esperançosos no futuro brilhante
Com duas obras patentes na exposição colectiva, Nádia Sebastião, de 10 anos de idade, mostrou-se entusiasmada e orgulhosa por ver os seus trabalhos a serem apreciados pelo público enquanto ela explicava a mensagem “omitida” por trás do desenho. A pequena, que é aluna do Estúdio Olindomar, não escondeu a tamanha alegria e disse que sonha em ser uma artista conceituada no futuro.
“Ao ver o meu trabalho exposto no festival, sinto-me feliz, sinto que o meu esforço tem valor e assim me motiva a continuar a dar asas ao meu sonho de ser uma artista respeitada, futuramente”, expressou.
Também com duas obras expostas, a dupla Márcio Mendes e Samuel Filas (16 e 17 anos de idade) mostraram-se igualmente gratificantes, por verem seus trabalhos exibidos na colecção, e reiteraram que pretendem ajudar a sociedade angolana a dar o devido valor ao cartoon, especialmente no processo de educação das crianças.
De realçar que a vigésima edição do “Festival Luanda Cartoon” decorreu em três locais diferentes, no Centro Cultural Português-Camões, no Belas Shopping e no Espaço Cultural da Centralidade do Kilamba.
De acordo com dados da organização, participaram da presente edição mais de 30 artistas, sendo 28 angolanos, dois brasileiros, três congoleses e um português. E foram expostas mais de 50 obras, entre individuais e colectivas.