É comum os cidadãos apontarem o dedo aos dirigentes, sobretudo governantes, acusando-os de não escutarem as suas opiniões. Em épocas de crises, em que proliferam em todos os campos opinion-makers e especialistas de várias áreas, aumentam ainda mais estas afirmações de supostas insensibilidades. Na era das redes digitais, é o mais comum a apreciar.
Todos os dias, surgem assuntos, alguns mais graves, outros confirmados, uns tantos apócrifos, mas, ainda assim, há quem esteja do outro lado aguardando por alguma explicação. Mesmo que o facto seja uma falsidade, há quem aguarda por alguma explicação.
Há duas semanas, salvo erro, circulou pelas redes sociais um vídeo em que uma turista e cidadã brasileira desancando, fortemente, os efectivos da Polícia Nacional que encontrara no trajecto entre Luanda e Malanje, onde visitou as conhecidas Quedas de Calandula.
Ao longo do percurso, segundo o desabafo, o motorista que conduzia a viatura em que se encontrava foi inúmeras vezes interpelado pelos vários postos de controlo criados pela corporação. Segundo a autora do vídeo, em quase todos os postos, os efectivos da Polícia procuravam sempre um argumento para tentar sacar alguma coisa do automobilista.
Na verdade, o que foi relatado não se trata de nada anormal. Aliás, dias antes da publicação e circulação do vídeo da turista, já alguns órgãos de comunicação social haviam noticiado o facto de automobilistas e associações de camionistas, por conta do eleva- do número de postos de controlo ao longo das estradas nacionais e até mesmo em algumas secundárias.
Porém, numa fase em que se quer ter o turismo como bandeira e uma das vias para a diversificação da economia, não é de espantar que o vídeo da turista brasileira tenha criado mossa. Houve mesmo, sobretudo entre os cépticos das acções que vão sendo desenvolvidas pelo Executivo, aqueles que pressagiavam que tal desabafo venha a inibir todos os outros cidadãos estrangeiros que pretendam conhecer o país e as suas maravilhas.
Mais do que os possíveis estragos, o que se aguar- davam eram as soluções para que não venhamos a ter, proximamente, outros vídeos ou áudios com o mesmo teor, desencorajando as pessoas e minando o esforço do Executivo para que as pessoas tenham no turismo em Angola uma verdadeira opção, uma fonte de sustento para os operadores, funcionários e suas famílias, assim como o próprio Estado, através dos impostos.
Felizmente, há dias, vi imagens de um encontro entre os ministros do Turismo, Márcio Daniel, e do Interior, Eugénio Laborinho. E veio-se a saber que as questões migratórias que visem facilitar a vida dos turistas em Angola estiveram sobre a mesa.
E não foi em vão que, dias depois, as autoridades mandaram retirar os vários postos de controlo municipais, deixando somente os interprovinciais para facilitar a circulação de pessoas e bens.