A cerimónia fúnebre teve lugar no Velório Provincial de Luanda, situado junto ao referido cemitério, e contou com a presença do governador de Luanda, Manuel Homem, ladeado pelo vice-governador provincial para o sector Político e Social, Manuel António Gonçalves, e pela directora provincial da cultura, Teresa Tatiana de Morais Mbuta.
Durante a cerimónia fúnebre, que durou cerca de duas horas, precedida da missa de corpo presente no interior do velório do respectivo velório, governantes, artistas, fazedores culturais, actores sociais e individualidades da sociedade civil prestaram homenagem ao malogrado, fazendo vénias à urna e endereçando palavras de conforto e consolo à família enlutada.
Acompanhado dos seus auxiliares, Manuel Homem prestou também a sua homenagem à memória daquele que é considerado um dos grandes revolucionários do carnaval de Luanda que, de forma exemplar e resiliente, soube dirigir os passos de um histórico grupo carnavalesco à altura do União Mundo da Ilha.
Apesar de não ter proferido qualquer discurso, Manuel Homem mostrou-se solidário com a família do malogrado, a quem dirigiu palavras de conforto e os encorajou a continuar a caminhada, honrando o legado deixado por Tio Mano, como era carinhosamente chamado.
Actores culturais inconformados com a perda
Presentes no cortejo fúnebre, vários artistas e actores culturais mostraram-se inconformados com a partida de António Custódio, considerando que o líder de um dos mais antigos grupos carnavalescos de Angola ainda tinha muito para dar em prol da cultura nacional.
Para o secretário-geral da Associação Provincial do Carnaval de Luanda (APROCAL), António de Oliveira “Delon”, a morte de António Custódio constitui uma perda irreparável, não apenas para o carnaval, como para a cultura em geral.
Delon destacou o importante contributo de Tio Mano para o engrandecimento do carnaval de Luanda e sublinhou que os seus feitos serão sempre lembrados por todos os intervenientes das festas carnavalescas.
“Foi um golpe muito duro para nós a perda de António Custódio, o nosso Tio Mano. Tendo em conta aquilo que ele trouxe para o nosso carnaval, trazendo a inovação, da tradição à modernidade, é, com certeza, uma perda irreparável para todos nós, para a cultura angolana”, considerou Delon.
Também presente na cerimónia, Maneco Vieira Diais, presidente da comissão da carteira profissional do artista, afirmou que o trabalho de António Custódio transcendia o União Mundo da Ilha, era transversal a outros grupos carnavalescos e servia de guia e exemplo para aqueles que ousadamente abraçavam a inovação, sem perder a identidade tradicional.
“O Mano já transcendia o União Mundo da Ilha, ele era culturalmente integrativo, então não podemos limitar os seus feitos ao Mundo da Ilha, temos que agradecer o seu contributo e dar segmento ao trabalho para manter vivo o seu legado”, frisou.
Colegas e adversários reconhecem o vazio deixado
Polly Rocha, presidente do grupo carnavalesco Recreativo do Kilamba, disse que a morte de António Custódio deixa um vazio no carnaval de Luanda difícil de ser preenchido, mas reiterou que o caminho é para frente e que os ensinamentos de Mano devem servir de imput para aqueles que ficaram e têm a responsabilidade de dar continuidade ao seu legado.
O líder do grupo vencedor da última edição do Carnaval de Luanda, disputado em Fevereiro do corrente ano, prestou o apoio e solidariedade e destacou a necessidade de maior união e fraternidade entre os grupos carnavalescos.
“Independentemente de sermos adversários, somos todos unidos pelo espírito do carnaval, bebemos desta emoção e, por isso, viemos prestar o nosso apoio e solidariedade, porque é o carnaval que está em luto”, disse Polly, enquanto orientava o seu conjunto para se juntar ao União Mundo da Ilha no desfile de despedida ao Tio Mano.
Quem também se mostrou abatido com o passamento físico de António Custódio foi o instrumentista Jorge Mulumba que afirmou que o carnaval de Luanda perde um dos seus maiores competidores e impulsionadores, destacando a figura inovadora de Custódio enquanto líder e actor cultural.
“Eu acho que não perdeu apenas o União Mundo da Ilha, perdeu o carnaval de Luanda completo, porque António era uma pessoa que fazia toda a diferença no cenário carnavalesco, trazia sempre inovação, muita jovialidade e espírito competitivo aos desfiles”, destacou.