Nas fases mais críticas da seca no Sul do país, não havia dias em que não nos sentíssemos condoídos com o cenário que nos era apresentado. Homens e animais lutavam todos os dias por um bocado de água para matar a sede.
Alguns deles não conseguiram sobreviver, assim como milhares de cabeça de gado, uma das maiores riquezas das famílias na parte Sul do país. Lembro-me, tristemente, de duas reportagens feitas pelo jornal OPAÍS sobre o dilema por que passavam os cidadãos das províncias afectadas pela seca.
Numa, a primeira por sinal, se poderia ver homens e animais bebendo água imprópria para consumo numa velha chimpaca ou vala. Uma imagem capaz de fazer verter lágrimas aos mais sensíveis.
A outra reportagem, já nos últimos tempos, trazia uma senhora que viu morrer três filhos durante a seca, mas hoje, graças ao Canal do Cafu, construído no âmbito das acções para conter o mal, consegue produzir hortaliças, legumes e tem água mais do que abundante para o gado que cria nas redondezas da obra.
A fase de bonança não apaga as memórias tristes das piores fases da seca. Período este em que perdeu os filhos e hoje, com condições para alimentá-los e matar a sede destes, não conseguirá, por não terem resistido à severidade do fenómeno natural.
Depois de enormes estragos feitos em termos materiais e humanos, a seca no Sul do país vai-se mostrando ultrapassada, fruto dos enormes investimentos feitos pelo Executivo para que não volte a ocorrer levando consigo pais, mães, filhos e outros parentes que constituem a esperança para o país.
Os benefícios do Canal do Cafu, hoje uma realidade para aqueles que se encontravam cépticos, são vários, havendo até cidadãos de outras províncias que se vão instalando também ao redor da conduta para exercerem a agricultura, uma vez que aquelas terras são, na actualidade, dos poucos espaços com água ininterrupta.
Em breve, o Sul do país deverá receber as barragens do Ndue e Calucuve, dois projectos em curso que vão aliviar ainda mais os problemas hídricos que se vive na região. Aos poucos, tal como preconizou o Executivo do Presidente João Lourenço, se busca de uma vez por todas travar o sofrimento a que estavam submetidos os habitantes e os seus animais.
Sabe-se de antemão que as secas são fenómenos naturais, muitas vezes associadas às intervenções desregradas do homem na natureza. Porém, os seus efeitos podem sempre ser acautelados, como se vai vendo agora em Angola em diversos pontos.