A coordenadora do projecto Salve as Adolescentes, Meninas, Órfãos e Vulneráveis da Comunidade Rural do Ramiro, Eulária Juliana, revelou, ontem, ao OPAÍS que a sua congregação vai construir, no Ramiro, município de Belas, em Luanda, um internato feminino, para albergar as adolescentes desfavorecidas, de modo a orientá-las para a vida, através de uma formação integral dirigida.
“Como o nosso foco está mais para as comunidades da periferia, escolhemos a do Ramiro, por causa do pedido de muitas famílias, que, durante as nossas acções missionárias, confessavam não ter capacidade e oportunidade de inscreverem os seus filhos nas escolas e muito menos de lhes proporcionar cursos profissionais”, contou a Irmã Eulária, como é conhecida a nível religioso, tendo adiantado que a localização vai facilitar a absorção de infanto-juvenis de outras zonas adjacentes com os mesmos problemas.
Segundo a freira, que disse ter ouvido, repetidas vezes, das mães e encarregadas de educação abordadas que a escola e o hospital estão longe das suas capacidades, o internato feminino que se predispõem a erguer, nessa zona litoral de Luanda, vai contemplar uma escola do ensino primário e secundário, com ofertas de cursos técnico-profissionais, com destaque para os das áreas de saúde.
Aliás, as missionárias do Santíssimo Salvador projectam, igualmente, integrar, na referida infra-estrutura, um centro médico que possa evoluir para um hospital de referência, na área.
“A experiência na assistência dessa franja na sociedade levou- nos a pensar num acompanhamento mais alargado, porque, até agora, limitamo-nos a formar e acompanhar as meninas até ter- minarem a 9.ª classe.
Quando as largamos para as famílias ou para outros centros, muitas delas voltam já com alguns problemas, como gravidez ou interrupção da formação académica”, realçou a freira, tendo considerado que, dessa forma, o trabalho feito ficava a meio das metas preconizadas.
A escolha da comunidade do Ramiro justifica-se também pelo facto de se estar a tornar numa zona de alguma desatenção e de fáceis tentações, que estão a induzir muitas adolescentes ao lucro fácil e à prostituição, motivadas, na maioria das vezes, por viajantes, com destaque aos camionistas, que fazem do sítio a sua paragem obrigatória para comes-e-bebes.
Segundo a irmã, por viverem de forma carente e, muitas vezes, serem as próprias adolescentes a trabalharem nas cozinhas e bares dessa localidade, entende-se a vulnerabilidade.
Apesar da guarida e acções dirigidas às adolescentes, quando instituídas no Ramiro, as madres vão desenvolver projectos de apoio pontual que contemplem outras classes vulneráveis, como a assistência alimentar, médico- medicamentosa a crianças, idosos e outro pessoal carenciado.
“Normalmente, o que tem deter- minado o andamento dessas acções filantrópicas é o surgimento de alguns apoios, porque sozinhas não conseguimos tudo”, disse a freira.
Confiança assegurada na congregação
Muito recentemente, a comunidade do Ramiro viveu um desfecho triste que envolvia supostas missionárias que se predispuseram, inicialmente, a cuidar de algumas crianças, mas que, no final, se verificaram teoricamente destratadas.
Por causa disso, a Irmã Eulária fez alusão de que a sua congregação tem um nome a defender no que ao cuidado de crianças diz respeito.
“Muita gente nos conhece e conhece o nosso trabalho. São testemunhas das acções que, há muito tempo, vimos levando a cabo no Abrigo de Benguela, na Casa dos Pequenos do Huambo e no Lar Feminino da rua da Samba, aqui em Luanda.
Por isso, podem ficar descansados, quanto à segurança das adolescentes”, garantiu a madre Eulária Juliana.