Um dos maiores e mais marcantes milagres da multiplicação terá ocorrido quando Cristo, segundo os cristãos, com um pão e alguns peixes conseguiu alimentar dezenas ou centenas de pessoas que tinham fome e outros sede.
Nos dias que correm, com os preços da cesta básica em alta, muitas têm sido as interrogações de vários cidadãos como poderão sobreviver com os sacos de arroz, açúcar, feijão e outros produtos ainda caros, cifrando-se em valores que até aos mais modestos acaba por ameaçar.
Por mais esperanças que se depositem na economia do barco, isto é, baseado na importação dos principais produtos, a solução de Angola passa única e exclusivamente pelo incremento da sua produção. Dizer o contrário, embora seja uma tarefa hercúlea, seria atirar areia debaixo da ponte.
Como sobreviver a estes tempos difíceis é um capítulo que se vai desenrolando. Já se sabe que há um novo salário mínimo na forja, mas, nem por isso, alguns irão se desarmar, porque se acredita que o leque de inconformados naturais irão prevalecer.
Mas, ainda assim, embora não tenham o mesmo dom de Cristo, existem autênticos heróis nesta Angola que, com o pouco, vão fazendo milagres.
São realidades que para muitos citadinos podem representar pouco, mas para as comunidades em que estão inseridos fazem toda a diferença.
Houve muito cepticismo quando se lançou o programa de transferências financeiras Kwenda pelo país, apesar de contar com o apoio do Banco Mundial, uma instituição credível e porta de entrada para capital e até referências que acabam por convencer muitos investidores.
Ao longo dos seus anos de implementação, são várias as famílias que já se beneficiaram e cada um dela carrega consigo uma história por contar sobre a aplicação daquilo que recebem.
Cada um a seu jeito, perto das grandes cidades ou da periferia, vai procurando tentar multiplicar o pouco através de acções na agricultura, comércio, pesca e até mesmo na criação de projectos que possam ajudar outros cidadãos.
Não há dúvidas de que o dinheiro que recebem, hoje cifrado em pouco menos do mínimo de que muitos dizem precisar, mas isso não tem feito com que se cruze os braços.
Há dias, através da RNA, ouvi o caso de uma senhora que diz ter criado uma moageira para acudir as populações do seu município na Lunda-Norte.
Antes, há já alguns meses, fui surpreendido com o facto de outro cidadão no N’zeto, aqui pertinho de Luanda, ter feito uma pequena padaria – que se acredita rudimental, se calhar – onde também faz pão para a comunidade em que habita e os comercializa.
Longe dos projectos megalômanos que conhecemos, existem centenas ou milhares de pessoas que precisam apenas do mínimo para transformarem as suas vidas.
Talvez, alguns dos fundos aplicados em projectos megalômanos teriam uma maior e melhor aplicabilidade se estivessem nas mãos daqueles que com pouco conseguem reverter a vida precária em muitos pontos deste país.