Nos últimos anos, Angola tem testemunhado um aumento significativo no número de jovens licenciados pelas suas universidades. No entanto, esta crescente qualificação académica não se traduz em oportunidades de emprego proporcionais. Este desajuste entre a formação e o mercado de trabalho tem criado uma realidade paradoxal e frustrante para muitos jovens angolanos.
A promessa de um futuro brilhante pós-universidade revela-se, na prática, uma ilusão para muitos.
Requisitos Irrealistas e Excludentes
Um dos principais obstáculos enfrentados pelos jovens na procura de emprego são os requisitos de contratação.
Para muitas posições, as empresas exigem anos de experiência profissional, mesmo para funções de entrada. Este requisito cria um ciclo vicioso: os jovens não podem adquirir experiência sem um emprego, e não podem conseguir um emprego sem experiência.
Além disso, outras exigências, como idade superior a 40 anos, posse de viatura própria, carta de condução e fluência em várias línguas estrangeiras, são frequentemente mencionadas.
Estes critérios são particularmente prejudiciais para os jovens que vêm de famílias humildes, cujos pais fizeram sacrifícios imensos para garantir a sua educação.
Entrevistas de Emprego: Uma Montanha de Desafios
Quando finalmente são convocados para uma entrevista, os jovens angolanos enfrentam uma série de desafios adicionais.
A falta de experiência é frequentemente utilizada como uma justificação para a não contratação, mesmo quando os candidatos possuem diplomas universitários. Por outro lado, aqueles com experiência prática, mas sem um diploma formal, são desqualificados por não terem a formação académica exigida. Além disso, factores como idade, sexo e estado civil são muitas vezes considerados, levando a uma discriminação que nada tem a ver com as competências e a capacidade do candidato.
A Diversidade de Barreiras
As barreiras ao emprego não se limitam aos requisitos e à discriminação directa durante o processo de recrutamento. As ligações políticas e as lealdades partidárias desempenham um papel significativo.
Ser membro ou não de um partido político pode influenciar a empregabilidade, tal como pertencer a determinadas etnias com fortes tradições históricas. A religiosidade, ou a falta dela, a aparência física, a inteligência percebida e até mesmo a vaidade são factores que podem afectar as oportunidades de emprego.
Para ilustrar, podemos considerar os seguintes exemplos:
Ser filho de camponês: Os jovens de zonas rurais enfrentam discriminação devido ao preconceito de que são menos sofisticados ou menos preparados para os desafios do mundo corporativo.
Ser partidário ou apartidário: A afiliação política pode abrir ou fechar portas. Os jovens que não se alinham com o partido dominante podem ver as suas oportunidades de emprego significativamente reduzidas.
Aparência física e vaidade:
Os estereótipos de beleza e a valorização excessiva da aparência física podem favorecer uns e prejudicar outros, criando um ambiente de trabalho superficial e discriminatório.
As Consequências Sociais e Económicas
O desemprego juvenil tem sérias implicações para a sociedade angolana. A falta de oportunidades de emprego leva a um desperdício de talento e potencial humano, resultando em frustração e desilusão entre os jovens.
Este sentimento de desesperança pode contribuir para a instabilidade social, aumento da criminalidade e problemas de saúde mental.
Além disso, a economia sofre com a subutilização de uma força de trabalho qualificada e motivada, o que impede o crescimento e desenvolvimento sustentável do país.
Reformar o Mercado de Trabalho
Para resolver estes problemas, é necessário implementar reformas significativas no mercado de trabalho angolano. As políticas de recrutamento devem ser baseadas em mérito e competência, e não em critérios arbitrários e discriminatórios.
Os processos de selecção devem ser transparentes e justos, garantindo que todos os candidatos tenham oportunidades iguais. Além disso, o governo e as empresas devem investir em programas de estágio e formação profissional para ajudar os jovens a adquirir a experiência necessária.
Estas iniciativas podem incluir parcerias com universidades e instituições de ensino para garantir que os currículos académicos estejam alinhados com as necessidades do mercado de trabalho. Políticas Públicas e Incentivos O governo angolano também deve adoptar políticas públicas que incentivem a criação de empregos e a inclusão de jovens no mercado de trabalho.
Programas de apoio a pequenas e médias empresas, incentivos
fiscais para empresas que contratem jovens e investimentos em sectores emergentes podem criar novas oportunidades de emprego. Além disso, é crucial promover a igualdade de género e combater a discriminação no local de trabalho, garantindo que todos, independentemente do seu sexo, tenham acesso às mesmas oportunidades. Um Apelo à Justiça e Igualdade
A juventude angolana merece mais do que falsas promessas. Merece um sistema que valorize o seu esforço e talento, proporcionando oportunidades reais de crescimento e desenvolvimento profissional.
A construção de uma Angola mais justa e próspera passa pela criação de um ambiente de trabalho inclusivo e equitativo, onde o mérito e a competência sejam os únicos critérios de selecção.
Um Apelo ao Executivo
Por este motivo, apelamos ao Executivo que faça um esforço conjunto para criar leis e políticas que promovam a inclusão e a equidade no mercado de trabalho. É essencial que as autoridades reconheçam as dificuldades enfrentadas pelos jovens e implementem medidas concretas para superá-las.
Estas podem incluir a revisão dos critérios de recrutamento, a criação de programas de apoio à inserção profissional e a promoção de um ambiente de trabalho mais justo e inclusivo.
Além disso, é fundamental que o governo incentive as empresas a adoptarem práticas de contratação mais justas e transparentes. A criação de incentivos fiscais e outras formas de apoio às empresas que contratem jovens pode ser uma medida eficaz para aumentar a empregabilidade juvenil.
Conclusão
Em suma, as “1000 formas de desemprego em Angola” reflectem um sistema de recrutamento e um mercado de trabalho profundamente falhos e injustos. Os jovens angolanos enfrentam uma série de barreiras desnecessárias e discriminatórias que impedem a sua integração no mercado de trabalho.
Para resolver este problema, é necessário implementar reformas profundas e abrangentes que promovam a justiça, a igualdade e a valorização do mérito. Só assim poderemos garantir um futuro melhor para a juventude angolana e para o país como um todo.
A juventude angolana não é apenas o futuro do país; é o presente. As suas aspirações, sonhos e capacidades precisam de ser reconhecidos e valorizados. Chegou a hora de Angola apostar na sua juventude, garantindo que todos tenham a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento e prosperidade do país. Chegou a hora de acabar com as “1000 formas de desemprego” e criar um mercado de trabalho justo e inclusivo para todos.
Por: RIBAPTISTA