O alembamento é a manifestação cultural que é utilizada, quando o objectivo é união conjugal, ou seja, quando dois indivíduos (homem e mulher) se sentem atraídos ou coagidos e decidem ou a família decide que a situação já não só cabe a eles, os jovens, cabendo de inteira responsabilidade aos mais velhos, como em kimbundu se diz “anandenge aya mwu suku, adikime enda mulwanya”, quer dizer, “onde os jovens vão no período da noite, os mais velhos vão no período da manhã”.
A palavra alembamento, fruto do empréstimo linguístico, que foi aportuguesada, tem raiz na língua kimbundu, significa pedir, oriundo do verbo kulemba, verbo do kimbundu, porém uma palavra híbrida, pelo facto da existência da raiz do kimbundu [lemba] e com marcas de dois afixos portugueses: o prefixo [a] e o sufixo [mento]. (JOÃO, 2022, 16).
Ambundu é um grupo etnolinguístico identificado pela língua kimbundu – como a primeira identidade de um povo. Ocupam as seguintes localizações geográficas (províncias) em Angola: Malanje, Kwanza-Norte, Bengo e Lwanda.
Como Ndombele (2014) diz: “Vizinhos imediatos dos Bakongo, a sul, entre os rios Dande e Kwanza, o grupo etnolinguístico espalha-se de Luanda até [quase] aos Lunda-Cokwe e confina ao sul com os ovimbundu.
Representando 26% da população”. Para esse povo, o casamento simboliza para o homem uyala e para as mulheres honra. O individuo que faz o alembamento a nível da família da mulher é compreendido como um grande homem (valente), já as mulheres respeitadas, valorizadas.
A realização do alembamento é de responsabilidade intrinsecamente ligada à figura do [dilemba] (tio) do homem, uma expressão com o mesmo radical [lemba], que é a pessoa ideal para realizar, apoiar, organizar.
Quer dizer, o indivíduo é tão-somente um participante, tudo cabe aos tios na realização do alembamento. Constituintes do Alembamento Cada ente dado no acto de alembamento é um simbolismo de vida matrimonial, vejamos: Phexi, makanya, dixikina, (Tabaku) – eram meios que davam indicadores que as tias, responsáveis pela educação da jovem, fossem gratificadas, isto é, o reconhecimento diante das tias.
Era o primeiro ente da procedência ao alembamento, como dar a cara à família da jovem. Ngalalá (Kapohoto) – um indicador do estado da mulher no que à pureza ou não da mulher.
A abertura ou o selamento da garrafa dava a entender, diante das tias, a pureza da mulher; se o garrafão estivesse fechado, a mulher era pura (virgem) e se não estivesse, a mulher já não era pura (virgem). Milele, mitondu – peças de pano que eram entregues à mãe da jovem, como forma de gratidão quanto à presença da jovem no mundo.
Ngombe ni hombo – o cerne do alembamento, pedir a mão de uma mulher era com um animal, com precisão a vaca e a cabra. Com a entrega desses animais em troca de uma mulher, daí ela tinha de ser assaz submissa diante do seu homem.
Dixisa – último processo, no qual a mulher pedida ficava com as tias num luando, onde eram transmitidos os ensinamentos de ser uma boa mulher, lá aprendia degolar um animal, tratar, cozinhar, para o mantimento do seu marido e, também, um capital cultural que era partilhado com a função de retransmitir às próximas gerações.
Por: ADILSON FERNANDO
*Professor