Nos últimos anos, Angola tem testemunhado um avanço significativo em sua infra-estrutura de saúde, com a inauguração de novos hospitais destinados a elevar os padrões de atendimento médico em diversas regiões do país.
Entretanto, a recente decisão de fechar a Universidade Agostinho Neto, especialmente sua Faculdade de Medicina, uma instituição histórica e essencial na formação de profissionais de saúde, suscita questões críticas sobre o futuro da saúde em Angola.
A Universidade Agostinho Neto desempenhou um papel crucial na formação de médicos e especialistas ao longo das décadas. Esta instituição não apenas formou milhares de profissionais que actuam em todo o país, mas também contribuiu para a pesquisa e o desenvolvimento de práticas médicas adequadas às necessidades específicas de Angola.
O seu fechamento não representa apenas a perda de uma instituição educacional; é o esvaziamento de uma fonte vital de conhecimento e formação profissional.
A ausência de um local de ensino dedicado à medicina pode criar um vácuo que será difícil de preencher e comprometerá a continuidade e a qualidade da formação médica.
O dilema é claro: enquanto o país investe na construção de novos hospitais, o fechamento de uma universidade com um histórico de excelência na formação de profissionais de saúde levanta sérias questões sobre a adequação dessa expansão.
Para que esses novos hospitais possam operar de maneira eficaz, é crucial que haja uma continuidade na formação de técnicos e especialistas capacitados para utilizar e gerir adequadamente os equipamentos e serviços oferecidos.
Sem uma base sólida de profissionais qualificados, a inauguração de hospitais pode se transformar em um esforço fútil, onde a infra-estrutura avançada não é acompanhada por uma equipa capaz de utilizála plenamente.
Além disso, o fechamento da Faculdade de Medicina pode afectar negativamente a pesquisa e a inovação no sector de saúde. Instituições académicas desempenham um papel fundamental na promoção da pesquisa científica e na formação de novos conhecimentos que são essenciais para a evolução das práticas médicas.
A ausência de uma universidade estatal dedicada à medicina pode resultar em um retrocesso na capacidade do país de desenvolver novas abordagens e soluções para os desafios de saúde.
Para que a expansão da infra-estrutura hospitalar seja realmente eficaz, deve haver uma estratégia integrada que considere tanto a construção de novas instalações quanto o fortalecimento das instituições de ensino.
Em vez de encerrar a Faculdade de Medicina, seria mais proveitoso modernizar e expandir seus programas, garantindo que os futuros profissionais de saúde estejam bem preparados para enfrentar os desafios do sector.
O investimento em educação e formação deve ser visto como uma parte essencial do desenvolvimento da infra-estrutura de saúde, e não como um esforço separado.
A integração entre a educação e a prática hospitalar deve ser promovida, criando parcerias entre instituições académicas e hospitais que garantam a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos na universidade.
A formação teórica deve ser complementada com experiências práticas, assegurando que os profissionais formados sejam capazes de atender às demandas dos novos hospitais com competência e excelência.
Programas de estágio e treinamentos em ambientes hospitalares são cruciais para preparar os estudantes para a realidade do campo de trabalho. Além disso, a colaboração entre o governo, as instituições académicas e as organizações de saúde é fundamental para garantir que as políticas de saúde sejam bem planeadas e executadas.
O desenvolvimento de um sistema de saúde robusto e sustentável requer um esforço conjunto que considere todas as dimensões da saúde pública, desde a formação de profissionais até a gestão de infra-estrutura e a inovação tecnológica.
O futuro da saúde em Angola deve ser construído sobre uma base sólida que inclua tanto a expansão da infra-estrutura quanto o fortalecimento das instituições de ensino.
A Universidade Agostinho Neto representa um legado de conhecimento e experiência que não deve ser desconsiderado. É hora de repensar as estratégias e garantir que os avanços na infra-estrutura hospitalar estejam alinhados com o desenvolvimento contínuo de uma força de trabalho altamente qualificada.
Somente através de uma abordagem integrada é que conseguiremos oferecer um sistema de saúde robusto e sustentável para todos os angolanos, garantindo que os investimentos em hospitais sejam acompanhados pelo fortalecimento da formação e pesquisa em saúde.
Por: RIBAPTISTA