O Serviço de Investigação Criminal (SIC) em Cabinda regista entre quatro e cinco casos de burla por semana, envolvendo jovens cuja faixa etária varia entre os 18 e os 35 anos de idade, revelou o inspector-chefe de investigação criminal, Dilson Pipas
O porta-voz do SIC local disse que os burladores dedicam-se à clonagem e troca de cartões de crédito (multicaixas) nos ATM’s, passando-se por pessoas de boa-fé, com o intuito de ajudar e, “com vários cartões de crédito de bancos diferentes na mão ou no bolso, defraudam aqueles que têm interesse de ver o seu problema resolvido”.
A maior parte das burlas nos ATM’s, de acordo com a fonte, ocorre sobretudo nos fins-de- semana, entre os dias 20 e 31 de cada mês, quando se verificam os pagamentos dos ordenados, referiu o oficial do SIC, denunciando que “muitas daquelas filas e enchentes nos ATM’s são filas falsas”.
Segundo o inspector-chefe Dilson Pipas, através de falsos perfis, os “káites”, como vulgarmente são chamados esses burladores, anunciam também a venda de bens e serviços, prometem empregos, propõem trocas de valores monetários, bem como expõem imagens íntimas de pessoas, as quais vão fazendo chantagens e ameaças de publicação para obterem contrapartidas financeiras.
Fazendo um resumo sobre a evolução de tais crimes, disse que antigamente as burlas em Cabinda eram de “baixa intensidade”, envolvendo apenas a troca de alguns produtos, a que chamou de “mercúrio”, através da qual as vítimas eram aliciadas a fazer um “bom negócio”, ao fazerem chegar o produto no campo petrolífero de Malongo, com o intuito de receberem em troca avultadas somas em dinheiro.
Em contrapartida, a vítima era obrigado a despender um certo valor para que um suposto engenheiro pudesse receber o produto que, infelizmente, a vítima, depois de efectuar o pagamento, perdia o contacto com o infractor e, só daí, dava conta de ter caído nas artimanhas de uma rede de burladores, e o “produto valioso” não passava de água e areia.
Depois do SIC dar conta dessas acções e intensificado micro- operações para combater o fenómeno, os infractores mudaram de estratégias e passaram para actos de burlas através da venda de terrenos, de vacinas ou produtos usados para procriação rápida do gado bovino, suíno e caprino, bem como estenderam as suas acções na venda de açúcar falso e sementes para a produção rápida de peixes.
Em sede de combate às burlas, nas suas mais variadas formas, o SIC tem desenvolvido acções investigativas a todo tempo, com vista a dar resposta a esses ilícitos, razão pela qual os seus efectivos têm estado atentos a essas práticas, estando posicionados da melhor forma, segundo a fonte.
Detidos mais de 100 supostos burladores em seis meses
Anunciou que o SIC em Cabinda deteve, no primeiro semestre do corrente ano, mais de 100 pessoas, com idades compreendidas entre os 18 e 35 anos, implicados em 55 crimes de burlas, dos quais 46 foram esclarecidos pelo referido órgão.
Sendo que a maior rede de falsificadores de perfis foi desmantelada no ano passado, no mercado de São Pedro, onde os mesmos cobravam 100 kwanzas por cada serviço prestado.
Questionado sobre pessoas envolvidas em casos de burlas detidas e que são soltas em pouco tempo e vistas a passear na urbe, o inspector-chefe Dilson Pipas esclareceu que constitui tarefas dos órgãos de defesa e segurança e ordem interna apurar quem está implicado em algum acto ilícito e depois submeter à apreciação do agente do Ministério Público, como titular da acção penal, que a ele cabe desenvolver outros passos para a aplicação das devidas providências.
O Ministério do Interior, referiu, faz o seu trabalho naquilo que é o esclarecimento, a detenção e a recuperação dos bens adquiridos por meio do valor defraudado.
Burocracia bancária dificulta recuperar valores burlados
Segundo Dilson Pipas, torna-se difícil recuperar a tempo os valores defraudados por via dos serviços bancários, na medida em que existe alguma burocracia por parte das instituições bancárias, no que toca ao tratamento dessas questões.
Como agentes do serviço de investigação, defendeu, somos apologistas que o cidadão que proceder à abertura de uma conta bancária tem direito de ordenar o seu fecho quando suspeita de uma acção ilícita.
“O agente bancário muitas vezes, desconhecendo as próprias normas ou ignorando, orienta ao lesado que vá primeiro ao SIC para fazer queixa. Esse processo dá tempo para que o burlador transfira o dinheiro de uma conta para a outra e muitos deles (funcionários bancários) não têm aquela compaixão de estancar esse acto”, frisou.
Ressaltou que a delegação provincial do Ministério do Interior reúne-se, às vezes, com os operadores bancários no sentido de alertar e ver onde está a fragilidade, porque “devemos nos solidarizar com o nosso próximo, pois hoje é ele e amanhã podemos ser nós”.
Para tal, adiantou que existem orientações precisas no sentido de destacar oficiais operativos para atender algumas instituições bancárias e para coordenar directamente com o Banco Nacional de Angola (BNA), estando, assim, os órgãos a trabalhar em sintonia para estancar esses actos de burlas.
Crimes cibernéticos
Para o porta-voz da Polícia Nacional em Cabinda, intendente Marcos Cochito, os crimes cibernéticos são muito complexos de serem esclarecidos, por isso, os burladores encontram algum espaço para continuar na prática desse tipo de acções, já que o valor furtado, às vezes, se converte em bens comprados, como electrodomésticos e viaturas, por via de transferências bancárias.
“O assunto é conjuntural e é preciso concorrerem várias instituições para que tenhamos sucesso no combate a essas práticas”, sublinhou.
Garantiu que o SIC e a PN, por via do Departamento de Investigação e Ilícitos Penais (DIIP), trabalham em paralelo para o combate dessas práticas, assim como têm sido levadas a cabo acções de prevenção e aconselhamento às pessoas, no sentido de não caírem nessas artimanhas. Marcos Cochito apelou à população a colaborar com os órgãos afins, denunciando os casos de burla que chegam ao seu conhecimento.
De acordo com o oficial da PN, as pessoas só aparecem nos piquetes depois de serem vítimas dessas burlas.
“As pessoas não são proactivas e não vão ao encontro das autoridades para apresentar as situações, de modo a ajudar a polícia a fazer o seu trabalho. Se há um indivíduo conhecido e que terá burlado alguém e estar a fazer gastos deve ser denunciado para que os órgãos afins tomem as devidas medidas”.
POR:Alberto Coelho, em Cabinda